O austríaco Josef Lehnert fez parte da viagem à volta do mundo levado a cabo pela corveta imperial do Arquiduque Frederico na primeira metade da década de 1870. Nesse périplo passou por Cantão, Hong Kong e Macau. Na deslocação ao território português visitou a gruta de Camões, o que classificou como uma peregrinação.
O excerto que se segue é a tradução da obra de Josef Lehnert intitulada "Um die Erde. Reiseskizzen von der Erdumseglung mit S.M. Corvette Erzherzog Friedrich in den Jahren 1874, 1875 und 1876 II.", publicada em Viena de Áustria em 1878.
"Foi apenas interesse histórico que nos levou a realizar uma excursão a Macau, na verdade poder-se-ia falar de uma peregrinação, uma vez que era o de visitar uma cidade cujo bairro europeu apenas podia apresentar ruas vazias de população e muitos edifícios e casas caídas ou arruinadas.
(...) por todo o lado via-se destruições feitas pelo último tufão* - montes de dejetos e ruínas - que não foram retirados, pois os habitantes encontram-se empobrecidos e, como nos disseram, são lânguidos. (...) De tempos melhores data o manifesto orgulho, que, perante as condições deprimentes, necessariamente causa impressão trágico-cômica no estrangeiro. A aparência dos colonizadores portugueses, em geral, não é simpática; os vultos secos e enfraquecidos com a cor de pele amarela combinam bem com a cidade desertificada.
A única lembrança sorridente da época florescente de Macau é certamente o monumento a Camões num jardim situado no término leste da cidade. Caminhos cobertos de musgo cortam uma mata romântica que cobre a descida de uma colina; já há muito esse parque sente falta da mão de um jardineiro. Um ou outro visitante que, imerso em pensamento nos magníficos poemas do imortal Camões, tomou a gosmenta picada para a gruta e ali se encontrou estarrecido, viu-se, despertado de suas contemplações, de repente caído no sujo chão. Tais surpresas poderiam ser evitadas com poucos recursos, de outra forma a peregrinação ao monumento do poeta tornar-se-á perigosa demais.
No ponto mais elevado do jardim encontra-se a assim-chamada gruta, uma pequena cavidade numa rocha saliente. Ali se encontra sobre um pedestal de pedra o busto de Camões. Alguns versos do Lusíadas encontram-se gravados nas superfícies laterais do pedestal.
A vista da cidade e do mar que a envolve, cheio de vida com os seus numerosos juncos, é encantadora. Também se pode ver uma grande parte do labirinto de ilhas que se estende à frente e na desembocadura do rio Pérola. Sem querer pensa-se no canto de Camões."
Pintura de G. Chinnery em meados do século 19 |
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