Estava o Colégio de S. Paulo como estabelecimento universitário a funcionar; “quando em 1603 a Companhia de Jesus adquiriu a Ilha Verde a algumas famílias chinesas que ali possuíam sepulturas de antepassados seus, não podia prever que aquele pequeno pedaço de terra, a quem um mandarim chamou com certa dose de humor de porcelana de arroz revirada, pudesse abrir uma nova e inoportuna frente de conflito com as autoridades chinesas.”
Jorge M. dos Santos Alves em Um Porto entre dois Impérios (IPOR, Livros do Oriente, 1999). Já do Padre Manuel Teixeira: “A ilha era um local ideal de recreio para alunos e professores dos colégios dos jesuítas e de retiro para os missionários doentes e que cansados aí vinham repousar. Servia também para introduzir os missionários na China.”
Por tal em 1603 ou 1604, a Companhia de Jesus, pelos padres Alexandre Valignano, Visitador dos Jesuítas e Valentim de Carvalho S.J. reitor do Colégio de S. Paulo, tomou posse da pequena ilha que se situava no meio de um dos ramos do rio Xi (Oeste), entre as margens da península de Haojing (nome que Macau tinha nos registos chineses) e da ilha da Lapa. Era uma ilha inóspita a que, por troça, se deu o nome de Ilha Verde. Mas a verdade é que em poucos anos tal aglomerado rochoso, tornou-se num verdejante e agradável recanto para dias estivais, como relata a professora Ana Maria Amaro.
Jorge M. dos Santos Alves em Um Porto entre dois Impérios (IPOR, Livros do Oriente, 1999). Já do Padre Manuel Teixeira: “A ilha era um local ideal de recreio para alunos e professores dos colégios dos jesuítas e de retiro para os missionários doentes e que cansados aí vinham repousar. Servia também para introduzir os missionários na China.”
Por tal em 1603 ou 1604, a Companhia de Jesus, pelos padres Alexandre Valignano, Visitador dos Jesuítas e Valentim de Carvalho S.J. reitor do Colégio de S. Paulo, tomou posse da pequena ilha que se situava no meio de um dos ramos do rio Xi (Oeste), entre as margens da península de Haojing (nome que Macau tinha nos registos chineses) e da ilha da Lapa. Era uma ilha inóspita a que, por troça, se deu o nome de Ilha Verde. Mas a verdade é que em poucos anos tal aglomerado rochoso, tornou-se num verdejante e agradável recanto para dias estivais, como relata a professora Ana Maria Amaro.
Na província de Guangdong, em 1605, começava a haver oficiais que vendo a ocupação da Ilha Verde pelos jesuítas, local que ficava fora da cidade delimitada para os portugueses, se sentiram ameaçados. O padre Manuel Teixeira refere-se a um licenciado de Pan-yu, Lou-Ting-long tendo vindo à capital (Beijing) para o exame de doutoramento, pediu que expulsassem os bárbaros que estavam na baía (Ngao=Hao-king-ngao, ou seja Macau), que os mandasse residir nas águas fora de Lang po (Lampacao), e que nos restituíssem o nosso território de Hao-King (ou Hoi-Kieng, Macau). As suas preocupações foram, sem sucesso, transmitidas à corte imperial, onde o P. Ricci era já bem conhecido.
Já Luís Filipe Barreto, em Macau During the Ming Dynasty (Centro Científico e Cultural de Macau, I.P., Lisboa 2009), diz que: ”O primeiro debate sobre como Macau deveria ser governado, ocorreu em 1605, no reinado do imperador Wanli quando os portugueses construíram muralhas e uma capela na ilha Verde sem autorização. No ano seguinte houve rumores que o jesuíta Lazzaro Cattaneo preparava uma alegada rebelião contra a China. Após o corte de mantimentos e o cessar do comércio com Macau, Lu Tinglong, um candidato aos Exames Imperiais em Panyu, teve a oportunidade de dizer em voz alta a sua proposta: pôr fora do distrito de Xiangshan todos os estrangeiros e voltar a colocar Macau de volta à soberania da China. No entanto, a sua proposta foi rejeitada liminarmente pela Corte.” (Shen Defu, Miscellaneous Collections Compiled during the Reign of Emperor Wanli [Wan Li Ye Huo Pian] Beijing Zhonghua Book Company, 1997).
Em 1606, os jesuítas edificaram na ilha Verde umas quantas casas de taipal e uma capela dedicada a S. Miguel. Estes edifícios causaram no lado chinês uma grande apreensão, avivada por boatos criados pelo contencioso que na altura existia entre os padres católicos das diferentes ordens religiosas instaladas em Macau.
Segundo as fontes chinesas na Breve Monografia de Macau de Yin Guangren e Zhang Rulin (Edição do Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau, 12/2009): “A norte (de Macau) fica Qingzhoushan (a colina da Ilha Verde). Esta ilha fica num mar azul que separa Qianshan de Aoshan. Em meados do reinado de Jianjing, os Folangji (nome dado pelos chineses aos portugueses, e que provinha de um passado muito remoto pois era assim que era conhecido na China o Império Romano do Oriente e todo o litoral do Mediterrâneo sob o seu domínio) entraram em Macau. No 34.º ano (1606) chegaram a levantar nessa ilha um templo (igreja) de seis ou sete zhang (1 zhang = 3,048 metros) de altura e de uma imponência impressionante. O magistrado distrital Zhang Dayou (de nome próprio Yun Sheng, outro nome próprio público Wucheng, natural de Huangpo, em Hubei, tinha desde 1595, o título de jinshi) solicitou que fosse destruída uma alta muralha, o que não se veio a concretizar.”
O padre Manuel Teixeira, ao magistrado distrital Zhang Dayou chama sub-prefeito Tchang Ta Yeou e diz que o pedido deste para os jesuítas deitarem abaixo os altos muros foi em vão. Depois é Paul Pelliot que, na revista T’oung Pau vol. XXX, Leide, 1933, fornece notas ao fazer a crítica à crónica Sino-Portuguese Trade de T’ien-tsê-Chang. Assim argumentando quanto ao templo de seis ou sete zhang (60 ou 70 pés) que, pela sua amplidão e pelo seu mistério, não tinha rival na China, “não parece que possa tratar-se da capela que teria sido construída na Ilha Verde, e a descrição não pode aplicar-se senão à catedral de S. Paulo; mas esta foi acabada em 1602 e encontra-se em Macau mesmo, e não sobre a Ilha Verde.” Quanto às muralhas, há um acordo nas fontes religiosas portuguesas serem apenas os muros da igreja.
Ruínas do convento da ilha Verde |
Foram esses muros (as primeiras muralhas da cidade) ligados com a presença dos jesuítas na Ilha Verde que, em 1606 levou a estar por um fio a permanência dos portugueses em Macau.
A "antiga propriedade dos jesuítas" no final do séc. 19 |
Continuando com o padre Manuel Teixeira no livro Os Militares em Macau: “Quando os jesuítas construíram a cerca do Colégio de S. Paulo, os chineses temeram que fosse alguma fortificação dirigida contra eles. Esta suspeita foi avivada pelos inimigos dos jesuítas que espalharam o boato de que estes se queriam assenhorar da China, com o auxílio dos portugueses, japoneses e malaios sob o comando do P. Lázaro Cattaneo.” E segundo as palavras do P. Trigault “o P. Cattaneo, homem bem constituído, activo, duma fisionomia simpática e de aparência venerável pela sua barba, estava destinado segundo os chineses, a ser o imperador”. “Estes boatos ridículos achavam-se já semeados e propagados por todos os lados”...”Um letrado publicou por então um livro de ódio e malícia, em que representava o P. Cattaneo como pretendente ao Império; os japoneses e malaios eram seus auxiliares.”
Esses rumores foram propagados devido a nessa altura (1606) se travar uma violenta polémica entre duas ordens de frades mendicantes, sendo uma apoiada pelo Vigário Geral do bispado, o Agostinho Frei Miguel dos Santos e no outro lado, encontrava-se o reitor dos Jesuítas e do Colégio de S. Paulo, o P. Valentim de Carvalho S.J.. “Houve excomunhões de parte a parte e a cidade dividiu-se em dois campos, com grande escândalo dos gentios.” (Padre Manuel Teixeira em Diocese de Macau)
Tal episódio fez perigar a ainda curta existência portuguesa na cidade de Macau e o caso só serenou porque imperou o bom senso por parte de um oficial de Heong-Shan, que veio a Macau perceber o que se passava.
Artigo da autoria de José Simões Morais publicado no JTM de 29-7-2011
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