Quando estava no 2º ano, a escola promoveu um evento desportivo infantil e eu me inscrevi em várias modalidades. Nas eliminatórias, consegui me classificar para três finais. A competição das finais foi na unidade feminina. Das três competições, eu ganhei dois terceiros lugares e um primeiro lugar. O dia da entrega de prémios foi um dia de festa na escola, além da cerimónia de entrega de prémios e fotos dos ganhadores. As provas incluíam, por exemplo, saltar à corda.
Tecnologicamente, Macau pareceu-me menos avançado que o Brasil. Do que me recordo não era fácil aceder a certos electrodomésticos como geladeira e ferro eléctrico. No caso do ferro, usava-se o de carvão vegetal. Complicava um pouco para o meu pai principalmente, pois ele era alfaiate. Às vezes, eu e meus irmãos ajudavam abanando para que a brasa pegasse e aquecesse o ferro. Em relação à geladeira, ou melhor, à falta da mesma, minha mãe tinha que ir ao mercado todos os dias. Julgo que também não se vendia leite fresco nem café em pó. Comprávamos leite condensado e diluíamos em água quente e acrescentávamos em seguida café instantâneo. Pão somente havia o de forma, vendido em fatias.
Televisores poucas famílias possuíam. Meu pai comprou uma pequena com o intuito de facilitar nosso aprendizado na língua chinesa. Era corriqueiro verem pessoas desconhecidas nossas pararem à frente da loja e ficarem assistindo em pé. Isso acontecia em outras casas também. Lembro que assisti ao seriado “Kung Fu” com David Carradine e também a muitos filmes musicais com óperas chinesas. A programação era transmitida de Hong Kong, cidade onde tínhamos de ir de vez em quando para resolver assuntos burocráticos referentes à nossa permanência na colónia portuguesa. Íamos de navio. Adorava a viagem. Penso que demorava algumas horas, não sei ao certo. Havia a opção de uma viagem mais rápida em um barco menor, mas era mais caro. Viajamos uma vez e não gostei. Apreciava o maior, pois ficava o tempo todo olhando para o mar, as espumas e o horizonte...
Na cerimónia de entrega dos prémios das competições desportivas no colégio Yuet Wah |
Televisores poucas famílias possuíam. Meu pai comprou uma pequena com o intuito de facilitar nosso aprendizado na língua chinesa. Era corriqueiro verem pessoas desconhecidas nossas pararem à frente da loja e ficarem assistindo em pé. Isso acontecia em outras casas também. Lembro que assisti ao seriado “Kung Fu” com David Carradine e também a muitos filmes musicais com óperas chinesas. A programação era transmitida de Hong Kong, cidade onde tínhamos de ir de vez em quando para resolver assuntos burocráticos referentes à nossa permanência na colónia portuguesa. Íamos de navio. Adorava a viagem. Penso que demorava algumas horas, não sei ao certo. Havia a opção de uma viagem mais rápida em um barco menor, mas era mais caro. Viajamos uma vez e não gostei. Apreciava o maior, pois ficava o tempo todo olhando para o mar, as espumas e o horizonte...
Prova 'desportiva' no colégio |
Na Taipa em 1972 |
Jogo já era actividade de lazer comum naqueles tempos. Corriqueiro era ver pessoas jogando mahjong 麻 将, dia e noite. Penso que não é à toa que Macau hoje tem os jogos como uma das principais fontes de receita.
O regresso
O retorno ao Brasil deu-se em Julho de 1973. Poucas lembranças deste período, despedidas rápidas, malas arrumadas e de volta à terra natal. Hora de rever parentes e me readaptar à vida no ocidente. Um pouco de dificuldade na escola, já que o ano lectivo inicia-se em Fevereiro/Março. Ficamos um período morando com meu avô, mas em dois meses nos mudamos para uma casa. E mudamos de escola de novo, mas no final deu tudo certo. Recomendo experiências internacionais, quem tiver oportunidade, faça. A minha foi com pouca idade, mas posso dizer que muito me acrescentou. Herdei provavelmente desta estada a forma de pensar e agir, mais objectiva, directa devido talvez à maneira de expressar que aprendemos usando ideogramas, mais sucinta, e que às vezes entra em choque com o lado prolixo do português para explicar algo. Mas é um exercício e aprendi com o tempo.Tenho 50 anos e um dia ainda espero regressar a Macau!"
Nota: Fica assim completo o testemunho inédito e exclusivo de Silene Wong a quem eu agradeço aqui publicamente. Espero que tenha sido do agrado dos leitores. Logo após a publicação da primeira parte destas memórias, a Silene enviou-me um e-mail e seleccionei um excerto para publicação:
"Parabéns pelo seu trabalho e dedicação com a história de Macau. Óptima fonte de informação e preservação da memória da cidade. Eu é que agradeço a oportunidade e por ter me desafiado a escrever, rememorar uma parte importante da minha vida. Aproveitou informações que trocamos por e-mail e incluiu no relato. Algumas só vieram a partir desta troca. Descobri que havia muito mais lembranças do que imaginava... Hoje sei que fui feliz lá e o quanto a estada em Macau influencia / influenciou quem sou hoje. A vontade de voltar à cidade só aumentou e espero em breve revê-la!"
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