O troço foi baptizado como Travessa dos Anjos em 1869 e foi durante muito tempo zona de ricas mansões de comerciantes chineses abastados nomeadamente no nro. 37 a mansão Song com as suas características persianas horizontais.
A Travessa dos Anjos junto à Rua do Campo: década 1970
Henrique de Senna Fernandes escreve a esta propósito no texto "Rua das Mariazinhas" publicado no livro Mong-Há pelo ICM em 1998, começando por recordar memórias da década de 1930
"(...) A Travessa dos Anjos que comunica directamente a Rua do Campo com a Rua de S. Domingos, era no meu tempo da Primária uma via típica de casario chinês, mas atapetada de calçada portuguesa. Paredes de tijolos cinzentos, portas de espaldar, casebres alternando-se com edificações de dois pisos, teia de vielas estreitas escoando para ela, muros cercando pátios interiores com outras tantas residências, formando verdadeiras ilhas que se isolavam, quando o portão se encerrava, às tantas da noite.
Como acontece ainda hoje, era um trilho movimentado e ideal para quem quisesse encurtar caminho. Os peões palmilhavam-no à vontade, embaraçados apenas pelos vendilhões ambulantes, o homem dos tin-tins e pelas aguadeiras de trança comprida que iam buscar água aos poços dos pátios. Uma ou outra lojeca mal amanhada quebrava a nota residencial. Casas de pasto não havia, pois a Rua de S. Domingos ficava mesmo à volta da esquina. A travessa era, em conjunto, um bocado de cidade chinesa encravado no coração da "cidade cristã".
Nalgumas portas, porém, velhinhas se sentavam, vendendo em tabuleiros rebuçados e achares chineses, amendoins e pevides de casca preta ou branca, tacos de cana-de-açúcar, cortados com mestria para serem iguais em comprimento. Eu tinha os meus tabuleiros favoritos. Um pelos achares, outro pelos tacos de cana-de-açúcar e outro pelos amendoins. As velhinhas conheciam-me. Tudo se pagava com cobres ou cens que pesavam incomodamente nas nossas algibeiras, cheirando mal. Uma moeda de prata de vinte avos tinha, pelo menos, vinte a trinta cobres ou pouco mais, conforme o câmbio do dia. A garotada só possuía cobres, uma moeda de prata era excepção e uma nota de uma pataca era sentir-se rei. (...)"
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