Depois de se ter licenciado em 1977 pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, Graça Dias rumou até Macau no ano seguinte para se tornar colaborador do arquitecto Manuel Vicente, função que desempenhou até 1981. Durante esse período, trabalhou em alguns projectos residenciais, como é o caso das Torres da Barra.
Em declarações à TDM – Rádio Macau, o arquitecto Rui Leão considera que Manuel Graça Dias, como membro do chamado “grupo de Macau”, viria a ser o mais destacado intérprete do espírito iniciado por Manuel Vicente: “[Graça Dias] é uma das figuras mais importantes desse grupo de arquitectos. É aquele que levou para a frente de uma forma mais completa as posturas e maneira de estar num projecto de Manuel Vicente”.
A expressão “grupo de Macau” surgiu em 1991 pela pena de Pedro Vieira de Almeida, para designar uma “terceira via” além das escolas de Lisboa e do Porto na arquitectura portuguesa. Foi também em 1991 que, juntamente com Manuel Vicente e Helena Rezende, Manuel Graça Dias publicou “Macau Glória – a glória do vulgar”, um livro feito ainda no final da década de 1970. No prefácio, os três autores escrevem que “neste lugar de encontro português do extremo-oriente nada se produziu de notável, ao longo destes quatro séculos, a não ser a arquitectura”, que “nunca deixou de se mostrar, recolhendo das viagens, das constantes chegadas e partidas, a informação suficiente para robustecer uma cidade que só no começo deste século se começou a desfazer”.
Rui Leão recorda que “Macau Glória – a glória do vulgar” é uma celebração de uma Macau que já não existe: “Esse livro é uma jóia porque não se imaginava que Macau fosse desaparecer da maneira que desapareceu nos anos seguintes. Tem uma série de registos incríveis de arquitectura popular e recente, não só clássica. Tenta perceber a engenhosidade que havia na maneira de fazer arquitectura em Macau. O livro está cheio de fotografias do Manuel Graça Dias, mas também de desenhos que ele fazia em cima das fotografias. Ele desenhava lindamente. Acho que esse livro foi muito importante para ele, para o Manuel Vicente e para outros, porque, de alguma maneira, serviu como referência na própria arquitectura que depois se veio a fazer”.
Como arquitecto, Leão observa que Graça Dias “fazia muito esse exercício de tentar celebrar o vulgar, de fazer arquitectura a partir da observação da cidade, de como as pessoas viviam e faziam arquitectura, e, portanto, fazer não a partir do histórico ou do instituído. Acho que um dos fascínios grandes que a arquitectura dele tem vinha dessa frescura”.
Manuel Graça Dias foi também um divulgador da arquitectura, deixando vários artigos de crítica em jornais e revistas da especialidade, bem como o autor de um programa sobre arquitectura na RTP2, “Ver Artes/Arquitetura”, entre 1992 e 1996. Foi, ainda, colaborador da rádio TSF e do semanário Expresso na área da crítica de arquitectura (2001/2006).
Manuel Graça Dias tem trabalhos construídos em Almada, Braga, Chaves, Guimarães, Lisboa, Porto, Vila Real, Macau, Madrid, Sevilha e Frankfurt. Em 1999, Graça Dias e Egas José Vieira ganharam o Prémio AICA/Ministério da Cultura de Arquitectura, pelo conjunto da sua obra construída. Em 2006, Manuel Graça Dias foi agraciado, pelo então Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, com a Ordem do Infante D. Henrique (grau comendador).
Texto: Hugo Pinto/TDM Rádio
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