Ainda a Ilha Verde não estava integrada na Península de Macau, ligação que ocorreu em 1890-92 por ordem do governador Conselheiro Custódio Miguel Borja quando, a 7 de Maio de 1886, o seminário de S. José realizou um contrato com o senhor Creasy Evens. Este inglês pretendia, numa parte da ilha, estabelecer a Companhia de Cimento da Ilha Verde, ‘Green Island Cement Company, Limited’; era a primeira existente na China. Após o Governo de Macau, em 13 do mesmo mês, ter passado o alvará de licença, publicado no Boletim Oficial n.º 20, de 20 do dito mês de Maio, ali ficou estabelecida a fábrica. Este contrato, em anos posteriores, sofreu alterações nas suas cláusulas, sendo também reconhecido pela P.P. nº 51 de 10-6-1889.
A 10 de Agosto de 1887, por se reconhecer operacionalidade na Companhia Industrial de Cimento na Ilha Verde é-lhe cometida a tarefa de extracção do lodo, que rapidamente se acumulava nos fundos do rio Oeste no Porto Interior. Tinha adjacente a produção de tijolos e cal e, para além de servir Macau, também exportava. Decaiu quando, cerca de meio século mais tarde, deixou de receber matéria-prima de Cantão.
Em 1911, dá-se início, pela Casa MacDonald, à abertura do canal entre a Rada e a Ilha Verde. Mas “além dessa importantíssima fábrica, propriedade de uma companhia inglesa, arrendatária, como já se disse, ao Seminário de S. José e licenciada legalmente pelo Governo de Macau e deste contribuinte e cujas instalações ocupam uma grande área da antiga ilha, nesta existem um destacamento militar, uma delegação oficial da Direcção das Obras dos Portos de Macau com os seus depósitos e pessoal, várias outras construções, parques de ostreiras pagando os seus impostos ao Governo Português, havendo também ali a indústria da exploração, já iniciada há muitos anos, de pedreiras de natureza granítica, com uma produção verdadeiramente apreciável, e para a exploração da qual é paga renda ao Seminário de S. José e são satisfeitos impostos ao Governo de Macau”.
Breve Memória Documentada acêrca da Soberania de Portugal na Ilha Verde, do Governo da Província de Macau, (Imprensa Nacional, de 1922 Macau).
Breve Memória Documentada acêrca da Soberania de Portugal na Ilha Verde, do Governo da Província de Macau, (Imprensa Nacional, de 1922 Macau).
Os terrenos conquistados ao mar em finais de década de 20 do século XX nos novos aterros do Porto Interior e exterior e na ilha da Taipa, numa superfície de quase 150 hectares, equivaliam a um terço da área da península de Macau nessa altura. Pelos aterros unira-se definitivamente à Ilha Verde a parte peninsular, a mesma ilha Verde onde já havia falido a empresa a que antes se vaticinara: “A fábrica de cimento, vasta, espaçosa, muito bem construída e movida a vapor, deve dar um excelente resultado, pois todo o cimento que se gasta no Oriente é importado da Europa. (...) além da fábrica apenas existe uma construção que pertence ao seminário. A ilha, ouriçada de penedos, de mato e de algumas árvores é tão pequena que essa volta se faz a pé em meia hora” .
Conde de Arnoso no livro Jornadas pelo Mundo.
Conde de Arnoso no livro Jornadas pelo Mundo.
Segundo Silveira Machado no seu livro Macau na Memória do Tempo: Em 1925 a fábrica foi transferida para Hong Kong e faliu em 1936. “Os quatro fornos de altas chaminés, a complicada maquinaria e todos os outros equipamentos e apetrechos desapareceram da extensa área que aquela unidade industrial ocupava.”
De acordo com o contrato, todas as construções, incluindo a residência do gerente, edificadas no terreno da Missão, juntamente com todos os edifícios levantados dentro dos muros da Ilha Verde, foram entregues ao Seminário. Também entregues foram o armazém de ferro fundido e os dois edifícios que serviam de secretaria da Companhia, que estão construídos uma parte sobre o terreno da Missão e a outra sobre terrenos conquistados ao mar. Após a Green Island Cement Company ter rescindido o contrato, o senhor L. R. Brown arrendou parte da Ilha Verde em 1937, ocupando algumas casas deixadas pela falida Companhia de cimento. Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau. “Depois da retirada deste arrendatário e dado o grande número de refugiados chineses devido à Guerra Sino-nipónica, as casas da Ilha Verde foram arrendadas a vários chineses para habitação, indústria, armazém e escolas. Parte está (1940) arrendada ao Governo.” Padre Manuel Teixeira
As residências dos proprietários e administradores passaram então a ser casas de férias dos alunos do Seminário de S. José. “O edifício que servia de secretaria da Companhia (do cimento) foi aumentado com 45 quartos pelo bispo D. Paulo José Tavares, servindo de Casa de Retiros”, segundo o padre Manuel Teixeira.
Os militares militares na Ilha Verde
Devido ao facto de a Ilha Verde ser o único ponto saliente no curso do rio, por onde todas as embarcações teriam de passar, esta foi aproveitada para baluarte de defesa da fronteira.
O padre Manuel Teixeira escreve em 1940: “Hoje parte da Ilha Verde está alugada ao Governo da Colónia, que ali tem um pequeno destacamento de soldados, os quais escavaram trincheiras, fizeram campos de jogos, caramanchões, etc.”
Para a Ilha Verde foi enviada em 1949 uma companhia militar do exército português e durante a Revolução Cultural vedada aos civis, deixando os alunos do Seminário de irem aí fazer os seus retiros, para que os militares vigiassem as movimentações da parte chinesa. A residência de férias e de retiros, na costa sul da ilha, logo à direita da entrada do portal em arco, serviram depois, em 1962/3 para aquartelar a Companhia Independente de Caçadores nº 3. Em 12 de Maio de 1953 realizou-se a festa de Nossa Senhora de Fátima no Aquartelamento da ilha Verde, havendo a inauguração de um altar-gruta.
Segundo o professor Jorge Cavalheiro, durante o período da Revolução Cultural, a ilha Verde era um local militar, estando vedado à entrada de civis. Por isso, os retiros que os estudantes do Seminário até então faziam, deixaram-se de se realizar. Os militares nas vigias que em torno da ilha se encontravam observavam os descampados do território chinês de Zhuhai. O exército português saiu de Macau no fim do ano de 1975.
Artigo da autoria de José Simões Morais publicado no JTM de 2-9-2011
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