Neste postal pode ler-se "Botanical Gardens". Refere-se ao Jardim de S. Francisco, o primeiro a ser criado em Macau no final do século XIX, tb conhecido na época por "passeio público". Ao meio destaca-se o coreto. Ao fundo a Fortaleza do Monte.
A propósito do coreto e da banda musical que ali actuava recordo um artigo publicado no jornal "A Verdade" na edição de 15 de Setembro de 1910.
É uma coisa exquisita essa: jardim junto ao mar, onde, nestas noites quentissimas do verão de Macau, se goza d‘uma frescura admiravel; musica, a melhor que cá temos, a da tropa; portanto, flor e musica, falta o complemento mulher, a terceira pessoa d‘esse belo terceto, a mais bela obra da creação e do creador… E porque hão de faltar, porque não hão de vir á noite dar-nos o encanto que das suas figuras lindas dimana, envolver-nos naquella onda de caricias que mais se adivinha do que se sente; deixar-nos embalar o espirito ao ouvirmos uma valsa de Strauss, e, vendo-as passar, ligeiras, subtis, vaporeas, sonhar que ellas são a cristalização d‘essas notas divinaes - ether feito materia - de conjunto com o aroma das pobres florsitas que de iume se mirram pelos canteiros além?… Porque não hão de vir?! Sim. Se as noites são tão amenas, se a viração nos refresca o corpo e o espirito, se a musica convida?… E, depois, lindas mulheres, como sois ingratas com os pobres musicos, se é para vós que elles tocam, que elles se esfalfam para que as notas tenham o sentimento que devem ter!!
A propósito do coreto e da banda musical que ali actuava recordo um artigo publicado no jornal "A Verdade" na edição de 15 de Setembro de 1910.
Coisas ha, que, por mais que queiramos fugir a ellas, nos andam constantemente no pensamento, ferindo-nos com a sua insistencia, impondo-se pela obstinação com que nos perseguem, chegando mesmo a brutalizar-nos pela duresa com que ao nosso espirito vêm e voltam, maguando-nos o pensamento, tal como a vista se nos magôa quando insistentemente seguimos um bando d‘aves em espiraliferos vôos pelo infinito em fóra… E o lema fatalista? tem que ser‘ executa-se, porque não ha meio de fugir a um pretendente que agora, logo, depois e sempre, nos persegue implacavelmente com o mesmo pedido, a mesma aria, a mesma e eterna lamuria!… A talho de foice vem estas considerações filosoficas, a proposito d‘um facto que é o primeiro a ser tratado nestas minhas cronicas e que vem a ser a ausencia das lindas mulheres de Macau, nas noites de musica, no jardim publico.
O arvoredo (à esq.) contornava o Jardim de S. Francisco na época |
E, agora, leitoras lindas, acedei ao meu apêlo (como não aceder ao apêlo do ignoto?): ide com a vossa presença animar aquelles que só estão bem sob a caricia dôce do vosso olhar, completando esse conjunto: flores, musica e mulheres, sob a luz pálida da lua, nun flirt dôce, bem dôce… emquanto o mar, o eterno namorado, continua, lá em baixo, a sua eterna canção d‘amor…
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