Repartição dos Incêndios
No sabbado, 4 do corrente, pouco antes de 8 horas de noite, declarou-se incendio n'uma palhoça de ola, sita atraz do cemitério, o qual extinguiu-se logo, ardendo apenas a dita palhoça.No domingo, 5 do corrente, às 7 1/2 horas de noite, declarou-se incendio n'uma loja de chá, n.º 77, sita na rua das Estalagens e tendo empregado todos os meios que julguei mais acertados em tal cazo, consegui extinguir o incendio prontamente e sem novidade, ardendo somente o andar superior e o tecto d'essa loja, e ficando destelhadas uma loja contígua e um telheiro do Pagode por parte detraz, tendo lançado mão d'essa operação para evitar que
se contaminasse o mesmo incendio.
O incendio teve lugar acidentalmente, pois tenho informações fidedignas, que estando se a torrar chá no andar superior da loja em questão, os criados a quem estava incumbido esse serviço, se retiraram d'ali e é durante a auzencia dos mesmos que teve logar o sinistro.
A 1.ª bomba que chegou com mais ardor e utilidade do serviço durante o incendio, foram os voluntarios Fermino Machado, António Rontero e Manuel Martins do Rego, tendo este ultimo corrido grave risco de vida pelo abatimento d'um muro; e por isso os recommendo à favoravel consideração do Exmo. Conselho do Governo.
Quartel da Repartição dos incendios,
Macau 7 de janeiro de 1868
B. S. Fernandes
Major e inspector dos incendios
O "Major e inspector dos incêndios" - a título gratuito - referido no excerto acima (do Boletim do Governo de 1868) era Bernardino da Senna Fernandes (1815-1893): Barão a 25 de Outubro de 1888, Visconde a 17.04.1890 e Conde a 31.03.1893 (após a morte).
A patente de major está relacionada como facto de Senna Fernandes ter criado em 1857 um corpo de polícia privado, conhecida como a "Polícia do Bazar" e que era custeada por comerciantes chineses. Este corpo de polícia viria a estender-se a toda a cidade e Senna Fernandes foi nomeado pelo governo Comandante da Guarda da Polícia a 14 de Outubro de 1857, cargo que exerceu até 18 de Julho de 1861. Primeiro foi capitão, depois major de segunda linha sendo-lhe concedidas as honras de major já depois de deixar o cargo.
Foi também ele que viria a criar nesta época a "Polícia do Mar", muito útil nos dias de tufão e no combate à pirataria.
Comerciante rico e ilustre macaense foi também uma figura polémica.
Foi ainda Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo, Comendador da Ordem do Elefante de Sião, Cavaleiro de Torre e Espada, Condecorado com a Medalha de Prata de Mérito e Filantropia, Cônsul do Sião (Tailândia), Perú (honorário) e da Itália em Macau, diplomata, Comandante da Guarda da Polícia, criador da Polícia do Mar, Superintendente da Emigração Chinesa (leia-se cules), Inspector dos Incêndios, Presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia e sócio fundador da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses) (APIM).
Casou a 30 de Setembro de 1840 com Antónia Maria de Carvalho de quem ficou viúvo tendo voltado a casar em 1862 com D. Ana Teresa Vieira Ribeiro com quem teve 9 filhos.
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