quarta-feira, 23 de julho de 2014

Uma carta que escapou à censura: 1942


Numa carta enviada ao noivo, em Portugal, uma residente de Macau escreve assim a 23 Julho de 1942: “E agora, passando ao assunto do dia: como deves calcular Macau está desde o princípio da guerra com uma população aumentadíssima, pois que todos se recolhem a este cantinho onde, graças a Deus, se está relativamente bem. Entre os muitos que vieram figura grande número de bandidos, assassinos (...) Os assassinatos e os roubos sucedem-se uns aos outros com uma rapidez espantosa, de modo que não é aconselhável saírmos sós ou andarmos pelas ruas mais internas. (...) Por miséria e por ambição algumas das quadrilhas matam os descuidados que conseguem encontrar e comem-nos ou vendem-nos. Calcula tu ao que nós chegámos!!! Têm-se encontrado imenso abrigos cheios de ossadas humanas e até pelas ruas corpos meio escarnados. Os assassinos quando presos confessam abertamente que comeram a carne ou a venderam!!! De inquérito em inquérito o governador prendeu um dos cozinheiros do hotel Central que confessou que desde há dois anos cozinhava carne humana e a vendia a quem a comprasse”.
Zona do Porto Interior vendo-se ao fundo do Grand Hotel Kuok Chai
A carta enviada pela macaense para o noivo, 2ª tenente da Marinha, com morada em Algés, escapou à censura. O padre Manuel Teixeira corrobora esta e outras histórias semelhantes. Dizia que lhe tinham sido contadas por Evaristo Mascarenhas, juíz em Macau nessa época, bem como por outras pessoas que testemunharam actos similares.
Sugestão de leitura: "Macau 1937-1945:os anos da guerra". IIM, 2012

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