Mio Pang Fei Foto de Carmo Correia |
Para o jornal Hoje Macau (16.11.2020) "A morte do homem que ensinou uma geração de novos artistas a partir da década de 80 e que revolucionou o mundo das artes de Macau encerra uma era na arte contemporânea."
Nascido em Xangai em 1936, Mio Pang Fei estudou na Universidade de Belas Artes de Fujian, tendo-se dedicado à caligrafia chinesa. Era a única forma de escapar e de se manter ligado ao mundo das artes, numa altura em que o artista já pensava de maneira diferente. Mio Pang Feichegou a ser acusado de práticas contra-revolucionárias por demonstrar um grande interesse no modernismo que se fazia no Ocidente. Esteve preso e sujeito a trabalhos forçados.
O jornal Ponto Final dedica-lhe a primeira página na edição de 16.11.2020 e escreve: "Dotado de um pensamento vanguardista, Mio Pang Fei tornou Macau numa referência mundial de convergência e difusão da interculturalidade através de pinturas em telas de larga escala. Das telas gigantes com 20 metros à caligrafia chinesa, a paixão pela pintura acompanhou-o até ao último suspiro."
O jornal apelida-o de "pai do neo-orientalismo" e acrescenta: "Incompreendido na China durante a Revolução Cultural e perseguido pelo regime maoista, Mio Pang Fei encontrou em Macau um porto de abrigo seguro para explorar o seu interesse pela pintura modernista ocidental e criar o seu próprio estilo através da fusão de técnicas artísticas ocidentais com as tradições culturais chinesas. Revolucionário sereno da pintura abstracta, Mio Pang Fei tornou-se num dos maiores artistas contemporâneos chineses e uma das maiores referências no panorama da arte moderna de Macau."
No liceu Mio Pang Fei enveredou pela engenharia mas o interesse pelo desenho levou-o a ter aulas particulares de desenho e acabou por decidir estudar Belas-Artes em Fujian.
Na faculdade notou a ausência do que fora feito no mundo da arte no Ocidente a partir das últimas décadas do século XIX e começou ele próprio a investigar, descobrindo então o impressionismo, fauvismo e cubismo, movimentos que influenciariam o seu percurso.
Concluída a licenciatura, Mio ainda colaborou em Fujian na produção dos grandes painéis de homenagem ao socialismo, usados em exposições da época. Já na década de 1960 regressou a Xangai onde montou um atelier em casa. Deu aulas de desenho e arranjou emprego como desenhador de embalagens de brinquedos, até que chega a Revolução Cultural. É nesta altura que começa a estudar caligrafia e pintura chinesas, procurando formas de incorporar ideias do mundo ocidental na arte tradicional da China.
Na década de 1980 resolve sair da china com a família. Tenta obter um visto de estudante para os Estados Unidos, mas o pedido é recusado devido à idade e depois faz uma tentativa de emigrar para Hong Kong, onde a mulher tinha familiares, mas também sem sucesso. É então que chega a Macau, onde morava um irmão, em 1982. No território foi um dos membros fundadores do Círculo dos Amigos da Cultura e professor de arte (tb na China e Reino Unido).
A primeira exposição no território ocorreu em Dezembro de 1985, no então Museu Luís de Camões (actual Casa Garden), em conjunto com a mulher, Un Chi Iam, também ela pintora.
Foram realizados dois documentários sobre a vida e obra de Mio Pang Fei:
1994 - “Mio Pang Fei and his Neo-Orientalism” - Fujian Television, China.
2014 - “Mio Pang Fei” - de Pedro Cardeira, Macau. (imagem acima)
Para além da presença em dezenas de exposições individuais e colectivas, Mio tem obras integradas em colecções um pouco por todo o mundo, foi galardoado com diversos prémios e, em 1999 foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cultural pelo Governo de Macau.
Declarações do antigo presidente do Instituto Cultural, Ung Vai Meng ao Ponto Final: “Ele sempre me disse que Macau tinha sido muito importante para a sua vida, nomeadamente na sua vida artística. Uma vez confidenciou-me que a sua arte era como uma flor que desabrochou em Macau, onde era possível ser apreciada por todos. Via Macau como um laboratório de arte e cultura onde qualquer experiência, qualquer ideia, podia ser realizada, por isso, o senhor Mio encarava Macau como uma plataforma de arte muito importante para a sua própria linguagem artística. Creio que Mio Pang Fei irá ficar para sempre ligado à história de Macau como um filho da terra.”
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