Ferreira de Castro descreveu como era uma casa de jogo de fantan em Macau no ano de 1939:
"Entramos e vemos, em cada sala, uma banca coberta de oleado. Atrás dessa mesa estão os empregados dos banqueiros chineses, que recebem o dinheiro da clientela e marcam a quantia que cada qual arrisca. Em frente, aglomeram-se aqueles a quem o jogo fascina.
O Fan-Tan, paixão oriental, é mui fácil de aprender. Basta seguir os gestos do chinês que, em mangas de camisa e olhar fingidamente distraído, se encontra sentado à cabeceira da mesa. Ele tem, junto das mãos, um monte de fichas brancas, do tamanho de botões médios. Sobre essas fichas coloca, de quando em quando, e de boca para baixo, um vaso de bronze, semelhante a uma campainha. Com este gesto, começou a nova partida.
Não se sabe o número exacto dos tentos que o vaso ocultou e nisso reside o segredo do Fantan. Os jogadores laçam o seu dinheiro nos números 1, 2, 3 e 4. Quando ninguém dá mostras de querer jogar mais, o homem em mangas de camisa levanta o vaso de bronze e, com uma varinha, principia a separar, em grupos de 4, as fichas que debaixo do vaso estavam. Se, no fim, queda isolado um daqueles botões, vence o número 1; se quedam dois, é o número 2 o eleito e o mesmo com o 3. Sucede, por vezes, que todas as fichas se dividem em grupos de 4 e, então, o 4 ganha. Recebe-se o dobro da quantia jogada.
O tecto destas casas apresenta-se furado, como se quisesse receber a luz duma claraboia. Em cima, rodeando a larga abertura em oval, corre uma balaustrada de madeira e a ela se encostam várias mesas com jogadores. Estes acompanham, de ali, o jogo que se efectua cá em baixo e, quando pretendem jogar, fazem descer o seu dinheiro dentro de pequeno cesto a um cordel amarrado. Dizem o número que elegeram e ficam em expectativa. Os olhos enviesados desses homens são mais penetrantes do que os das gaivotas. Mal se levanta o vaso, eles contam, num segundo, o monte de cinquenta ou sessenta fichas que jaz sobre a mesa. E, muito antes de ser anunciado o número triunfante, já sabem se ganharam ou perderam."
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