Na segunda metade do século 19 Macau teve 12 governadores. Porventura o mais marcante foi Ferreira do Amaral. Na imagem pode ver-se a estátua do mesmo em Macau - feita em 1935 em Portugal e inaugurada em Macau a 24 Junho 1940 - num postal da década 1960/70 e que actualmente pode ser vista na Alameda da Encarnação em Lisboa.
Eis alguns os governadores da segunda metade do século XIX:
João M. Ferreira do Amaral (1846-1849). Isidoro Guimarães (1851-1863). Coelho do Amaral (1863-1866). Almirante Sérgio de Souza (1868-1872). Conde de S. Januário (1872-1874). J. M. Lobo d'Ávila (1874-1876). Tomás de Sousa Rosa (1883-1886). Custódio Miguel de Borja (1890). José Maria de Sousa Horta e Costa (1894). Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo (1897)
Eis alguns os governadores da segunda metade do século XIX:
João M. Ferreira do Amaral (1846-1849). Isidoro Guimarães (1851-1863). Coelho do Amaral (1863-1866). Almirante Sérgio de Souza (1868-1872). Conde de S. Januário (1872-1874). J. M. Lobo d'Ávila (1874-1876). Tomás de Sousa Rosa (1883-1886). Custódio Miguel de Borja (1890). José Maria de Sousa Horta e Costa (1894). Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo (1897)
(...) Depois de ocupar militarmente toda a península de Macau, desde as muralhas à Porta do Cerco, o heróico governador João Maria Ferreira do Amaral executou essa promessa verbal, incumbindo o capitão do porto, Pedro José da Silva Loureiro, em Abril de 1847, de construir a Casa Forte da Taipa. Depois de difíceis negociações com os mandarins limítrofes e com o vice-rei de Cantão, a bandeira portuguesa arvorou-se pela primeira vez nessa ilha aos 9 de Setembro de 1847. Em 1879 foi também ocupada a Taipa Quebrada ou Ilha de Maria Nunes e aí levantado um quartel, no antigo edifício do hospital, hoje Centro de Recuperação Social.
A 23 de Dezembro de 1864, os habitantes de Coloane pediram que uma força militar portuguesa os fosse proteger contra os piratas. Um destacamento de 10 polícias dirigiu-se imediatamente para aquela ilha. A administração dos três novos territórios (note-se que então a Taipa eram duas ilhas) organizou-se em 1878.
Entretanto, Isidoro Francisco Guimarães (1851-1863) era encarregado por Lisboa de negociar um tratado com a China, que sancionasse a situação de facto, que Ferreira do Amaral criara. O acordo de amizade e de comércio, datado de 13 de Agosto de 1862, em Tientsin, foi assinado em Pequim, mas não ratificado, dois anos depois, como se previra. O obstáculo esteve no artigo 9°, que permitiria, em Macau, a fixação dum consulado chinês, mas não dum mandarinato, como acontecia anteriormente ao governador mártir. A Coelho do Amaral faltou o tacto do seu antecessor, Isidoro F. Guimarães; e os governadores José Maria da Ponte e Horta (1866-68), António Sérgio de Sousa (1868-72) - que deixou de enviar a nossa polícia à ilha da Lapa, para a ronda e prisão dos criminosos -, Januário Correia de Almeida (1872-74) e Joaquim José da Graça (1879-83) não lograram convencer os chineses a adoptar o nosso ponto de vista.
A solução de compromisso encontrou-a Tomás de Sousa Rosa (1883-86), que se aproveitou da necessidade que os chineses sentiam do nosso apoio para a fiscalização do contrabando do ópio, feito através de Macau e de Hong Kong.
O tratado de Pequim, datado de 2 de Dezembro de 1887 e ratificado em 28 de Agosto de 1888, confirma, no seu 2° artigo, o protocolo assinado em Lisboa, aos 26 de Março do mesmo ano, por Henrique de Barros Gomes, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e por James Duncan Campbell, representante do Governo da China, que diz:
Art°2° - "A China confirma a perpétua ocupação e governo de Macau por Portugal, como qualquer outra possessão portuguesa".
Art° 3° - "Portugal obriga-se a nunca alienar Macau e suas dependências, sem acordo com a China".
Infelizmente, apesar de muitas negociações que se prolongaram até nossos dias, a China fugiu sempre a delimitar as fronteiras territoriais de Macau e a especificar quais são "as suas dependências ". (...) Quase todos os governadores, atrás enumerados, formam ainda uma galeria de figuras cimeiras, no trabalho de construção e desenvolvimento de Macau.
Assim, Isidoro F. Guimarães ergueu, no local duma anterior residência dos governadores e capitães-gerais, que data de 1772, frente à actual estátua de Jorge Álvares, um grandioso palácio, que seus sucessores Coelho do Amaral, Ponte e Horta e Sérgio de Sousa valorizaram com ricas mobílias, louças, roupas e uma capela.
No sítio do antigo convento e em parte do forte de S. Francisco, Coelho do Amaral edificou, em 1864-5, o quartel do mesmo nome, "espaçoso, bem arejado, em excelentes condições, e ocupado (em 1894) pelo batalhão do regimento do ultramar, destacado em Macau".
Tomás de Sousa Rosa comprou à viúva do barão de Cercal o seu palácio, que em 1849 levantara o grande arquitecto macaense José Tomás de Aquino. Desde 1884, os governadores passaram a residir neste palácio. "Durante algum tempo, estiveram nelle diversas repartições;.mais tarde, todas se installaram, com grande commodidade para o serviço público, no antigo palácio do governo, um óptimo edificio também, e onde principalmente se admira a sala do tribunal, que era a antiga sala do throno do palácio. Quantos capitães de districto na metrópole invejariam este edificio para as suas repartições, e como todos desejariamos que o tribunal da Boa Hora se parecesse, de longe, com o tribunal de Macau! Ao lado, fica o pequeno correio (ex-casa da guarda)estabelecido também durante o governo de Thomaz Rosa. Até então era coisa que não havia na provincia! Toda a correspondência se enviava pelo vapor da carreira, ao correio de Hong Kong".
Tomás de Sousa Rosa mandou criar e plantar 60.000 árvores, por todas as encostas da cidade. Transformou a Horta da Mitra num bairro salubre. Aí estava "edificada a pequena mas elegante escola Príncipe D. Carlos, onde os chinas, com grande beneficio para o prestígio do nosso domínio, aprendiam português". Eis a primeira Escola Luso-Chinesa. "Era deveras bonito o pequeno palácio da Flora, habitação também do governador, com um jardim do estilo de Le Notre". Porventura a maior obra material de Tomás Rosa foi o saneamento e a construção do Bairro de S. Lázaro, com a sua igreja, "a mais bonita e risonha de todas".
Principiado a formar-se em 1809,1814 e 1818, com os cristãos fugidos das perseguições da China, o bairro de S. Lázaro teve, como primeiros apóstolos, o agostinho espanhol P.e José Segui, o P.e António Vieira e o P.e Marcos Liu (1847-1858). Antes foco da peste bubónica, estenderam-se os portugueses para ele, em 1878, e para os demais bairros chineses, em 1896. O governador Horta e Costa e o engenheiro-director das Obras Públicas, Abreu Nunes, completaram o trabalho dos antecessores, urbanizando o então chamado "bairro de Volong" (1900-1904). (...)
Outro grande obreiro do progresso de Macau fora, dez anos antes de Tomás de Sousa Rosa, o Visconde de S. Januário, Januário Correia de Almeida, que se distinguira como governador-geral da Índia Portuguesa. A ele se devem a abertura das estradas da Barra e de D. Maria II, os trabalhos de pesquisa de água na parte posterior do Jardim da Flora, a bateria rasante do 1° de Dezembro, na ponta da praia de. S. Francisco, uma carreira de tiro no Campo da Vitória, uma nova casa para a guarda, na Praia Grande, o começo do alargamento do aterro marginal do Porto Interior, a canalização geral das ruas próximas do novo bazar e teatro chinês, junto da doca de Manuel Pereira, a construção de um quartel destinado a uma bateria de artilharia, na Fortaleza do Monte, o aterro marginal e muralha sul da Praia Grande e sobretudo o Hospital, cujo projecto se deve ao barão do Cercal, António Alexandrino de Mello, e foi inaugurado no 1° de Dezembro de 1872. Dirigiram a obra o capitão Henrique Dias de Carvalho, que ocupava o cargo de director das Obras Públicas. Colaboraram o tenente-coronel de engenharia Francisco Jerónimo Luna e o chefe do Serviço de Saúde, dr. Lúcio Augusto da Silva. (...)
A 23 de Dezembro de 1864, os habitantes de Coloane pediram que uma força militar portuguesa os fosse proteger contra os piratas. Um destacamento de 10 polícias dirigiu-se imediatamente para aquela ilha. A administração dos três novos territórios (note-se que então a Taipa eram duas ilhas) organizou-se em 1878.
Entretanto, Isidoro Francisco Guimarães (1851-1863) era encarregado por Lisboa de negociar um tratado com a China, que sancionasse a situação de facto, que Ferreira do Amaral criara. O acordo de amizade e de comércio, datado de 13 de Agosto de 1862, em Tientsin, foi assinado em Pequim, mas não ratificado, dois anos depois, como se previra. O obstáculo esteve no artigo 9°, que permitiria, em Macau, a fixação dum consulado chinês, mas não dum mandarinato, como acontecia anteriormente ao governador mártir. A Coelho do Amaral faltou o tacto do seu antecessor, Isidoro F. Guimarães; e os governadores José Maria da Ponte e Horta (1866-68), António Sérgio de Sousa (1868-72) - que deixou de enviar a nossa polícia à ilha da Lapa, para a ronda e prisão dos criminosos -, Januário Correia de Almeida (1872-74) e Joaquim José da Graça (1879-83) não lograram convencer os chineses a adoptar o nosso ponto de vista.
A solução de compromisso encontrou-a Tomás de Sousa Rosa (1883-86), que se aproveitou da necessidade que os chineses sentiam do nosso apoio para a fiscalização do contrabando do ópio, feito através de Macau e de Hong Kong.
O tratado de Pequim, datado de 2 de Dezembro de 1887 e ratificado em 28 de Agosto de 1888, confirma, no seu 2° artigo, o protocolo assinado em Lisboa, aos 26 de Março do mesmo ano, por Henrique de Barros Gomes, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e por James Duncan Campbell, representante do Governo da China, que diz:
Art°2° - "A China confirma a perpétua ocupação e governo de Macau por Portugal, como qualquer outra possessão portuguesa".
Art° 3° - "Portugal obriga-se a nunca alienar Macau e suas dependências, sem acordo com a China".
Infelizmente, apesar de muitas negociações que se prolongaram até nossos dias, a China fugiu sempre a delimitar as fronteiras territoriais de Macau e a especificar quais são "as suas dependências ". (...) Quase todos os governadores, atrás enumerados, formam ainda uma galeria de figuras cimeiras, no trabalho de construção e desenvolvimento de Macau.
Assim, Isidoro F. Guimarães ergueu, no local duma anterior residência dos governadores e capitães-gerais, que data de 1772, frente à actual estátua de Jorge Álvares, um grandioso palácio, que seus sucessores Coelho do Amaral, Ponte e Horta e Sérgio de Sousa valorizaram com ricas mobílias, louças, roupas e uma capela.
No sítio do antigo convento e em parte do forte de S. Francisco, Coelho do Amaral edificou, em 1864-5, o quartel do mesmo nome, "espaçoso, bem arejado, em excelentes condições, e ocupado (em 1894) pelo batalhão do regimento do ultramar, destacado em Macau".
Convento de Santa Clara e respectiva cerca vito da colina de S. Jerónimo |
Tomás de Sousa Rosa mandou criar e plantar 60.000 árvores, por todas as encostas da cidade. Transformou a Horta da Mitra num bairro salubre. Aí estava "edificada a pequena mas elegante escola Príncipe D. Carlos, onde os chinas, com grande beneficio para o prestígio do nosso domínio, aprendiam português". Eis a primeira Escola Luso-Chinesa. "Era deveras bonito o pequeno palácio da Flora, habitação também do governador, com um jardim do estilo de Le Notre". Porventura a maior obra material de Tomás Rosa foi o saneamento e a construção do Bairro de S. Lázaro, com a sua igreja, "a mais bonita e risonha de todas".
Principiado a formar-se em 1809,1814 e 1818, com os cristãos fugidos das perseguições da China, o bairro de S. Lázaro teve, como primeiros apóstolos, o agostinho espanhol P.e José Segui, o P.e António Vieira e o P.e Marcos Liu (1847-1858). Antes foco da peste bubónica, estenderam-se os portugueses para ele, em 1878, e para os demais bairros chineses, em 1896. O governador Horta e Costa e o engenheiro-director das Obras Públicas, Abreu Nunes, completaram o trabalho dos antecessores, urbanizando o então chamado "bairro de Volong" (1900-1904). (...)
Outro grande obreiro do progresso de Macau fora, dez anos antes de Tomás de Sousa Rosa, o Visconde de S. Januário, Januário Correia de Almeida, que se distinguira como governador-geral da Índia Portuguesa. A ele se devem a abertura das estradas da Barra e de D. Maria II, os trabalhos de pesquisa de água na parte posterior do Jardim da Flora, a bateria rasante do 1° de Dezembro, na ponta da praia de. S. Francisco, uma carreira de tiro no Campo da Vitória, uma nova casa para a guarda, na Praia Grande, o começo do alargamento do aterro marginal do Porto Interior, a canalização geral das ruas próximas do novo bazar e teatro chinês, junto da doca de Manuel Pereira, a construção de um quartel destinado a uma bateria de artilharia, na Fortaleza do Monte, o aterro marginal e muralha sul da Praia Grande e sobretudo o Hospital, cujo projecto se deve ao barão do Cercal, António Alexandrino de Mello, e foi inaugurado no 1° de Dezembro de 1872. Dirigiram a obra o capitão Henrique Dias de Carvalho, que ocupava o cargo de director das Obras Públicas. Colaboraram o tenente-coronel de engenharia Francisco Jerónimo Luna e o chefe do Serviço de Saúde, dr. Lúcio Augusto da Silva. (...)
Excerto de artigo (as imagens são do acervo do blogue) da autoria de Benjamim Videira Pires, orientalista e investigador da história portuguesa no Oriente e da Missão Jesuítica na Ásia com dezenas de títulos publicados
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