Excertos:
(...) Pois bem, em Outubro do mesmo ano, ou, mais tardar em Março seguinte, encontra-se passagem para a ilha de Macau, terra da China, nas naus dos portugueses, que levam cinco meses ou o máximo dez meses. De Macau, na mesma nau ou noutras, passa-se à Índia oriental no mês de Novembro ou Dezembro, que se segue a Outubro, e chega-se a Goa no mês de Março do outro ano, o que dá outros cinco meses… Depois de ter estado lá (no Japão) desde o mês de Junho até ao mês de Março do ano de 1598, resolvemos partir e viajar para a China, mas porque naquele ano não veio a nau dos portugueses, que de Macau costuma vir a Nangasáqui, como já referimos para não termos que estear outro ano, embarcámos com os nossos haveres num barco japonês que devia ir ao Reino da Cochinchina, o qual passando pela referida ilha de Macau, nos colocou em terra, de que se dirá no seguinte «Arrazoamento» (...)
Como eu disse a Vossa Alteza Suprema no fim do último arrazoamento, querendo nós partir das ilhas do Japão para ir ao Reino da China e não tendo vindo naquele ano a nau dos portugueses que habitam em Macau, ilha da China, fomos obrigados a embarcar num barco feito à maneira do Japão, se bem que comandado por um capitão, português de nação, mas nascido em Nagasáqui de mãe japonesa. partimos com próspero tempo, soprando o vento norte, aos 3 do mês de Março do ano de 1598, na companhia de alguns religiosos da Companhia de Jesus e doutros comerciantes e passageiros portugueses… (…) Ao cabo de doze dias chegámos à ilha de Amacao, situada a 19 graus de norte, perto de cantão, terra firme e cidade da China que dá o nome a uma daquelas províncias, a setenta milhas pouco mais ou menos. É uma pequena cidade sem muralhas e sem fortalezas, com umas poucas casas de portugueses, sendo chamada Cidade do Nome de Deus; e se bem é ilha adjacente, à China, contudo é governada por um Capitão Português que vai lá de Goa todos os anos com patente e provisões reais da Coroa de Portugal , para administrar a justiça aos portugueses que moram ali (…)
No ano de 1599, aos 28 do mês de Julho quando eu estava na cidade de Macau, vi mais de 10 ou 12 casas arruinadas pela água e pela força do tufão que nas ilhas Filipinas é chamado pelos castelhados «huracán». As casas são feitas de terra misturada com cal viva; são fortificações de tantas a tantas braças com tabiques de pedra murados a cal, sendo as aredes estucadas com cal por dentro e por fora, e cobertas de telhas em tudo ao modo da Espanha. Depois de ter soprado com tanta fúria, que não se podia andar pelas ruas nem sequer mostrar lá a cara, o vento parou, tendo passado por todos os rumos da rosa dos ventos, e continuou durante dois dias. além de muitos danos, e naus que fez desviar por toda a costa e portos de China, fez também perder no porto de Amacao uma nau que tinha vindo do Reino do Sião, carregada de lenha chamada comummente pau brasil, que eles neste país chamam «sapan»; da qual nau conseguiram com muita dificuldade escapar-se os marinheiros siameses com as suas mulheres, que segundo o seu costume levam consigo quando fazem longas viagens. (...)
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