O Padre César Brianza nasceu a 17 Abril 1917em Chiari, na Lombardia (Itália). Radicado no Extremo Oriente desde 1935, primeiro em Hong Kong - estudou piano com o conhecido maestro Elisio Gualdi - e Macau e depois em Xangai, que já era então uma das maiores e mais importantes e desenvolvidas cidades do mundo, de 1938 a 1949, onde concluiu o curso de Teologia e foi ordenado padre, e de novo em Hong Kong e Macau, após a entrada vitoriosa dos comunistas em Xangai, em Maio de 1949.
Em Xangai recebeu lições de Kostevich, outro grande maestro, até partir para Lisboa, em 1954, onde tirou o curso de piano no Conservatório Nacional. Dois anos mais tarde partiu para Viena, para um estágio de três meses no Augarten Palaiso, o que lhe permitiu assistir frequentemente aos ensaios do aclamado grupo coral “Viena Boys Choir”.
Professor de Música e de Religião e Moral no Colégio D. Bosco fundou em 1959 o coral dos “Pequenos Cantores do Colégio D. Bosco” dirigindo-o durante 16 anos.
Em 1962, juntamente com o Padre Áureo Castro, fundou a “Academia de Música de São Pio X”. Foi também orientador artístico da Banda da Polícia de Segurança Pública entre 1966 e 1980.
Em 1962, juntamente com o Padre Áureo Castro, fundou a “Academia de Música de São Pio X”. Foi também orientador artístico da Banda da Polícia de Segurança Pública entre 1966 e 1980.
A sua dedicação ao grupo dos Pequenos Cantores em Macau teve um grande impacto não só nos próprios jovens, como também no território. Conhecido pela sua dedicação, o Padre Brianza conseguiu transmitir aos jovens do Colégio Salesiano Dom Bosco uma confiança na procura de atingir a perfeição, merecendo rasgados elogios em cada actuação. Levar os Pequenos Cantores ao Japão foi um sonho tornado realidade para o padre, mas não se ficou por aqui, havendo outras digressões às Filipinas, Portugal, Singapura e Malásia.
Para mais informações sobre a vida e obra do Padre Brianza sugiro a leitura do livro "César Brianza – a missão, o coro e o sonho da China" da colecção “Missionários para o Século XXI”, do Instituto Internacional de Macau, e da autoria de João Guedes.
Excerto:
Excerto:
César Brianza chega a Macau num momento de crise da cultura. Os anos da Guerra (1939-45) tinham transfigurado Macau. Tendo-se então transformado num centro de refugiados de toda a China, a colónia portuguesa acolheu durante esse período artistas das mais diversas áreas. No âmbito da música as grandes orquestras que animavam a vida cultural de Xangai e de outras grandes cidades da China mudaram-se com armas e bagagens para a colónia portuguesa. Este movimento seria reforçado a partir do Natal de 1941, data da ocupação de Hong Kong pelos japoneses, o que fez com que se registasse um êxodo semelhante dos elementos mais destacados do panorama da música erudita e ligeira, do teatro e do espectáculo em geral da vizinha colónia britânica.
Com a reposição da normalidade que começou a ter lugar a partir de 1946, outro êxodo se viria a registar, mas este em sentido contrário, ou seja os grandes intérpretes culturais que tinham animado as ‘matinés’ e ‘soirées’ dos tempos da guerra deixavam inoxoravelmente Macau. Uns regressavam aos seus pontos de origem, nomeadamente a Hong Kong que rapidamente se recompunha da tragédia da ocupação nipónica. Alguns, voltavam a Xangai confiados que a grande metrópole de outrora voltaria a alcandorar-se ao brilho de antes da guerra. No entanto a maioria desiludia-se das promessas asiáticas e rumava à Europa, aos Estados Unidos da América, ou à Austrália. Todas tinham, um destino, mas ninguém ganhara raízes suficientemente sólidas para permanecer. De facto, Macau era um território demasiado pequeno para poder manter uma classe artística profissional fosse em que domínio fosse. Finda a guerra a música e o teatro passavam de novo a depender inteiramente de mecenas de ocasião e do empenho de amadores mais ou menos dotados.
Depois disso tudo foi definhando o que levava mesmo o escritor Henrique de Senna Fernandes a afirmar que a vida cultural macaense morreu nos anos 50. O panorama não seria tão drástico como o escritor afirmava, mas não se encontrava muito longe disso.
Salvava a situação Pedro José Lobo, com o seu ‘Círculo Cultural de Macau’ que promovia iniciativas em várias áreas. Assim surgem os debates, palestras e conferências em torno dos grandes temas que animavam a vida cultural europeia e americana. Pedro Lobo financiava também a edição de livros e era já conhecido na cidade como o mecenas. Sob a sua protecção (…) nasce pouco depois a delegação em Macau do ‘Círculo de Cultura Musical de Portugal’ que trouxe até cá grandes artistas nacionais e estrangeiros. Sequeira Costa, Silva Pereira, Varella Cid, Hellen Traubel, Catarina Heinz e António David foram apenas alguns dos que aqui actuaram.
Seja como for, porém, as iniciativas promovidas por Pedro Lobo e o seu ‘Círculo Cultural’ não passam de eventos esporádicos ainda que meritórios que não chegavam para levar verdadeiramente a arte à população em geral de um modo contínuo e abrangente.
No âmbito da educação musical, esteio e pólo de atracção de músicos, o ambiente era desolador. Nesse âmbito a educação com algum grau de estruturação limitava-se quase estritamente ao Seminário de S. José, já que o ensino oficial se circunscrevia às aulas rudimentares de solfejo do Liceu.”
Com a reposição da normalidade que começou a ter lugar a partir de 1946, outro êxodo se viria a registar, mas este em sentido contrário, ou seja os grandes intérpretes culturais que tinham animado as ‘matinés’ e ‘soirées’ dos tempos da guerra deixavam inoxoravelmente Macau. Uns regressavam aos seus pontos de origem, nomeadamente a Hong Kong que rapidamente se recompunha da tragédia da ocupação nipónica. Alguns, voltavam a Xangai confiados que a grande metrópole de outrora voltaria a alcandorar-se ao brilho de antes da guerra. No entanto a maioria desiludia-se das promessas asiáticas e rumava à Europa, aos Estados Unidos da América, ou à Austrália. Todas tinham, um destino, mas ninguém ganhara raízes suficientemente sólidas para permanecer. De facto, Macau era um território demasiado pequeno para poder manter uma classe artística profissional fosse em que domínio fosse. Finda a guerra a música e o teatro passavam de novo a depender inteiramente de mecenas de ocasião e do empenho de amadores mais ou menos dotados.
Depois disso tudo foi definhando o que levava mesmo o escritor Henrique de Senna Fernandes a afirmar que a vida cultural macaense morreu nos anos 50. O panorama não seria tão drástico como o escritor afirmava, mas não se encontrava muito longe disso.
Salvava a situação Pedro José Lobo, com o seu ‘Círculo Cultural de Macau’ que promovia iniciativas em várias áreas. Assim surgem os debates, palestras e conferências em torno dos grandes temas que animavam a vida cultural europeia e americana. Pedro Lobo financiava também a edição de livros e era já conhecido na cidade como o mecenas. Sob a sua protecção (…) nasce pouco depois a delegação em Macau do ‘Círculo de Cultura Musical de Portugal’ que trouxe até cá grandes artistas nacionais e estrangeiros. Sequeira Costa, Silva Pereira, Varella Cid, Hellen Traubel, Catarina Heinz e António David foram apenas alguns dos que aqui actuaram.
Seja como for, porém, as iniciativas promovidas por Pedro Lobo e o seu ‘Círculo Cultural’ não passam de eventos esporádicos ainda que meritórios que não chegavam para levar verdadeiramente a arte à população em geral de um modo contínuo e abrangente.
No âmbito da educação musical, esteio e pólo de atracção de músicos, o ambiente era desolador. Nesse âmbito a educação com algum grau de estruturação limitava-se quase estritamente ao Seminário de S. José, já que o ensino oficial se circunscrevia às aulas rudimentares de solfejo do Liceu.”
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