Em 1910 uma notícia do jornal A Verdade dava conta da venda da canhoneira Rio Lima "a um comerciante chinez de Hongkong que a vae empregar na carreira entre Hongkong e Hoi-how". Era o fim da linha da embarcação ao serviço da Marinha Portuguesa desde o segundo quartel do século 19.
Foi construída em Inglaterra (Birkenhead) em 1875, juntamente com as canhoneiras Sado e Tâmega. Em baixo um artigo da revista Occidente de 1890 apresenta as características da embarcação.
Com 638 toneladas a "Rio Lima" era ligeiramente mais pequena que as outras duas, de 645 toneladas. O casco foi feito com o sistema composit, ferro forrado a madeira de teca e nalgumas partes com zinco. nas obras vivas. Armavam em lugre-barca e dispunham ainda de motorização a vapor com 500 cavalos de potência.
Para além das missões diplomáticas estiveram ainda nas estações navais portuguesas em África e no Oriente, desempenhando várias missões nomeadamente o combate à pirataria.
A canhoneira Rio Lima esteve no Oriente (Macau incluído para além de Xangai e Hong Kong) por duas vezes: de 1886 a 1891 e de 1905 a 1910. Para além das fotografias foi também 'imortalizada' em algumas pinturas do final do período "China Trade" bem como em pinturas feitas em Portugal.
No livro "Jornadas pelo Mundo", o Conde de Arnoso relata a chegada a Macau a 23 de Junho de 1887, com Tomás de Sousa Rosa que ia a Pequim assinar o primeiro Tratado Luso-Chinês, na Rio Lima comandada por Raphael de Andrade:
"Embarcados na canhoneira Rio Lima, levantámos ferro do porto de Hong-Kong, pelas oito horas da manhã do dia 23 de Junho, em direcção a Macau. Navegando contra vento e corrente, cinco horas levámos a percorrer as quarenta milhas que separam as duas cidades. Pela uma hora da tarde entrávamos na rade em frente da Praia Grande. Com respeito e orgulho olhámos para essas águas, que foram sepultura dum antepassado nosso, Jorge Pinheiro de Lacerda que, pelejando ali, pelos tempos da restauração da casa de Bragança, contra os holandeses, e cedendo o esforço à multidão dos contrários, como refere o cronista, se matou deitando fogo ao paiol do navio depois de lhe arrancar os sinais do triunfo já arvorados nos mastros. Volvidos mais de dois séculos, é-nos grato a nós, que vimos de igual sangue e usamos do mesmo apelido, aportar às mesmas águas num navio da marinha portuguesa com oficiais que, em circunstâncias semelhantes, não hesitariam um só momento entre o render-se e morrer.
Inunda-nos a alma uma alegria sem egual ao vêr nas fortalezas da Guia do Norte de S. Francisco e no frontão do palacio, tremular a nossa querida bandeira; achámos pittoresca a Penha de França surgindo de dentro do arvoredo; risonho o aspecto da casaria assombreada pelas altas arvores em frente da curva graciosa da Praia Grande; e até as ruinas do velho convento de S. Paulo recortando-se nítidas no céu azul nos parecem um enorme arco triumphal.
Lançámos ferro e entramos na galeota do governo, commandada pelo immediato do porto e onde vem o secretario geral da provincia. Salvam as fortalezas. No caes, os governadores de Macau e Timor, o bispo, cabido da Sé, o Leal Senado, os officiaes, todos os funccionarios, os chinas influentes e a grande massa da população china aguardam anciosos o nosso querido amigo Thomaz Rosa que durante os ultimos tres annos fora a primeira auctoridade da provincia. Estrugem com enthusiasmo os vivas clamorosos que o presidente do Leal Senado levanta, ao mesmo tempo que atroam os ares os estalidos alegres dos panchões."
Curiosidade: Wenceslau de Moraes pertenceu à tripulação da canhoneira Rio Lima. Como oficial foi para ali transferido em 1888 tendo fica até 1890 quando assumiu o comando da canhoneira Tejo que passou a sr o navio-chefe da estação naval de Macau.
Pessoal de fogo e o seu comandante Albano M. de Carvalho na «Rio Lima» na Estação Naval de Macau. |
Publicação de 1888; a informação técnica não está correcta |
Publicação de 1908 |
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