A "personalidade invulgar" (1) do autor das obras sobre as quais me debruçarei neste trabalho é multifacetada, polivalente, de interesses vários e realizações díspares. "Manuel da Silva Mendes nasceu no distrito do Porto, em S. Miguel das Aves, a 30 de Novembro de *1876". (2) Cursou Direito em Coimbra e em 1898 publicou "apenas com 22 anos" (3) o seu primeiro trabalho, como tradutor: "Wilhelm Tell", de Schiller. Terminado o curso de Direito, abre escritório em Famalicão, onde recebeu,"a fazer um requerimento"(4), O telegrama em que o seu amigo Mons. Santos Viegas (5) Ihe anunciava que um lugar de professor vagara na Província de Macau. Casando entretanto, embarcou em 1901, numa viagem longa por si recontada com um humor queirosiano no seu artigo "De Lisboa a Macau".(6)
Como professor no Liceu, ensinou Português e Latim (a partir de 1901) ao longo de 25 anos, durante os quais se empenhou na vida da cidade, ocupando os cargos de Reitor interino do Liceu, de Presidente do Leal Senado e de Administrador do Concelho, atraindo a si inúmeros amigos, muitos deles chineses, "coisa pouco usual em quem vem de fora e não conhece a língua" (7), sendo destes, o mais célebre, o Governador da província de Guangdong, Sr. Chan Chek Yu.
Como professor no Liceu, ensinou Português e Latim (a partir de 1901) ao longo de 25 anos, durante os quais se empenhou na vida da cidade, ocupando os cargos de Reitor interino do Liceu, de Presidente do Leal Senado e de Administrador do Concelho, atraindo a si inúmeros amigos, muitos deles chineses, "coisa pouco usual em quem vem de fora e não conhece a língua" (7), sendo destes, o mais célebre, o Governador da província de Guangdong, Sr. Chan Chek Yu.
Autor de um profícua actividade jornalística no "Vida Nova","O Macaense","O Progresso","A Pátria","Jornal de Macau","A Voz de Macau", e nas revistas "Oriente" e "Revista de Macau" donde se destacam muitos artigos em que o seu estilo crítico, mordaz e simultaneamente objectivo, não se dissocia de um fascínio por Macau e pelo Oriente - desenvolvendo um gosto pela arte chinesa, reflectindo este seu interesse e progressivo estudo sobre arquitectura sacra (8), mobiliário (9), arte (10) e pintura (11) que coleccionava, passeando amiúde pelas "antiqualhas e pelos bricabraques do bairro de Santo António". (12) Temos também da sua actividade como advogado de reputação no Território, vários trabalhos relacionados com os casos em que colaborou.
Para além de todas estas ocupações, deve destacar-se o estudo que desenvolveu acerca do Tauísmo, "interesse constante durante a sua vida em Macau". (13)
Várias fontes indicam que se deslocava com alguma frequência ao mosteiro de Choc Lam: Luís Gonzaga Gomes, que com Joaquim Paço d'Arcos foi seu aluno, afirma que "parte do seu tempo, passava-a Silva Mendes, no aprazível e agasalhador Pagode de Mong-Há, a entreter-se em amena conversa com os bonzos seus amigos". (14) Se estas tertúlias focavam os temas transcendentes e técnicos do Tauísmo, não se sabe, tendo-se porém, a certeza de que não dominava o chinês escrito, e que do falado tinha um conhecimento superficial (15), facto que o levou a estudar a obra de Láucio (16) por meio de traduções."Lau-Tse e a sua Doutrina segundo o Tao-Te Ching"(1908) - a conferência que pronunciou no Grémio Militar de Macau, e sobre a qual mais reflectirei neste trabalho - "Excertos de Filosofia Tauísta" (1930), bem como artigos dispersos-"Filosofia da Criação" (in "O Macaense",1920) e "Chiang, o Borboleta" (in "O Macaense",1919) -mostram as suas excelentes qualidades como estudioso e homem preocupado com o conhecimento interior da civilização chinesa, perto da qual, por desejo seu (17), acabou abruptamente os seus dias às onze horas do dia 30 de Dezembro de 1931, com 55 anos, na sua residência na Estrada do Engenheiro Trigo, na cidade de Macau.
Para além de todas estas ocupações, deve destacar-se o estudo que desenvolveu acerca do Tauísmo, "interesse constante durante a sua vida em Macau". (13)
Várias fontes indicam que se deslocava com alguma frequência ao mosteiro de Choc Lam: Luís Gonzaga Gomes, que com Joaquim Paço d'Arcos foi seu aluno, afirma que "parte do seu tempo, passava-a Silva Mendes, no aprazível e agasalhador Pagode de Mong-Há, a entreter-se em amena conversa com os bonzos seus amigos". (14) Se estas tertúlias focavam os temas transcendentes e técnicos do Tauísmo, não se sabe, tendo-se porém, a certeza de que não dominava o chinês escrito, e que do falado tinha um conhecimento superficial (15), facto que o levou a estudar a obra de Láucio (16) por meio de traduções."Lau-Tse e a sua Doutrina segundo o Tao-Te Ching"(1908) - a conferência que pronunciou no Grémio Militar de Macau, e sobre a qual mais reflectirei neste trabalho - "Excertos de Filosofia Tauísta" (1930), bem como artigos dispersos-"Filosofia da Criação" (in "O Macaense",1920) e "Chiang, o Borboleta" (in "O Macaense",1919) -mostram as suas excelentes qualidades como estudioso e homem preocupado com o conhecimento interior da civilização chinesa, perto da qual, por desejo seu (17), acabou abruptamente os seus dias às onze horas do dia 30 de Dezembro de 1931, com 55 anos, na sua residência na Estrada do Engenheiro Trigo, na cidade de Macau.
Excerto de artigo da autoria de Carlos Miguel Botão Alves - intitulado "Silva Mendes e o Tauísmo: perspectivas sobre o Tau-Te Ching" - publicado na Revista Cultura nº 15 - Ano V.
*Nota do autor deste blogue: Na verdade MSM - residência em Macau na imagem em cima - nasceu em 1867 e morreu em 1931.
Notas:
(1) MENDES, Manuel da Silva, Macau-Impressões e Recordações, op. cit., pp.56.
(2) Idem, p.7.
(3) MENDES, Manuel da Silva, Colectânea de Artigos, vol. I, op. cit, p.5.
(4) MENDES, Manuel da Silva, Macau-Impressões e Recordações, op. cit., p.9.
(5) Mons. Santos Viegas era então Presidente da Câmara dos Deputados e, em sua opinião, "um político graúdo" (id. p.10).
(6) Ibidem, pp.9 a 25.
(7) Ibidem, p.6.
(8) Vide Arquitectura Sacra em Macau, in "O Macaense",1919.
(9) Antiga e moderna mobília em Macau, in "O Macaense",1920.
(10) Notas sobre a arte chinesa, in "Macau",1918,1919.
(11) Pintura chineza in"O Progresso",1914; A pintura chineza, in "Oriente",1915. A pintura na China. Apontamentos para a História da Arte na primeira metade do XIX Século. In "O Progresso",1916.
(12) Mendes, Manuel da Silva, Colectânea de Artigos, op. cit. p. VI.
(13) Mendes, Manuel da Silva, Macau - Impressões e Recordações, op. cit., p.6.
(14) Mendes, Manuel da Silva, Colectânea de Artigos, vol. I. op. cit, p. VI.
(15) Idem, p.5.
(16) Dada a diversidade de transcrições romanizadas do nome do fundador do Tauísmo, nas várias línguas com que deparamos, optaremos ao longo deste trabalho pela designação "Láucio", derivada da de "Lautius", feita pelos primeiros Jesuítas que vieram à China, a partir dos caracteres "Lou tchi"que em pequinense se pronunciam."Lau tse".
(17) "Estou com imenso desejo de voltar para Macau", dizia em carta de Novembro de 1927, (in Mendes, Manuel da Silva, Colectânea, op. cit. vol. l, p.7).
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