"O Oriente: gazeta hebdomedaria" foi fundada por Francisco de Magalhães em Janeiro de 1872 e durou até Outubro desse ano.
De 4 páginas tinha periodicidade semanal (hebdomedária). A redacção ficava no nº 2 do Largo do Senado. Era impresso na Typographia José da Silva, no nº 1 da Rua Central.
Francisco da Silva Magalhães nasceu em Tomar. Formou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, em 1866. Em 1871 chegou a Macau como médico-cirurgião e professor do Seminário de S. José. Em Janeiro de 1872 fundou o jornal O Oriente título que usou para fazer duras críticas aos governadores (António Sérgio de Sousa e Januário Correia da Silva, Visconde de S. Januário), às congregações religiosas e à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses.
No editorial pode ler-se:
"Chegámos a Macau, e desde logo nos foi sensível a falta dum jornal que, servindo de dique aos actos governativos, que se nos afigurou não tenderem à prosperidade desta colónia, ao mesmo tempo transmitis-se à comunidade portuguesa espalha-da por todos os portos da China, abertos ao comércio europeu, as prosperidades e adversidades desta colónia (...); não hesitámos em inaugurar a publicação dum jornal semanal, O Oriente. Podem-no taxar de muitos defeitos; ninguém lhe negará, porém, a independência e a justiça com que tem advogado os interesses de Macau."
Nesse mesmo ano o Governador Visconde de S. Januário mandou-o prender sendo desterrado para Timor. A notificação da prisão ocorreu a 25 de Setembro de 1872:
"Secretaria do Governo de Macau e Timor — N° 865; Illmo. Sr.: De ordem de S. Ex.a o Governador dou a v. s. conhecimento, para os fins convenientes, do despacho lançado pelo mesmo Ex.mo Sr. no processo do conselho d'investigação a que respondeu o facultativo de lª classe do quadro desta província - Francisco da Silva Magalhães como editor responsável do jornal o "Oriente", pelo crime de difamação à pessoa do governador da colónia; - Despacho - Conformando-me com a opinião do conselho, e dispensado o réu de responder a conselho da guerra, impondo-lhe a pena de dez dias de prisão com homenagem na fortaleza do Monte, levando-lhe em conta o tempo decorrido desde que foi preso. Deus guarde a v. s. - Secretaria do governo de Macau, 25 de Setembro de 1872 — (ass.) Henrique de Castro, secretário geral".
A imprensa de Hong Kong - onde a comunidade portuguesa lhe ofereceu uma medalha de ouro - fez eco desta prisão durante vários dias. Aqui ficam dois exemplos:
Daily Advertiser de 21 de Setembro de 1872:
"Na vil prisão da fortaleza do Monte acha-se hoje o dr. Magalhães, redactor do Oriente, para responder pelos allegados libellos publicados no último número do jornal contra S. Ex.a o visconde de S. Januário. Como militar o dr. Magalhães terá de ser provavelmente processado em conselho de guerra. O artigo em questão contem por certo algumas palavras fortes contra o governador, mas não vemos ali libello algum, e muito mais porque o Oriente não fez accusação nenhuma; são por tanto, a nosso vêr, completamente injustificáveis a suppressão do jornal e a prizão do seu redactor."
Daily Press de 23 de Setembro de 1872:
"Somos informados de se haver creado um grande excitamento em Macau com a prisão do Dr. Magalhães, redactor do Oriente, ordenada pelo governador d'aquela colónia. Pelo que podemos d'ali coligir, parece que a acção do governador foi muito coerciva, e que de forma nenhuma poderá ser justificada pelas leis de Portugal. Adi-ante publicamos a tradução do artigo pelo qual é acusado o dr. Magalhães; mas não percebemos o que ali ha de offensivo à dignidade do governador. É certo que o censura fortemente sobre a sua conducta em readmitir na colónia as irmãs de caridade, mas esta questão é a que se acha licitamente aberta à discussão; e somos informados por autoridade competente que as leis de Portugal com respeito à imprensa são tão liberaes como são as de qualquer nação do mundo; que garantem completa liberdade aos que redigem jornaes, e os protegem de oppressão e coacção de qualquer natureza. Nestas leis está até consigna-da a clausula importante em que se diz que só compete às auctoridades judiciaes o tomar conhecimento das suas transgressões."
Já em Timor Francisco Magalhães viria a pedir a exoneração de médico militar tendo regressado a Macau. Poucos anos depois foi para as Filipinas onde ficou durante sete ano até que regressou novamente a Macau em 1883 leccionando novamente no Seminário. Regressaria a Portugal tendo morrido na terra natal a 8 de Março de 1886.
Publicou dois opúsculos:
- As febres intermitentes e a hematúria. Macau. Typographia de J. da Silva, 1874.
- Instruções sobre a cultura do tabaco em Timor. Macau, Typographia Mercantil, 1881.
Monsenhor Manuel Teixeira resumiu assim a vida e obra de Magalhães da silva em Macau:
"Se o Dr. Magalhães se tivesse limitado a exercer a sua profissão de médico, teria feito um óptimo papel em Macau e a sua memória seria abençoada. O mal foi ter-se deixado arrastar pelo seu ódio não só contra os Jesuítas, mas também contra as congregações religiosas e contra o Governador que as protegia. Com isto só ganhou a sua prisão e o seu desterro. Não lhe podemos negar os seus méritos como médico."
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