Imagem da década de 1930-40
Não deve ser fácil encontrar uma rua conhecida por três nomes. Mas, Macau sã assi...
S. Domingos, o oficial, "Mariazinhas", o adoptivo para os portugueses/macaneses, e Tai Pou Lam (Largos Passos) para os chineses.
Segundo Luiz Gonzaga Gomes, o sol no empedrado fazia com que a população que andava descalça para percorrer a rua tivesse de o fazer... a correr a passos largos!
S. Domingos, o oficial, "Mariazinhas", o adoptivo para os portugueses/macaneses, e Tai Pou Lam (Largos Passos) para os chineses.
Segundo Luiz Gonzaga Gomes, o sol no empedrado fazia com que a população que andava descalça para percorrer a rua tivesse de o fazer... a correr a passos largos!
"(...) vulgarmente designada pelo povo com o nome de Tái-Pou-Lám ou Tái-Pou-Láp, que significa "galgar a grandes pernadas", querendo com isto dizer que tal via deve ser transitada a largas passadas pois, na época que assim a alcunharam, dizia-se que o indivíduo que ousasse caminhar nela, durante a noite, era infalivelmente alvo duma chuva de grãos de areia e de pedra miúda lançada por mãos desconhecidas, decerto pelas almas penadas que estavam residindo numa das duas ou três casas que existiam naquele remoto local, então considerado como um dos pontos extremos da cidade."
A Rua de S. Domingos, em chinês, Pan Cheong Tong Kai, ou seja, Rua do Templo das Tábuas. A razão é simples. A primeira igreja de S. Domingos (Pan Cheong Miu) foi construída em madeira em 1587. A construção em tijolo surgiu já no século XVII.
A Rua de S. Domingos, em chinês, Pan Cheong Tong Kai, ou seja, Rua do Templo das Tábuas. A razão é simples. A primeira igreja de S. Domingos (Pan Cheong Miu) foi construída em madeira em 1587. A construção em tijolo surgiu já no século XVII.
A seguir, excerto de um artigo da autoria de João GuedesAnalisar a história da rua das Mariazinhas, que ainda hoje constitui o coração da baixa é bastante mais difícil. Oficialmente, o nome desta curta via é “Pedro Nolasco da Silva” presidente que foi da câmara de Macau nos tempos atribulados da passagem da monarquia para a República em 1910. No entanto, apesar da placa que perpétua o nome daquele edil dos tempos da transição de regime da primeira década do século XX, o certo é que , portugueses e chineses nunca a conheceram pelo nome oficial.
Para os primeiros, trata-se de facto da rua das Mariazinhas, sítio que outrora conteve uma casa comercial com esse nome recheada de novidades que atraíam a curiosidade dos clientes de todo o mundo que não deixavam perder a oportunidade soberana de comprar toalhas bordadas, robes de seda , cabaias e peças de marfim na loja que possuía o curioso nome de “Mariazinhas”.
Os segundos, porém, preferiram ignorar a existência do afamado armazém (talvez porque o proprietário não fosse chinês), preferindo manter a designação de “Pak Ma Hong”, ou seja, Rua da Firma do Cavalo Branco, tendo em conta que outrora ali existira um edifício da firma Fearon & Co. Fearon era cônsul de Hanover, cuja bandeira era um cavalo branco em campo vermelho. “Como o escudo na fachada da companhia e a bandeira que lá flutuava nos dias festivos reproduziam o emblema do estado alemão, os chinas crismavam a rua com o nome de Pak Ma Hong”. Esta a explicação do historiador Mons. Manuel Teixeira.
Os segundos, porém, preferiram ignorar a existência do afamado armazém (talvez porque o proprietário não fosse chinês), preferindo manter a designação de “Pak Ma Hong”, ou seja, Rua da Firma do Cavalo Branco, tendo em conta que outrora ali existira um edifício da firma Fearon & Co. Fearon era cônsul de Hanover, cuja bandeira era um cavalo branco em campo vermelho. “Como o escudo na fachada da companhia e a bandeira que lá flutuava nos dias festivos reproduziam o emblema do estado alemão, os chinas crismavam a rua com o nome de Pak Ma Hong”. Esta a explicação do historiador Mons. Manuel Teixeira.
O artigo pode ser consultado na íntegra aqui:
Em baixo pormenor da Livraria Po Man Lau
"(...) O Largo de S. Domingos, além de pertencer ao meu caminho para a Escola Primária, também me entretinha. Por baixo das suas arcadas, alinhavam-se os cegos adivinhos que "cantavam" a sina e os escribas que respondiam às cartas dos clientes analfabetos, depois de longas conversas. Eram letrados e escreviam os caracteres sínicos com elegância, possuídos duma caligrafia impecável, segundo os entendidos. Ainda se vêem hoje, nos lugares tradicionais, mas em número muito reduzido. No Largo, estava instalada a Livraria Po Man Lau, à esquina para a Travessa de S. Domingos, ponto de paragem praticamente obrigatória para todo o aluno da Primária, o que a Livraria Progresso, à Rua do Campo, representava para o Liceu. A Po Man Lau, mais papelaria que livraria, vendia livros para o ensino primário, como o Livro de Leitura de Ulysses Machado, da 1.ª à 4.ª classe, a Gramática do mesmo autor, a Geografia de Figueirinhas, a História de Portugal, de Jaime Séguier, a Tabuada e o Sistema Métrico, e uma obra muito interessante para os estudantes do último ano, denominada Coisas Geográficas, de cujo autor não me recordo o nome. (...)".
"Rua das Mariazinhas" in Mong-Ha de Henrique de Senna Fernandes, edição do ICM, 1998
Livros onde pode ser consultada mais informação: Luís Gonzaga Gomes: "Macau, Factos e Lendas", ICM, 1994 e "Lendas Chinesas de Macau", Notícias de Macau, 1951
Foto de AJMN Silva
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