"Um entreposto comercial importantíssimo. Macau, a estância favorita de Camões, o caminho-de-ferro que nos convém." Com estas palavras começava Henrique Valdez, senador eleito por Macau, um longo texto na primeira página da edição do Diário de Notícias de 2 de Julho de 1920. No artigo de duas colunas intitulado "A Nossa Prosperidade está ao alcance da nossa mão. Não há colónias pequenas" defendia-se a necessidade de construir uma linha de comboio entre Macau e Cantão, a vizinha cidade já no lado da China continental.
"Franceses e ingleses apertam a corda que há de estrangular-nos. Cortá-la é questão de elementar bom senso", escrevia então Valdez argumentando que a obra tornaria o porto de Macau no principal entreposto comercial de todo o Extremo Oriente.
Henrique Valdez, membro do Leal Senado de Macau, defendia que aquela linha férrea era a condição para Macau escapar ao estrangulamento em que outras potências internacionais, Inglaterra e França, a queriam manter. O aviso de Valdez cairia em saco roto já que a obra nunca se fez. Embora chegasse a ser projectada várias vezes como se pode verificar no excerto (abaixo) de um mapa da década de 1920: "terreno reservado para o caminho de ferro"
Anos mais tarde, em 1938, outro artigo também publicado no Diário de Notícias voltaria a insistir na ideia de que a ligação férrea com Cantão faria do porto de Macau o mais importante do Extremo-Oriente. Curiosamente, hoje já é possível ir de TGV até Cantão, embarcando em Zhuhai, cidade localizada muito perto de Macau.
Henrique Lapa Travassos Valdez (1884-1953), bisneto do conde do Bonfim, foi oficial da Marinha (era marinheiro da canhoeira Macau e da Pátria) e prestou serviços nas Obras dos Portos.
Eleito Senador pelo Círculo de Macau através do Partido Reconstituinte (Partido Republicano da Reconstituição Nacional), juntamente com Anacleto da Silva.
Foi um dos maiores defensores dos ideais republicanos em Macau, sendo um dos fundadores no território do Centro Republicano Eleitoral em 1919. Constituído por maçons e republicanos este centro teve por principal objectivo a participação nas eleições camarárias de 1923.
Valdez saiu de Macau em 1925 e com a saída terminou o Centro Republicano. Foi destituído da Marinha no tempo do Estado Novo sendo mais tarde readmitido ao serviço da armada como 1.° tenente reformado.
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