Edição ICM, 1988 |
António de Andrade representa, literalmente, o ponto mais alto dos descobrimentos portugueses: ele foi o primeiro europeu a chegar ao Tibete, o "Tecto do Mundo", há quase 400 anos. Para o historiador Luís de Albuquerque, aquele missionário jesuíta foi, também, "o último dos grandes viajantes portugueses dos séculos XV e XV".
António de Andrade (1581-1634) nasceu em Oleiros, distrito de Castelo Branco. Entrou para a Companhia de Jesus com 15 anos de idade e em 1600 partiu para a Índia, onde viveu até morrer. A sua primeira viagem ao Tibete, iniciada a partir do Reino de Agra, no norte da Índia, ocorreu em 1624. Segundo a mitologia da época, haveria no Tibete "muitos cristãos" e "igrejas ricamente ornadas com imagens do Nosso Senhor Jesus Cristo e da Nossa Senhora".
António de Andrade viajava acompanhado por um sacerdote da mesma Ordem chamado Manuel Marques. Iam ambos "disfarçados de mouros", com um grupo de "peregrinos pagãos". Quando foram descobertos, em Srinagar, a capital de Caxemira, António de Andrade alegou que ia à procura de um irmão que não via há muito tempo e que pensava ser o rei do Tibete. O missionário português falava persa, a língua literária e comercial da região.
Ao fim de cerca de dois meses e de muitas peripécias, António de Andrade e Manuel Marques chegaram finalmente a Chaparangue, a capital do então Tibete Ocidental. A chegada dos dois portugueses não passou despercebida: "saía gente pelas ruas, e as mulheres às janelas a nos ver, como coisa rara e estranha", escreveu António de Andrade. O missionário constatou, também, que "a maior parte da população era muito acolhedora". Pelo que viu, o vestuário "não era propriamente limpo", mas as pessoas eram "muito meigas" e "raramente pronunciavam palavrões".
Quanto à geografia, o que aparentemente mais impressionou António de Andrade foram as "neves perpétuas" e a secura: "Não se encontra uma única arvore nem uma erva nos campos". Mesmo assim, havia "numerosos rebanhos de carneiros, cabras e cavalos" e "não faltava carne nem manteiga". António de Andrade voltou a Chaparangue em 1625 e depois dele, outros missionários portugueses percorreram o mesmo caminho.
A Companhia de Jesus chegou a estabelecer duas missões no Tibete e até à segunda metade do século XVIII, os relatos de António de Andrade, traduzidos em quase todas as línguas do mundo católico, desde a Espanha à Polónia, foram a única fonte dos estudos de tibetologia na Europa. Do ponto religioso, porém, a missão dos jesuítas ao Tecto do Mundo não parece ter sido um sucesso: quase 400 anos depois, a esmagadora maioria dos tibetanos continuam a ser budistas.
António de Andrade (1581-1634) nasceu em Oleiros, distrito de Castelo Branco. Entrou para a Companhia de Jesus com 15 anos de idade e em 1600 partiu para a Índia, onde viveu até morrer. A sua primeira viagem ao Tibete, iniciada a partir do Reino de Agra, no norte da Índia, ocorreu em 1624. Segundo a mitologia da época, haveria no Tibete "muitos cristãos" e "igrejas ricamente ornadas com imagens do Nosso Senhor Jesus Cristo e da Nossa Senhora".
António de Andrade viajava acompanhado por um sacerdote da mesma Ordem chamado Manuel Marques. Iam ambos "disfarçados de mouros", com um grupo de "peregrinos pagãos". Quando foram descobertos, em Srinagar, a capital de Caxemira, António de Andrade alegou que ia à procura de um irmão que não via há muito tempo e que pensava ser o rei do Tibete. O missionário português falava persa, a língua literária e comercial da região.
Ao fim de cerca de dois meses e de muitas peripécias, António de Andrade e Manuel Marques chegaram finalmente a Chaparangue, a capital do então Tibete Ocidental. A chegada dos dois portugueses não passou despercebida: "saía gente pelas ruas, e as mulheres às janelas a nos ver, como coisa rara e estranha", escreveu António de Andrade. O missionário constatou, também, que "a maior parte da população era muito acolhedora". Pelo que viu, o vestuário "não era propriamente limpo", mas as pessoas eram "muito meigas" e "raramente pronunciavam palavrões".
Quanto à geografia, o que aparentemente mais impressionou António de Andrade foram as "neves perpétuas" e a secura: "Não se encontra uma única arvore nem uma erva nos campos". Mesmo assim, havia "numerosos rebanhos de carneiros, cabras e cavalos" e "não faltava carne nem manteiga". António de Andrade voltou a Chaparangue em 1625 e depois dele, outros missionários portugueses percorreram o mesmo caminho.
A Companhia de Jesus chegou a estabelecer duas missões no Tibete e até à segunda metade do século XVIII, os relatos de António de Andrade, traduzidos em quase todas as línguas do mundo católico, desde a Espanha à Polónia, foram a única fonte dos estudos de tibetologia na Europa. Do ponto religioso, porém, a missão dos jesuítas ao Tecto do Mundo não parece ter sido um sucesso: quase 400 anos depois, a esmagadora maioria dos tibetanos continuam a ser budistas.
Texto da autoria de António Caeiro (Agência Lusa) 18.3.2008
Nota: A história do padre jesuíta António de Andrade que foi até ao “Tecto do Mundo” (Tibete) no século 17, foi 'resgatada' pelo padre Benjamim Videira Pires que encontrou as cartas de Andrade nos arquivos do Vaticano e lhes deu vida num livro editado em 1988 pelo ICM, em Macau.
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