Excerto de artigo de autor não identificado publicado no jornal O Panorama em 1840:
"O pequeno territorio que occupâmos em Macáu tem uma legua escaça de comprimento, e meia legua ainda mais escaça na maior largura: uma muralha de pedra ensôssa, collocada n´uma língua de terra distante das portas da cidade, marca os limites do terreno chamado portuguez, que com todo o ciume e vigilancia são guardados pelos chins, o que não é dado a europeus ultrapassar, salvo em auxílio para apagar fogos, conduzindo agua e instrumentos adequados. Tanto da parte do norte como da do sul é murada a cidade; daquella tem sahida para o campo de S. Paulo do Monte; pela outra a limitam dois fortes os qaues a cavalleiro se vê a ermida de N. S.ª da Penha, que já foi fortificação. Outros tres fortes defendem a bahia e entrada do porto; n´uma alcantilada montanha, fóra das mencionadas portas, apparece o forte de N. S.ª da Guia dominando o mar e todo o espaço adjacente. Um extenso caes, chamado praia-grande, da parte de leste, em frente da bahia, offerece uma morada aprazível, pois alem da vantagem da posição é ventilado pelas aragens refrigerantes no verão, e resguardado das furias das nortadas no inverno."
Planta de 1635 onde são bem visíveis das muralhas |
"(...) No princípio do século XVII, depois do ataque dos holandeses em 1622, foi construída a muralha numa linha contínua, que corta a península de meio a meio na direcção NO. a SE., onde havia as portas do Campo e de Santo António, por onde se entrava na cidade. Encravados nesta muralha havia os fortes de S. João e de S. Jerónimo, hoje em ruínas. A muralha, de 16 pés de altura, permitia que os defensores nela se colocassem em toda a extensão, servindo-lhes de parapeito a parte superior que se reduz a um muro de 3 pés de altura por 1 de espessura."
Mapa de 1793 |
Estas muralhas estavam fornecidas por duas portas. A do lado Nascente, perto da actual Igreja de Sto. António, chamava-se Porta de Sto. António ou Sto. Antão, enquanto que a de Sudeste, perto da Igreja de S. Lázaro, era conhecida por Porta do Campo/Porta de S. Lázaro. Estas portas estavam fechadas à noite, abrindo-se e fechando-se às mesmas horas. Na porta de Sto. António existia ainda um posto alfandegário.
Porta do Campo - desenho de G. Chinnery |
"(...) E pegado a ella (a horta da Companhia de Jesus, junto ao Colégio de S. Paulo) está hua porta que vai para o Campo de Moha, (leia-se Mong-Há) e desta porta vai correndo o muro das casas dos moradores athe S. António, aonde está outra porta para o ditto Campo, e na mesma forma vay correndo o muro para o Campo da Patane, aonde está hu postigo, e vindo de volta para a praya pequena, fica outro postigo que se fechou por não ser necessário, e do terceiro baluarte desta Fortaleza (Fort. do Monte) corre outro pano de muro para a parte de leste pegado ao Baluarte, aonde está o sino, aonde tem hum postigo para o Campo, e andando para o pano do muro a tiro de mosquete está a porta que vai para o Campo de S. Lázaro, e desta porta andando pelo muro a tiro de mosquete está um Baluarte* cô duas peças de ferro de 10 libras e na mesma conformidade a tiro de mosquete no mais alto d´esta muralha, e defronte da fortaleza da Guia está outro Baluarte cô huma pessa de ferro assistida para a porta da Fortaleza da Guia e dahi volta o muro para o sul em direitura ao convento de S. Francisco**, e antes de chegar a elle tem hua porta que cahe para o mar, a qual se fecha todas noites".
Excerto de um texto de José Montanha, no livro "Aparatos para a História do Bispado de Macau"
* este baluarte ficava no cruzamento da Rua de S. João com a da Colina, junto à denominada Horta da Mitra.
** referência ao baluarte de S. Jerónimo, na colina com o mesmo nome, desmantelado para ali se construir o hospital.
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