sexta-feira, 4 de julho de 2014

O padre Álvaro Semedo e o "Imperio de la China"

Por ocasião do 4º centenário da fundação do colégio de S. Paulo (1594-1994) foi reeditada a principal obra do Padre Álvaro Semedo (Relação da Grande Monarquia da China), traduzido do italiano por Luís Gonzaga Gomes em 1956. (Colecção Notícias de Macau [volumes nº xv e xvi. Composto e impresso nas Oficinas do Jornal Notícias de Macau).
A edição de 1994 tem 416 páginas e divide-se em duas partes. A primeira tem como título, Do Estado Temporal da China, onde encontramos um amplo conjunto de descrições e informações que vão desde a geografia, o ordenamento do território, o clima, as populações, a sociedade. A segunda parte do livro Na Qual se Trata da Cristandade da China, é um relato, circunstanciado da presença europeia, evangelizadora, na China
"Dos que têm escrito acerca da China verifico que alguns, deixando quase todas as verdades no olvido, se entretêm apenas com coisas que andam afastadas da veracidade, pois que, encontrando-se esse reino longínquo e, tendo sempre esquivado, com todo o empenho, à comunicação com o estrangeiro, além de guardar para si, com particular cuidado, as suas coisas como se as guardasse até de si mesmo, resultou que, fora dele, só se conhece aquilo que deixa escorrer, como por excesso, pelas faldas da região de Cantão, parte desse Império aonde chegaram os portugueses."
Álvaro Semedo曾德昭, Zeng Dezhao, earlier 謝務祿 Xie Wulu, nasceu em Nisa no ano de 1585. Ruma a Évora, com apenas 17 anos e ingressa na Companhia de Jesus (Jesuítas). Estuda no colégio da Ordem, e em 1608, com 23 anos, seguiu para a Índia, onde conclui os seus estudos teológicos, em Goa. Chega a Macau em 1610 e em 1613 foi enviado para a China.  Adopta o nome nativo de Sé Mou–Iôk e fixa-se em Nanquim, cidade na qual começa a dedicar-se ao estudo da língua chinesa, conhecimento que lhe seria indispensável para poder prosseguir com êxito o seu trabalho de evangelização.
Em Nanquim, em 1617, os elementos da nova cristandade foram alvo de feroz perseguição e sobre o seu catequizador mais se encarniçou a fúria demoníaca. Álvaro Semedo, doente, foi encarcerado e submetido a tratos desumanos. Chegaram a encerrá-lo numa gaiola de ferro, onde não podia estender e acomodar o corpo, nem mudar de posição. Nessa gaiola o fizeram seguir para Cantão e dali para Macau onde ficou até 1621. Mas, logo que recuperou alento, volta a Nanquim, disposto a continuar a sua missão de evangelizador.
Tão bem desempenhou as suas funções que foi nomeado Procurador da sua Ordem em Roma e por esse motivo regressou a Portugal (1640) a fim de receber instruções que o habilitassem ao desempenho do novo cargo. Nesta passagem pelo Ocidente acabaria por conhecer em Madrid o português Manuel de Faria e Sousa (1590-1649). Este padre seria essencial para a publicação em 1641 do original “Relação da Propagação da Fé no Reyno da China e outros adjacentes”, e que em castelhano ficará conhecido por “Imperio de la China y Cultura Evangelica en el, por los religiosos de la Compañia de Jesus. Sacado de las noticias del padre Alvaro Semedo de la propria Compañia, por Manoel de Faria y Sousa, cavallero de la Orden de Christo, y de la Casa Real”.
Álvaro Semedo partiu para a China mais uma vez (1645), mas, agora, incumbido de nova e mais importante missão, a de Provincial e Visitador de todas as Missões.
Morreu em Cantão a 6 de Maio de 1658 (outras fontes indicam 18 de Julho), com setenta e três anos de idade, e quarenta e seis de missionário. Está sepultado em Macau (Cemitério Velho), segundo informa o padre Philipe Couplet no “Catalogus Societatis Jesu...”, pág.17, nº XXV. Ao Padre Álvaro Semedo é ainda atribuída a introdução do chá na Europa.

Álvaro Semedo was born in Nisa, Portugal in 1585. He entered Jesuit novitiate in 1602, and on 29 March 1608, he left for Goa and the Far East aboard Nossa Sra. do Vencimento. He arrived in Macau in 1610, and Nanjing in 1613. Along with another Jesuit, Alfonso Vagnoni, he was imprisoned during an anti-Christian campaign in Nanjing in 1616, and then sent back to Macau, where he stayed till 1621.
As the persecution campaign in the mainland China abated, Fr. Semedo changed his Chinese name from Xie Wulu to Zeng Dezhao and re-entered China, now working in Jiangsu and Jiangnan provinces. He spent most of his term in China in the central and southern provinces; perhaps his only trip north was the one he made to Xi'an in 1625, during which he was the first European to see the recently unearthed Nestorian Stele.
In 1636, Semedo went back to Europe as a procurator, sent by his order to recruit more people for the China mission and to ensure continued assistance from the church in Europe. During his sojourn in Europe, he published in 1642 a long report on China, best known under its Spanish title, Imperio de la China.
After his return to China, Semedo served in Guangzhou (Canton) as the Vice-Provincial of the Jesuit China Mission. During several years after the fall of Beijing to the Manchus in 1644, he continued to work with the Ming loyalist regimes in the Southern China (notably, sending Michał Boym to the court of the Southern Ming Yongli Emperor), even as most of Jesuits elsewhere in China were switching their loyalty to the recently established Qing Dynasty. Once the Qing took Canton, Semedo was detained, but was freed a few months later, reportedly due to the interference of Beijing-based Johann Adam Schall von Bell.He spent the rest of his life in Guangzhou, where he died.
O livro "Imperio de La China" foi tendo várias edições ao longo dos tempos. Na imagem ao lado vê-.se a segunda edição, dedicada ao rei D. João V.
“Imperio de la China y cultura evangelica en el, por los religiosos de la Compañia de Jesus. Sacado de las noticias del P. Alvaro Semmedo de la propria Compañia. Madrid, por Juan Sanchez 1642. 4.º - É dividida em tres partes, das quaes a. I tracta geralmente da descripção do paiz, e de suas provincias, sitio, e qualidades: a II do seu governo, e do tocante ás pessoas e costumes de seus habitadores: a III emfim do que diz respeito á cultura evangelica, e introducção do christianismo no imperio. Foi tão bem aceita esta relação, que todas as nações da Europa se apressaram a transportal a para os seus idiomas, o que se prova pelas traducções que d’ella se fizeram, a saber: Em italiano com o titulo: Relazione della grande monarchia della Cina, Roma 1643. 4.º, adornada com o retrato do auctor, e reimpressa ibi, 1653. 4.º - Em francez, com o titulo Histoire universelle du grand royaume de la Chine composée en italien par le P. Alvares de Semmedo, et traduite en notre langue par L. Coulon. Paris 1645. 4.º Reimpressa em Lyon 1667. 4.º, da qual tinha um exemplar o cav. Francisco José Maria de Brito. - Em inglez: History of the grande and renowed monarchy of China. London 1665 fol. illustrada com mappas, e retrato do auctor, da qual Barbosa declara ter tido um exemplar. Reimpressa ibi, 1665 fol., se é exacto o que diz Mr. Ternaux Compans na sua Bibliotheque Asiatique et Africaine n.º 2001.[O] original manuscripto, tal como o escrevera o P. Semmedo, e que parece ter estado em poder de Manuel de Faria, que por elle fez a sua versão, esse original é mais que raro, e mesmo se ignora, creio, o destino que levou: A traducção de Faria (n.º 265) sahiu novamente com o mesmo titulo, Lisboa Occidental, na Off. Herreriana 1731. fol. de XVII 252 pag., por diligencia de Miguel Lopes Ferreira, a quem muito se deve pelo serviço prestado ás lettras nas varias publicações que fez de alguns ineditos, e nas reimpressões de livros antigos e estimaveis que se iam tornando raros.
PS: este ano celebram-se os 420 anos da fundação do colégio de S. Paulo em Macau. 

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