Numa palestra intitulada “Macau de Ontem” proferida por Henrique de Senna Fernandes em 30 de Novembro de 1983 foram relembradas as principais festas e festividades da comunidade macaense bem como os preparativos para o ano novo lunar, uma festividade da comunidade chinesa mas que não deixava ninguém indiferente. Eis o relato desses festejos nos primeiros anos da década de 1940.
“Nessa época de rico convívio social e de ‘savoir vivre’ desconhecia-se a diferença entre ‘os portugueses de cá e os portugueses de lá’. Tal coisa não passava pela cabeça de ninguém, porque todos pertenciam à mesma comunidade, facto que constituía um dos maiores encantos de Macau. Os que vinham de longe, das bandas de Portugal e de outras colónias, se a princípio estranhavam, eram rapidamente integrados na sociedade e, em breve, participavam activamente nela. Isto deveu-se à hospitalidade aberta das grandes casas macaenses, à acção do Clube de Macau e do Ténis Civil, dum lado, e doutro lado, à do Grémio Militar, como então se chamava o Clube Militar, e do Ténis Naval e Militar, e à presença duma razoável guarnição, tanto de terra como de mar, que não gostava de viver isolada e compartimentada.”
A vida clubista
“Uma das características mais estupendas da ‘era patriarcal’ foi a vida clubista, então no apogeu. Sorrimos quando lemos crónicas do tempo, onde havia queixumes duma existência parada e monótona. Não nos parece, à luz da distância, que assim fosse. O Clube de Macau, o Grémio Militar e o Clube 1º de Junho, mais conhecido pelo Clube Sargento, eram centros de convivência, conforme as categorias sociais, de frequência diária ideal. Para a rapaziada havia o Clube Desportivo Argonauta (na imagem) e, fora de portas, como um autêntico ‘country-club’, havia as instalações da União Recreativa, para os lados da Areia Preta, paredes meias com o hipódromo. E, numa área do mesmo hipódromo, erguiam-se as instalações do Clube de Caçadores de Tiro aos Pratos. Ao lado do hóquei e do futebol, outro desporto favorito era o ténis. Existiam vários campos da modalidade, como os do Ténis Civil, do Ténis Naval e Militar, do Ténis Harmonia e da União Recreativa. Os tenistas tinham a opção de escolher aqueles que melhor lhes dessem no gosto, com desafios renhidos entre as agremiações.”
Outros divertimentos
Carlos Estorninho (entre outros) junto ao CD Argonauta |
“Se o cinema era o entretenimento número um, disputando a primazia da qualidade dos filmes, o Vitória, o Capitol e o Apolo, então as três principais casas de espectáculos, nem por isso deixava de haver periodicamente concertos e representações cénicas no Teatro D. Pedro V, onde se ia, para cada um desses eventos, de vestidos de ‘soirée’, de ‘smoking’ ou ‘jaquetinha’, sobretudo enquanto perdurou a Academia de Amadores de Teatro e Música, não faltando elementos de reconhecido valor e dedicação para as coisas de arte. E recordo que, na primeira metade dos anos 30, veio de Portugal uma companhia de teatro que, durante seis meses, em Macau e em Hong Kong, para as duas comunidades portuguesas, levou à cena peças de impecável nível artístico.
Mas a alegria de viver e a prática intensa de convivência social num mundo fácil e despreocupado não se encontravam somente nos clubes, mas também nas residências, onde havia salas para receber. E recebia-se muito. A cada passo surgiam festas de aniversário, baptizado e casamento e todo aquele que era convidado sentia-se na obrigação de retribuir. Daí que, ora se estava numa casa, ora noutra, em chás e jantares ou em simples reuniões para preencher o serão. Musicava-se e cantavam-se árias de ópera, velhas baladas inglesas e um ou outro faducho. A música era um pretexto para se organizarem os bailaricos e dançava-se ao som duma orquestra improvisada ou de grafonola, com os últimos discos dos filmes musicais, porque os possuidores de aparelhos de rádio eram muito poucos”.
Mas a alegria de viver e a prática intensa de convivência social num mundo fácil e despreocupado não se encontravam somente nos clubes, mas também nas residências, onde havia salas para receber. E recebia-se muito. A cada passo surgiam festas de aniversário, baptizado e casamento e todo aquele que era convidado sentia-se na obrigação de retribuir. Daí que, ora se estava numa casa, ora noutra, em chás e jantares ou em simples reuniões para preencher o serão. Musicava-se e cantavam-se árias de ópera, velhas baladas inglesas e um ou outro faducho. A música era um pretexto para se organizarem os bailaricos e dançava-se ao som duma orquestra improvisada ou de grafonola, com os últimos discos dos filmes musicais, porque os possuidores de aparelhos de rádio eram muito poucos”.
Exposição Industrial de 1936
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