Com a expulsão dos jesuítas de Macau em 1762 o fornecimento de medicamentos à população foi seriamente afectado, exceptuando o recurso aos hospitais e às boticas 'chinesas'. Estas eram o equivalente às actuais farmácias, mas não se limitavam a vender medicamentos. Antes pelo contrário. Vendiam de tudo a um pouco... por exemplo, chá e tabaco... Daí a origem da expressão "Há de tudo como na farmácia..."
Numa edição do jornal Archivo Pittoresco de 1868 encontramos uma descrição de como eram essas boticas chinesas:
"Na rua de Santo Agostinho recommenda-se entre todas a botica do china Vochon, nome que te ha-de ser conhecido pelo teres visto nos rotulos collados a muitos dos objectos chinezes que apparecem em Lisboa grande parte dos quaes são comprados naquella casa. Vochon faz leques é o distinctivo faceto daquelle estabelecimento redigido por um official da nossa marinha que o pintou em letras doiradas num quadro que figura no logar de honra da loja. Se o Vochon te vir passar na rua estranho e novo em Macau vem logo á porta a comprimentar te e a offerecer te os seus serviços. Quem trajar uniforme militar é logo por elle bem como pelos chinas em geral denominado capitão. Faz te entrar, enche-te a charuteira de optimos manillas e começa logo a mostrar-te os mais curiosos objectos do seu commercio. Ficas por tal modo encantado com o delicado trabalho dos artefactos que te apresenta que não tens animo para te retirares sem teres deixado alli até á ultima pataca. Mas em compensação trazes cópia de objectos bonitos e valiosos que vem depois na Europa apregoar lisongeiramente o teu bom gosto de comprador. Além d'issò o bom do Vochon não te deixa sair sem que lhe acceites uma chávena de chá. Tomas uma infusão de chá preto extremamente forte e feito na propria chávena que tem uma tampa da mesma porcellana ao uso chinez."
Um recibo de 1866 |
Em 1790 existiam duas boticas públicas: a do Senado e da Misericórdia. Em 1863 existia apenas uma botica privada e nos anos seguintes surgiriam outras.
"São duas presentemente as boticas ambas situadas na Praia Grande rua principal da cidade Uma é administrada por Joaquim das Neves e Sousa pharmaceutico approvado na universidade de Coimbra e a outra por Thomas José de Freitas habilitado pela escola medico cirurgica de Lisboa. Ambas estas boticas são asseadas, bem fornecidas, servem com promptidão e exercem a caridade para com pobres."
in Relatório ácerca do serviço de saúde de Macau respectivo aos annos de 1865 a 1867
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