A aclamação del Rei D. João IV em Macau, da autoria de Frazão de Vasconcelos (1889-1970), editado em Lisboa pela Agência Geral das Colónias em 1929.
A 20 de Junho de 1642 foram jurados e solenemente aclamados com pompa e festa de dois dias, em Macau, El-Rei D. João IV e o Príncipe D. Teodósio, seu herdeiro presuntivo. Era Capitão-Geral da praça D. Sebastião Lobo da Silveira, em cujo governo, de 1638 a 1645, terminou o comércio com o Japão, tendo a missão enviada para esse país para consegui o seu restabelecimento sido quase toda exterminada.
Excerto do livro:
"A aclamação de D. João IV em Macau revestia uma importância grandíssima, mercê de circunstâncias extraordinárias, de ordem material e moral. De Manilha, onde tinham sua principal base, podiam os castelhanos intentar uma surpresa contra Macau se a notícia da aclamação chegasse primeiro ao seu conhecimento que ao dos portugueses.
A perda de Macau representava para Portugal a perda do comércio da China e a de grande esperança do restabelecimento das relações com o Japão . Sem o comércio da China, afirmava em 1642 o Padre Cardim a el Rei D. João IV, não havia Índia rica. E não era sómente isto. Havia ainda a ter em conta que os portugueses de Macau iam todos os anos a Manilha levar fazendas que importavam em mais de dois milhões de atroe que se o aviso da aclamação chegasse depois dêles se encontrarem em Manilha se comprometeria grandemente a situação de Macau. Foi o que logo ponderou ao Vice-Rei da Índia o Padre António Francisco Cardim, Procurador Geral da Companhia de Jesus na Província do Japão, então assistente em Goa, e que em 1642 se encontrava já em Lisboa, onde dirigiu ao Rei, sôbre o assunto, o memorial que publicamos, até agora inédito.
Na côrte de Lisboa o caso não foi igualmente descurado, tendo-se tomado a resolução de enviar a Macau, com tôda a possível urgência, António Fialho de Ferreira,* que aqui se encontrava esperando socorros para o Estado da Índia que em nome do Vice Rei Pedro da Silva viera requerer. No espiritual, com Macau, perder-se-iam a cristandade do Tonquim, a melhor do Oriente, onde se baptizavam por ano dez a dôze mil almas, e as da Cochinchina, de Camboja, de Sião, etc.A aclamação de D- João IV naquela nossa mais longínqua colónia não foi , pois um facto sem significado e sem interêsse. Bem pelo contrário.”
Macau em meados do século XVII: ilustração reproduzida no livro |
Por causa de uma grave discórdia entre o povo e os ministros do Rei ausentou-se de Macau no ano de 1637, dirigindo-se por terra, à Índia. O Vice-Rei Pedro da Silva conhecendo a capacidade do seu talento mandou-o representar a el Rei de Castela e Portugal (em Madrid; 1580 – 1640 dinastia filipina) o miserável estado a que estava reduzida a Índia. Por terra, chegou a Roma onde se encontrou com o Embaixador de Castela e depois via Valença chegou a Madrid onde ” representou a el Rei a causa que o obrigara para empreender jornada tão dilatada que perigosa”
Foi logo mandado a Lisboa para que aprestassem seis naus que socorressem a Índia. Encontrava-se em Lisboa quando se deu a aclamação de D. João (1 de Dezembro de 1640) como Rei tendo logo António Fialho Ferreira jurado fidelidade ao novo rei português. Foi-lhe dado a incumbência de seguir com urgência para Macau onde logo que chegou, em 31 de Maio de 1942, convocou as pessoas principais do estado eclesiástico e seculares, lhes expôs em uma elegante oração a feliz notícia de estar exaltado ao trono de Portugal, o Senhor D. João, o IV a quem deviam reconhecer por seu Rei e Senhor.
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