António Augusto Soares de Passos (1826-1860) é o exemplo maior da poesia ultra-romântica em Portugal. Nascido no Porto, frequentou o curso de Direito em Coimbra. Ainda estudante, fundou o jornal O Novo Trovador onde colaboraram vários poetas da segunda geração romântica. No final do curso, regressou ao Porto onde colabora nos jornais O Bardo e A Grinalda. Os seus poemas foram publicados em 1856 numa colectânea intitulada Poesias. É aí que se encontra um trecho dedicado a Camões - com referências à Gruta em Macau - e do qual apresento um excerto:
De praia em praia divagando incerto
Tuas desditas ensinaste ao mundo:
A terra, os homens, 'té o mar profundo
Conspirados achavas em teu dano.
Ave canora em solidão gemendo,
Tiveste o génio por algoz ferino:
Teu alento imortal era divino,
Perdeste em ser humano:
Índicos vales, solidões do Ganges,
E tu, ó gruta de Macau, sombria,
Vós lhe ouvistes as queixas, e a harmonia
Desses hinos que o tempo não consome.
Foi lá, nessa rocha solitária,
Que o vate desterrado e perseguido,
À pátria, ingrata, que lhe dera o olvido,
Deu eterno renome.
"Cantemos!" disse, e triunfou da sorte.
"Cantemos!" disse, e recordando glórias,
Sobre o mesmo teatro das vitórias,
Bardo guerreiro, levantou seus hinos.
Os desastres da pátria, a sua queda,
Temendo já no meditar profundo,
Quis dar-lhe a voz do cisne moribundo
Em seus cantos divinos.
Sem comentários:
Enviar um comentário