(continuação do post anterior)
As visitas que fiz a muitos locais
interessantes que cito: Fortalezas, do Monte, Guia, Mong Há e Barra, as ruínas
de S.Paulo, a avenida Almeida Ribeiro coração comercial da cidade, Porta do
Cerco, Ilhas Verde, da Taipa e Coloane e muitos outros locais onde passei
excelentes horas de lazer fizeram que passasse a admirar Macau as suas gentes e
a sua história.
A ida regular a cinemas onde vi
inúmeros filmes, a Feira Popular no campo de Mong-Há, eram divertimentos que
nos proporcionavam prazer, assim como o convívio com a tripulação do navio da
Armada "Gonçalves Zarco" e também os pantagruélicos lanches nas
traseiras do Teatro D. Pedro V, eram assim formas de atenuar as saudades de
casa e da família. Entretanto, maravilhado com um mundo diferente do ocidental,
ia observando todos os costumes da população e as suas comemorações e a pouco e
pouco comecei a ter novos conhecimentos sociais.
Como os tufões são frequentes na
região, todo o pessoal militar era mobilizado e ficava de prevenção para o que
pudesse acontecer. Eu que tive a oportunidade de assistir a dois muito
violentos, principalmente o tufão "Ruby" que atingiu Macau em
Setembro de 1963 e fez muitas destruições, incêndios, 1 morto e vários feridos,
num cenário de catástrofe natural impressionante.
Antes de ser destacado para o Quartel-General,
estando ainda em serviço na Flora, em determinada noite em que fomos todos
mobilizados ficando de prevenção para um tufão que se aproximava do território,
tive de ir a casa do Cabo Gaspar que era o intérprete luso-chinês, dizer-lhe
que tinha que ir para o quartel. Atravessei a Colina da Guia e ao chegar perto da
sua casa fui atacado por um enorme cão que deu uma dentada na bota, furando o
cabedal, a meia e a pele. Eu não tenho o costume de maltratar animais, mas
naquele momento dei ao cão um pontapé que o fez afastar.
Este foi um dos muitos episódios
em que me vi envolvido, assim como um outro em que fui comandar uma posição de
morteiro num exercício militar, sendo que a minha especialidade era de transmissões
e o suposto fogo do morteiro tinha de atingir as praias e o mar.
Durante as provas do Grande Prémio de Macau fui escalado com outros camaradas para assegurarmos as
comunicações em postos fixos, equipados com telefone e rádio em todo o percurso
das corridas, em época onde não se sonhava sequer com telemóveis. Imaginem as
dificuldades com as interferências electro-magnéticas.
Como o Ano Novo Chinês é uma
festividade com um enorme impacto, na vida da cidade, nessa altura era
permitido que os funcionários estatais e os militares pudessem jogar nos
casinos e assim participar em todo o programa da festa. Eu também joguei com o
meu número da sorte (sete) e cheguei a ganhar algumas patacas que eram gastas
no comércio local em refeições. Foram uns dias eufóricos em que Macau tinha um
desusado movimento de turistas e de habitantes nas ruas, dia e noite. Uma
curiosidade barulhenta era o rebentar de panchões, pequenas bombas interligadas
de fabrico local e anunciadoras dos eventos.
Resumidamente foi assim que
exerci a minha comissão militar em Macau na década de 1960 e fez com que já em Portugal começasse
a fazer uma colecção de objectos onde se incluem Selos Postais, Moedas,
Postais, Livros, Folhetos etc. que recorda os bons dias que ali passei. Muito
mais havia a relatar, mas eventualmente fica para próxima oportunidade.
Nota: com este post fica concluído o testemunho de Victor Neto sobre a sua comissão militar em Macau. O meu agradecimento público por ter aceite colaborar com este depoimento que por certo será muito útil a quem vier a escrever a história do século XX em Macau.
A título de curiosidade informo que este foi um dos posts com maior número de visitantes nos últimos tempos. Foram quase 700 num só dia assim distribuídos:
Macau 146, EUA 128, Portugal 107, Brasil 101, Bélgica 37, Hong Kong 36, Canadá 13, Rússia 13, China 11, Espanha 8.
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