Era o último governador de Macau antes do 25 de Abril ainda vivo
O último governador português de Cabo Verde e ex-governador de Macau, general António Adriano Lopes dos Santos, faleceu sábado (15 de Agosto) aos 92 anos. Lopes dos Santos era o último governador de Macau antes do 25 de Abril que ainda estava vivo. António Lopes dos Santos nasceu em Bragança, a 28 de Dezembro de 1919. Fez a escola primária na Figueira da Foz e o liceu em Bragança. Foi um general oriundo da arma de Engenharia que tanto agradou ao regime de Salazar e Caetano, como ao regime democrático surgido no 25 de Abril. Antes e depois da Revolução de 1974 ocupou altos postos militares que implicavam também a confiança política dos sucessivos governos.
Governador de distrito em Moçambique de 1959 a 1962, já tinha desempenhado a primeira missão oficial em Macau, como Chefe do Estado-Maior da Guarnição Militar, entre 1956 e 1958. Depois de deixar Moçambique rumou novamente a Macau, onde foi governador entre 1962 e 1966. Lopes dos Santos chegou ao território em Fevereiro de 1962 para substituir o tenente-coronel Jaime Silvério Marques, exonerado do cargo. Foi enquanto governador de Macau que foram divulgados pormenores do Plano Intercalar de Fomento de Macau para os anos de 1962 a 1965. O projecto previa mais aterros, a criação de novas zonas residenciais em aterros, a urbanização do Porto Exterior, a construção de um aeroporto na Ponta da Cabrita, na parte este da ilha da Taipa, de três hotéis modernos, um casino, e centros comerciais, cívicos, turísticos, de saúde e de recreio e lazer. Foi durante a era de Lopes dos Santos que foi assinada a primeira concessão de jogo do território.
Quatro anos depois, José Manuel Nobre de Carvalho substituiu Lopes dos Santos no cargo de governador de Macau. Depois de Macau, António Lopes dos Santos foi segundo comandante militar e comandante operacional adjunto do comando-chefe da Guiné, entre 1968 e 1970. Entre 1970 e as vésperas do 25 de Abril de 1974, esteve em Cabo Verde, como o último governador colonial.A seguir à Revolução do 25 de Abril, António Lopes dos Santos foi promovido a general e nomeado vice-chefe do Estado-Maior do Exército. Presidiu ao Conselho Superior de Disciplina do Exército e dirigiu o Centro de Estudos Militares. O seu último cargo público foi o de director do Instituto de Defesa Nacional, tendo depois presidido à assembleia geral da Associação da Secular Amizade Portugal-China. Isto apesar da sua ligação a Macau ter terminado no ano em que partiu do território. Ainda assim, em 2000, substituiu o general Rocha Vieira na presidência da Fundação Jorge Álvares (FJA). Tinha então 83 anos. O Conselho de Administração da FJA passou então a ser presidido pelo General Lopes dos Santos, integrando mais dois ex-governadores de Macau, Melo Egídio e Carlos Melancia, e ainda o editor Guilherme Valente e o advogado Manuel Coelho da Silva.
Na suas memórias, intituladas “Da varanda de Santa Sancha: memórias do ex-governador António Adriano Faria Lopes dos Santos”, o ex-governador afirmaria anos mais tarde: “durante o meu governo as soluções tinham que ser pensadas e repensadas, sobretudo quando os problemas eram de natureza política em relação à RPC, ou afectos a organizações ou a pessoas a ela ligadas. Para isso contribuía a não existência de relações diplomáticas com a RPC…”. Um testamento político.
Artigo do Jornal Hoje Macau - Agosto de 2009
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