Jean-Baptiste Tavernier (de 1605 a 1689) foi um dos viajantes mais conhecidos na Europa do século XVII. Filho de um protestante francês que havia fugido de Antuérpia para escapar da perseguição religiosa afirmou-se como comerciante de joias e nessa qualidade realizou seis viagens ao Oriente entre 1632 e 1668. Entre os países que visitou (a maioria mais de uma vez) estão os atuais Chipre, Malta, Turquia, Síria, Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia, Sri Lanka e Indonésia.
Em 1676 publicou em Paris as memórias dessas viagens no livro Les six voyages de Jean Baptiste Tavernier (As seis viagens de Jean Baptiste Tavernier), em dois volumes, com o título e subtítulo completos:
"Les six voyages de Jean Baptiste Tavernier, écuyer baron d’Aubonne, en Turquie, en Perse, et aux Indes, pendant l'espace de quarante ans, & par toutes les routes que l’on peut tenir: accompagnez d'observations particulieres sur la qualité, la religion, le gouvernement, les coûtumes & le commerce de chaque païs, avec les figures, le poids, & la valeur des monnoyes qui y ont cours.
"As seis viagens de Jean-Baptiste Tavernier, barão de Aubonne, pela Turquia e rumo à Pérsia e às Índias Orientais, ao longo de quarenta anos, e por todas as rotas possíveis, ilustradas com observações particulares quanto à qualidade, religião, governo, costumes e comércio de cada país, com imagens, peso e valor das moedas de cada um deles".
Num livro muito curioso, realço um excerto que prova em como já no século 17 Macau era visto como território de jogo e prazer... No relato da terceira viagem o autor conta a história de um "gentilhomme Ms. du Belloy", amante do jogo e do prazer, que viveu dois anos no território (por volta de 1650), depois de ter pedido licença (em Goa) para ali permanecer, facto que só sucedeu pelos serviços militares que fizera aos portugueses.
"Du Belloy souhaite qu'on le laissât aller à Macao, ce que luy fut accordé. Il avoit appris qu'une partie de la noblesse se retiroit en ce lieu-là après avoir beaucoup gaigné au négoce quélle recevoit assez bien les étrangers, qu'elle aimoit fort le jeu, ce qui estoit la plus forte passion de du Belloy."
“Du Belloy esperava que lhe fosse permitido ir até Macau, o que lhe foi concedido. Ficou sabendo que parte da nobreza ia ali com frequência depois de ter ganho muito com o comércio que os estrangeiros recebiam muito bem, que ele gostava muito de jogar, que era a paixão mais forte de du Belloy. "
Relatos da época contam que chegou a pedir dinheiro emprestado para poder jogar. Uma vez, depois de ganhar uma quantia elavada, em vez de pagar as dívidas voltou a apostar e perdeu tudo. Sem ter mais ninguém que lhe emprestasse dinheiro ficou enfurecido e praguejou junto a uma imagem católica. O facto valeu-lhe a prisão em Macau sendo enviado para Goa para ali ser julgado pelo Tribunal da Santa Inquisição, porque praguejara e invectivara uma imagem religiosa, atribuindo-lhe a causa do seu azar, quando, num dia de pouca sorte, perdia ao jogo. O seu azar viria no entanto a transformar-se em sorte, porquanto conseguiu evadir-se durante a viagem...
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