sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A "Carreira do Oriente" da CNN

O Plano de Renovação da Marinha de Comércio, vulgo Despacho nº 100 do Governo de Portugal, com data de 10 de Agosto de 1945, assinado pelo Ministro da Marinha, Américo Thomaz, preconizava a construção de 70 novos navios em 10 anos, incluindo 9 paquetes. No final viriam a ser construídos 58. O Niassa foi o último a ser entregue a 10 de Agosto de 1955.
Entre esses estavam dois navios de passageiros e carga para uma nova linha que começou a ser operada em 1952 destinada a ligar Lisboa a Mormugão, Macau e Dili, a Carreira do Oriente, que a partir de 1962 passou a ser a linha do Extremo Oriente. Foram eles os então denominados navios 'gémeos', o "Índia" e o "Timor", construídos em Sunderland e entregues à CNN em 1951.
Acima imagens do Índia em 1951

Anúncio de 1925

Anúncio publicado no Diário de Lisboa em 1952

Criada em 1918, a CNN perdeu o monopólio das rotas para as colónias em 1922, após a criação da empresa concorrente, a Companhia Colonial de Navegação, com sede em Angola. 
Operada pela Companhia Nacional de Navegação a chamada "Carreira do Oriente" existiu entre 1952 e 1974. Foi sempre deficitária sendo os prejuízos cobertos parcialmente por subsídios do Estado. 


Anúncio de 1955: na imagem o "Moçambique"

O "Índia" e o "Timor"

O Índia foi vendido em 1971 e o Timor em 1974, ambos para a companhia Guan Guan Shipping de Singapura, tendo passado a chamar-se Kim Ann e Kim Hoch. A CNN seria extinta em 1985.

Anúncio publicado no Diário de Lisboa em Dezembro de 1957

A CNN chegou a ter maior frota de marinha mercante do país com nove unidades: o "N/T Príncipe Perfeito" (1961), o navio-almirante da frota, "Angola" (1948), "Moçambique" (1949), "Niassa" (1955), "Índia" (1951), "Timor" (1951), "Quanza" (1929), "Lúrio" (1950) e o "Zambézia" (1949).

Referência à "Carreira do Oriente" num folheto turístico da década 1950
Estes navios, bem como os da CCN, seriam várias vezes requisitados pelo Estado para transportar contingentes (e material) militares, para os antigos territórios portugueses em África e Extremo-Oriente. Isto, claro, para além do facto de muitos dos passageiros serem funcionários públicos cujas viagens eram custeadas pelo Estado português.

2 comentários:

  1. Nestes tempos cheios de novidades tecnológicas que, no dia seguinte ao seu aparecimento já estão obsoletas, é deveras interessante e motivo de interesse nas "coisas" do passado, ver aparecer à luz do dia estes dois "chaços".... Fiz a viagem de ida e volta para/de Macau em 1972 e 1974 no Timor. Entre outras eventuais particularidades, estes navios tinham duas hélices, o que fazia com que fossem os únicos navios a poderem atracar em Dili (Timor), devido à não existência de rebocador para, (às "cabeçadas", fazerem o navio acostar manobrando alternadamente as 2 hélices… Outra curiosidade, menos confortável, era o facto de não terem ar condicionado (só sistema de ventilação), pois tinham sido construídos para navegarem em climas frios, nem tinham reservatórios com capacidade suficiente para abastecerem os passageiros de água potável para percursos grandes (p.e. de Moçambique até Timor). Havia racionamento…
    Carlos Martins

    ResponderEliminar