Em fins de Agosto de 1971 foi encontrado um nicho nesta fortaleza, acerca do qual escreve o P. Videira Pires: «O Visitador dos Jesuítas no Oriente, Pe. Jerónimo Rodrigues (1619-1621 e 1622-1626), fala, a propósito da batalha contra os holandeses em 1622, de que foi testemunha, de «la hermida de Nues tra Señora del monte de S. Paulo».
Um documento, que publiquei em primeira mão, afirma que os Jesuítas chamavam ao Monte «Nossa Senhora do Monte» e Bocarro, em 1635, escreve que a Fortaleza de «Sam Paulo» era «chamada por outro nome a Madre de Deos».
Um documento, que publiquei em primeira mão, afirma que os Jesuítas chamavam ao Monte «Nossa Senhora do Monte» e Bocarro, em 1635, escreve que a Fortaleza de «Sam Paulo» era «chamada por outro nome a Madre de Deos».
Se o Monte foi adquirido por Valignano, nos fins de século XVI, para recreação e refúgio, em caso da ataque dos holandeses, é natural que tivesse uma capelinha, pois o Colégio da Madre de Deos achava-se ocupado pelas senhoras mais nobres da terra. Ora, segundo os depoimentos do 1.º capitão-geral D. Francisco de Mascarenhas a seus amigos, em 1623, não havia, na Fortaleza, de que ele se apoderara sem para tanto ter apresentado ordem de El-Rei, «capela ou cubiculo ou cousa alguma que pareça religiosa ou de religião». Portanto, se é certo que, antes de 1633, havia uma capelinha no Monte, enquanto ele esteve eompletamente nas mãos dos Jesuítas, e, depois dessa data, ela desapareceu, é porque Mascarenhas a mandou ou destruir (o que nos custa a crer) ou entaipar, para justificar, perante as cortes de Goa e Lisboa, a sua brusca ocupação.
«A cabeça do governo político de Macau» foi sempre, até Soares Audrea, excepto o breve intervalo de 1784-1789, o Leal Senado. Os Jesuítas não reconheceram, assim como grande parte da população, autoridade mais que militar a Mascarenhas e, por isso, nunca lhe apresentaram o título de posse do Monte. O usufruto dela, pelo menos em parte, também lhe não foi tirado, mesmo no decreto de 28 de Fevereiro de 1630, pelo próprio monarca. Eles mantiveram a sua porta e chave privativa, podendo ir lá quando queriam.
Mais há mais. O Pe. José Montanha, Provincial do Japão de 1749 a 1752, atesta, nos seus Aparatos para a História do Bispado de Macau (Ta-Ssi-Yany-Kuo, ps. 410-421, e Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau, Set. de 1969, p. 871), que, no «corpo da guarda, logo à entrada sudeste da Fortaleza, «está hua Capellinha». Quer isto dizer que, em 1750, ou a primitiva capelinha havia sido desentaipada, ou tinha sido construída outra nova. Somos pela primeira alternativa, a fim de alinharmos com a hipótese referida de que Mascarenhas se não atreveu a destruir a capelinha primitiva e pelas razões abaixo expendidas.
Aconteceu que, nos últimos dias de Agosto próximo passado, umas obras, que estão ainda em curso, fizeram aparecer, detrás da pedra de armas da Fortaleza, perfeitamente entaipado, com argamassa antiga (taipa), um nicho nìtidamente religioso, com duas pequeníssimas colunas salomónicas de cada lado. A cor vermelha, bastante bem conservada, o estilo barroco, o estuque... levam-nos a crer que se trata duma obra exactamente coeva da fachada de S. Paulo, se não anterior.
Na década de 1950, nesta perspectiva, ainda era visível a Fortaleza do Monte |
O centro do «corpo da guarda», de que nos falam Bocarro e Montanha, situava-se precisamente nesse local do nicho. Por cima do nicho, há um arco, em parte destruído por incúria e ignorância e que devia continuar para a entrada, até formar o espaço necessário para um altar--assim o supomos. E aqui teríamos nós a tal «Capellinha» no «corpo da guarda» do Monte, de que nos fala claramente Montanha, em 1750.
Nas plantas das fortalezas de Macau que acompanham o relatório do tenente Carlos Julião, de 24 de Dezembro de 1775, vê-se, na do Monte, perfeitamente, o «corpo da guarda», com as duas saídas laterais de que fala Bocarro, mas não há nenhuma cruz indicativa da capela, como nos esboços da Barra e da Guia. Calculamos que terá sido, de novo, entaipada, após 1762, data da expulsão dos Jesuítas.
Diga-se a verdade que a posição da capela, naquela entrada, só vinha obstruir os movimentos e contribuir para a sua profanação, sobretudo em épocas menos religiosas.
Diga-se a verdade que a posição da capela, naquela entrada, só vinha obstruir os movimentos e contribuir para a sua profanação, sobretudo em épocas menos religiosas.
Em conclusão: Havia uma capelinha de Nossa Senhora, no Monte, anterior à construção da Fortaleza e enquanto os Jesuítas tiveram a posse completa dele. Em face da descoberta efectuada fortuitamente, em fins do mês de Agosto de 1971 perante o testemunho seguro do Pe. Montanha, combinado com o plano da Fortaleza de 1775, essa mesma «capellinha» estava no centro do «corpo da guarda» e terá sido desentaipada, provàvelmente depois que Mascarenhas saiu de Macau, e, de novo entaipada, após 1762». Esta capelinha desapareceu há muito.
Texto do Padre Manuel Teixeira
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