De Durval R. Pires de Lima
Lisboa: Tip. e Papelaria Carmona, 1930.
Depois de Fernão Mendes Pinto e Tomé Pires esta terá sido a mais significativa tentativa de estabelecer relações diplomáticas com a China por parte de Portugal. Feita a pedido das gentes de Macau.
Os padres jesuítas - em Pequim muitos dos seus nomes perduram até hoje - foram esperar Manuel
de Saldanha a Tianjin para, com o embaixador português, fazerem o último
percurso do Grande Canal até Pequim, enquanto lhe ensinavam as regras do
cerimonial chinês para ser recebido pelo imperador da dinastia Qing, Kangxi
(1661-1722).
Inúmeras 'embaixadas' se seguiriam...
Eduardo Brazão (1907-1987), que cônsul de Portugal em Hong Kong, escreveu em 1948 um livro sobre o tema - Subsídios de para a historia das relações diplomáticas de Portugal com a China: a embaixada de Manuel de Saldanha - de que retirei este pequeno excerto:
"A vida não decorria tranquila no Império do Meio, o que era mau presságio para os comerciantes de Macau. Manuel de Saldanha, diplomata experiente, foi enviado a Pequim ao grande Kang-Si para trazer da boca do imperador garantias de estabilidade e as difíceis licenças para o comércio com a China. A morte colheu Manuel de Saldanha já no fim da sua melindrosa missão; no entanto, tinha conquistado de tal modo as boas graças de Kang-Si, que este o fez sepultar com todas as honras devidas aos mais distintos mandarins do seu império."
Sugestão de leitura adicional:
Manoel de Saldanha, embaixador extraordinario del Rey de Portugal ao Emperador da China e Tartaria (1667-1670), escrita pelo Padre Francisco Pimentel Escrita pelo Padre Francisco Pimentel e documentos contemporaneos. Compilados e anotados por C.R. Boxer e J.M. Braga. Macau: Imprensa Nacional, 1942.
Excerto desta obra
"Chegou esta proibição do comércio a Macau no ano de 1662, em que mandava o Imperador que em todo seu Império, com pena de morte, não anda assim no mar nem uma só tábua nem houvesse comércio algum com gente de fora, e como os mora dores desta cidade não tinham bem algum de raiz, nem um palmo de terra sobre que cair mortos, tirar-lhe o comércio foi o mesmo que tirar-lhe a vida; contudo nos primeiros anos se foram sustentando com os cabedais que tinham grangeado, esperando que o Imperador vendo que o cevão florescia como dantes sem o contrato da China, e sabendo o estrago que fez em seus vassalos, e rendas com tão bárbaro decreto desenganado que com ele não fazia dano aos inimigos senão a si, e aos seus vassalos, viesse a levantar esta proibição.
Porém ele como tirano, e temeroso de perder o Império, que usurpou, foi continuando com maior rigor a observância do seu negro decreto, até que os de Macau se resolveram em Novembro de 1667 a pedir com toda a instância ao Vice-Rei da Índia o Senhor Conde de São Vicente João Nunes da Cunha que ele mandasse um Embaixador em nome d'El Rei Nosso Senhor para que indo à Corte, e falando com o Imperador lhe apresentasse o miserável estado desta cidade e recebesse dele alguma representação no comércio para se poderem sustentar, porque só por este caminho luzia alguma esperança de remédio a tantos males. Não achou o Senhor Vice-Rei quem se atrevesse a tomar sobre si tão árdua empresa, senão ao Senhor Manuel de Saldanha, que movido mais pelo zelo da Fé, que nestas partes principalmente depende da conservação desta cidade e do serviço d'El-Rei Nosso Senhor, e não de outro algum interesse, mal convalescido de uma grande doença se embarcou em Goa, e depois de passar na viagem horríveis perigos de que escapou por evidente milagre chegou doente a esta Cidade aos 4 de Agosto, e doente se embarcou logo para a Cidade de Cantão, Metrópole desta Província aonde os Governadores dela o detiveram mais de dois anos pelas coisas que ao adiante contarei até que finalmente chegou ordem do Imperador em que mandava que sem mais réplica alguma partisse logo para a Corte".
Sem comentários:
Enviar um comentário