"Cartas do Extremo Oriente" é da autoria de António de Santa Clara (militar nascido em 1902) e dedicado a João Pereira Barbosa "com admiração pela maneira como governou Macau".
A primeira edição é de 1938 tendo sido escrito em parceria com António Maria Pereira.
João Pereira Barbosa foi governador interino entre 4 de Janeiro e 24 de Dezembro de 1936, um mandato curto mas bastante atribulado, marcado pelas alterações ao comércio do ópio (já ilegal na maior parte do mundo menos em Macau o que só viria a ocorrer em 1946) e pelas relações com Pedro José Lobo.
Excerto:
“Eis o que se passou ontem. Lei Man, um amigo meu, encontro-me sentado a uma das mesas do «dancing». Sentou-se também e comunicou-me que desejava apresentar-me a uns amigos de Cantão que tinham grande interesse em conhecer o ajudante do governador.
Convinha um sítio recatado, fora das vistas do público. Lai Man, com a fisionomia mais calma do mundo – nunca o vi alterar-se – expôs ràpidamente a a natureza do negócio, sem deixar de olhar distraídamente os pares que dançavam, pelo meio da sala.
Os seus amigos eram capitalistas que tinham explorado o jôgo em Cantão; com a proibição de se continuar ali o negócio, vinham a Macau para aqui se estabelecerem. Queriam que o jôgo lhes fôsse dado sem ir à praça e ofereciam uma avultada renda. Saímos; e fomos ao tal sítio recatado onde nos esperavam. Uma viela estreita e uma casa sombria. era de facto o que Lei Man tinha dito. Ofereciam a renda de um milhão e oitocentos mil dolares anuais, depositavam a caução respectiva e dava-me duzentos mil dolares - e apenas duzentos mil… - se eu conseguisse, junto do Governador que o jôgo lhes fôsse imediatamente entregue, dispensando-se a praça, e perguntaram-me quanto pensava eu que deveriam oferecer ao Governador. A cêna foi apenas esta: nada mais lhe acrescentarei para a deixar aqui tôda a sua magnífica nudez.”
Sobre ASC e este seu livro:
“A viagem de um jovem oficial português de Marselha a Hong Kong em finais da década de 20 do século XX. Hóspede do governador de Hong Kong, Cecil Clementi, ruma a Macau e aí verte as primeiras considerações sobre as diferenças extremas que separam Oriente e Ocidente. Visitas a Hué e Saigão (Indochina), Kota Bahru (Malaya britânica) e Singapura a bordo de um aparelho da Royal Air Force. Visita Shanghai dos excessos e dos contrastes, a paisagem chinesa vista do comboio a caminho de Pekin. Os esplendores monumentais da antiga capital, a ocidentalização, os cabarets animados por russas, um passeio nocturno pelos insalubres hutong. Visita a Moukden (Shenyang) e à Coreia ocupada pelos japoneses. Incursão ao Japão de 1935.”
Tenho alguns exemplares das "Cartas do Extremo Oriente" do António de Santa Clara bem como de outro extraordinário livro por ele editado em 1948 cujo tema é "Vida Inquieta"
ResponderEliminarTanto quanto sei nasceu e viveu a adolescência em Fonte Boa dos Nabos na Ericeira. Já lá fui tentar obter mais informações acerca dele mas nada consegui... Se alguém soubesse mais alguma coisa acerca do autor e quisesse partilhar... Meu mail:pefesil@gmail.com