Alguns dos negócios de Macau vivem quase exclusivamente, ou em grande parte, dos portugueses. E não apenas actividades cuja propriedade é de portugueses, mas também outros, de chineses.
A partida dos portugueses está a reflectir-se em muitos dos negócios chineses de Macau. Ourivesarias, modistas, alfaiates, lojas de mobiliário, antiquários, institutos de beleza, cabeleireiros e supermercados perderam nos últimos meses grande parte dos seus clientes. Nos próximos tempos os números vão decair ainda um pouco mais. Alguns já prevêem o encerramento, outros vão esperar para ver.Gige Cheng é uma das modistas mais procuradas pelas portuguesas. Entre as suas clientes conta com «a fina de flor de Macau», entre juristas senhoras com altas posições na administração pública e mesmo esposas de secretários-adjuntos. Cerca de 80 porcento das suas clientes têm mais de 40 anos e um gosto tradicional.Na sobreloja de uma boutique discreta, perto do mercado de São Francisco, e com a ajuda de uma única costureira, Gige prova, corta e coze tailleurs e vestidos de noite, para uma determinada elite portuguesa. «Quando há visitas presidenciais tenho sempre muito trabalho, há quem encomende dois ou três fatos, um para cada um dos cocktails, almoços e jantares do acontecimento», conta. Na altura da entrevista Gige tinha entre mãos dezenas de vestidos de noite para os festejos da transição. «Tenho uma relação de muitos anos com certas clientes e criei mesmo amizade com algumas», admite. Gige é modista há mais de 20 anos e chegou a ser professora de corte e costura. «Ensinei mesmo algumas portuguesas», relembra. Quando montou o seu negócio as clientes eram metade portugueses, metade chinesas com boa situação económica, mas muitas destas emigraram. A sua clientela ficou então pelos 98 por cento de portuguesas. «Mas neste último ano já perdi quase 80 por cento das regulares», diz. Algumas pedem-lhe para ir para Portugal. Gige tem passsaporte português mas a família está toda em Macau e Hong Kong. A reforma parece-lhe uma escolha mais óbvia. «As roupas de prêt-à-porter são muito baratas e em Zhuhai as modistas trabalham por um preço inferior, se bem que com menos qualidade», revela Gige. Por isso, talvez não lhe reste mais nada a não ser fechar a loja.
A partida dos portugueses está a reflectir-se em muitos dos negócios chineses de Macau. Ourivesarias, modistas, alfaiates, lojas de mobiliário, antiquários, institutos de beleza, cabeleireiros e supermercados perderam nos últimos meses grande parte dos seus clientes. Nos próximos tempos os números vão decair ainda um pouco mais. Alguns já prevêem o encerramento, outros vão esperar para ver.Gige Cheng é uma das modistas mais procuradas pelas portuguesas. Entre as suas clientes conta com «a fina de flor de Macau», entre juristas senhoras com altas posições na administração pública e mesmo esposas de secretários-adjuntos. Cerca de 80 porcento das suas clientes têm mais de 40 anos e um gosto tradicional.Na sobreloja de uma boutique discreta, perto do mercado de São Francisco, e com a ajuda de uma única costureira, Gige prova, corta e coze tailleurs e vestidos de noite, para uma determinada elite portuguesa. «Quando há visitas presidenciais tenho sempre muito trabalho, há quem encomende dois ou três fatos, um para cada um dos cocktails, almoços e jantares do acontecimento», conta. Na altura da entrevista Gige tinha entre mãos dezenas de vestidos de noite para os festejos da transição. «Tenho uma relação de muitos anos com certas clientes e criei mesmo amizade com algumas», admite. Gige é modista há mais de 20 anos e chegou a ser professora de corte e costura. «Ensinei mesmo algumas portuguesas», relembra. Quando montou o seu negócio as clientes eram metade portugueses, metade chinesas com boa situação económica, mas muitas destas emigraram. A sua clientela ficou então pelos 98 por cento de portuguesas. «Mas neste último ano já perdi quase 80 por cento das regulares», diz. Algumas pedem-lhe para ir para Portugal. Gige tem passsaporte português mas a família está toda em Macau e Hong Kong. A reforma parece-lhe uma escolha mais óbvia. «As roupas de prêt-à-porter são muito baratas e em Zhuhai as modistas trabalham por um preço inferior, se bem que com menos qualidade», revela Gige. Por isso, talvez não lhe reste mais nada a não ser fechar a loja.
Bordados e serviços de Cantão
George Kei, ou Ah Kei, como é mais conhecido, tomou, em Julho de 1999, um dos negócios mais populares entre os portugueses, aquele de Ah Mei, «que, como não tinha visto, teve que voltar para a China». Original de Tsing Tao, terra da melhor cerveja chinesa, George chegou a Hong Kong há 15 anos. Aprendeu inglês e estudou português nos cursos promovidos pelo consulado de Portugal em Hong Kong. «Conhece a minha professora?» pergunta.Era fornecedor de Ah Mei e como tem o seu próprio negócio em Hong Kong resolveu correr o risco nestes últimos tempos da permanência portuguesa em Macau Vende sobretudo toalhas de linho e algodão bordado e serviços de Cantão, que sempre foram muito populares entre os portugueses, que antes da abertura da loja de Ah Mei, iam a Zhuhai, a cidade vizinha a Macau, comprá-los. «O portugueses são os únicos que compram estes produtos de maior qualidade, os estrangeiros, americanos, australianos etc. compram toalhas de poliester e produtos inferiores», revela.«Ontem mesmo a esposa do senhor governador esteve aqui», conta. Mas apesar da popularidade do negócio «o movimento decresceu bastante nestes últimos meses», confessa. Aparecem no entanto muitos turistas portugueses «mas levam produtos leves, nunca levam serviços de louça porque são muito pesados». Ah Kei espera que a loja, na Travessa dos Becos, tenha condições para permanecer aberta até pelo menos ao Ano Novo Chinês, mas não conta permanecer para além de meados do próximo ano.«Vão ficar tão poucos portugueses em Macau que a situação não é muito optimista», explica.
O supermercado dos portugueses
Há mais de 30 anos que o pai de Liu Kong Seng abriu um supermercado no Largo do Senado que se tornou o preferido dos portugueses. Durante as convulsões do «1,2,3», em 1966, o senhor Seng fornecia os portugueses à sucapa, se bem que quase todos os outros estabelecimentos se recusassem a fazê-lo. Neste momento a Seng Cheong tem cinco supermercados, na Taipa e em Macau, e prepara-se para abrir um novo estabelecimento nos Novos Aterros do Porto Exterior «onde moram muitos portugueses», frisa o proprietário.A importação de produtos de Portugal - azeite, azeitonas bacalhau, chouriço - ou de produtos ao gosto luso tem sido um factor de atracção. «Vamos continuar a vender esses produtos, para os macaenses e para os portugueses que cá ficarem», afirma Liu Kong Seng, esperançado que no futuro «mais portugueses venham para Macau, talvez para fazer negócio».Segundo este comerciante, até há alguns meses 75 porcento dos seus clientes eram portugueses, mas essa percentagem desceu para 50 por cento. A abertura de outros supermercados também contribuiu para a que o negócio piorasse mas os portugueses continuam fieis ao Seng Cheong, «não só por causa dos produtos, mas também porque temos um sistema de entrega ao domicílio e os portugueses fazem compras para a semana ou o mês, ao contrário dos chineses que comprar todos os dias», diz o proprietário.
Depilação e tratamentos de beleza
Outro negócio adaptado aos requesitos dos portugueses, neste caso das portuguesas, é o dos salões de beleza que fazem depilação com cera. «Todas as nossa clientes para esse tipo de serviço são portuguesas», diz a proprietária da casa Candy's, Meggie Tam. «Aqui há uns anos fazíamos até 120 mil patacas por mês», informa. «Agora, com a partida das portuguesas não chegamos às 45 mil», diz. Actualmente só metade das clientes são portuguesas e estas já não pedem os tratamentos mais caros, nem compram cremes de beleza. «Antigamente faziam tratamentos de pele completos», diz Meggie, «agora pedem os mais simples e baratos, talvez porque estejam a poupar para voltar a Portugal, onde vão ganhar muito menos do que aqui», diz a esteticista.
Pérolas e ouro a caminho de Portugal
O gerente da ourivesaria Ta Pou, no Hotel Lisboa, admite igualmente que as vendas baixaram bastante por causa da partida dos portugueses, que constituem mais de metade dos seus clientes.«Mas em Novembro e Dezembro o negócio está melhor, por causa do grande prémio e da transferência de soberania», diz William Cheong. Os muitos turistas de Portugal acabam por ir compar ourivesaria à casa que gere, aconselhados por amigos que cá viveram.Apesar de haver bastante concorrência nesta área, a Ta Po atraíu os portugueses porque há mais de 20 anos que se especializou nos gostos destes. «O que procuram mais são pérolas e ouro», explica, « e compram produtos mais baratos que os chineses mas em maior quantidade». Para o ano, William Cheong prevê que o negócio baixe substancialmente. Por isso a Ta Po prepara-se para abriu uma filial em Portugal. «Não sabemos ainda precisamente onde, mas temos lá bons amigos e penso que teremos sucesso», explica o gerente.
Fatos para governadores
Domingos Cheong, ou simplesmente «o senhor Domingos», como é conhecido na comunidade portuguesa, fez nome a cortar fatos para governadores e outros portugueses de nomeada. Entre os governadores contam-se Rocha Vieira, Nobre de Carvalho, Almeida e Costa e Pinto Machado. Mesmo alguns nomes sonantes que só estiveram em Macau de passagem, como Mário Soares, Almeida Santos, ou Adriano Moreira fizeram fatos no senhor Domingos.Alfaiate há mais de 30 anos, confessa que os tempos são maus, não só por causa da partida dos portugueses mas também por causa da crise económica. Nos últimos tempos os clientes portugueses, que constituem metade da sua clientela, têm andado mais preocupados em «compar casa, automóvel, frigorífico e coisas mais importantes do que fatos», diz Domingos Cheong, num português arranhado, desenvolvido ao longo de décadas de contacto com os seus clientes.Já foi a Portugal duas vezes mas parece-lhe muito difícil montar lá negócio. «É preciso é ter esperança», diz, optimista. «Pode ser que para o ano as coisas melhorem». No entanto, Edmundo Ho, o chefe do executivo, não vai continuar a tradição dos seus antecessores. «Ele não manda fazer fatos, não é muito exigente, compra-os já feitos», diz o alfaiate, num certo tom de crítica.
Mobílias e antiguidades
Um outro comércio se tem ressentido da partida dos portugueses: as lojas de antiguidades e de mobiliário chinês antigo. «Perdemos muito negócio nos últimos tempos, devido à partida dos portugueses», diz Rosalina Guia proprietária da loja Cheong Hing. «Antigamente fazíamos mais de 150 mil patacas por mês, mas agora nem chegamos às 100 mil», refere. Antes da transferência de soberania de Hong Kong vendiam bastante aos estrangeiros de Hong Kong. «O que nos salva são ainda esses, mas a partida dos portugueses foi uma grande machadada», diz Rosalina Guia.«Os muitos turistas de Portugal ajudam um pouco mas geralmente só compram coisas pequenas», diz uma empregada da casa Soi Cheong Lorna. «Os chineses não gostam de mobílias usadas ou de antiguidades, só de peças novas e modernas», informa Espi outra vendedora da mesma loja. «Se as coisas continuarem assim talvez a casa tenha de fechar brevemente», continua a filipina. Uma situação que lhe cria a elas e a todas as outras filipinas que trabalham neste ramo problemas de permanência em Macau.«Este ano vendemos 30 por cento menos do que no ano passado devido à partida dos portugueses», diz Sylvia Leung. As vendas baixaram não só em termos de quantidade mas também em termos de qualidade. «Os portugueses compram sobretudo armários, cadeiras, mesas, produtos maiores e mais caros», diz a proprietária da loja Mok Min. «Vamos esperar que continue a haver turistas para o ano, se não vai ser difícil manter o negócio». Os responsáveis por algumas das lojas pensam que a única solução é a exportação. Rosalina Guia afirma que essa parece ser a saída, «mas quando enviamos uma peça para a Europa o preço duplica», explica.Mais um sector da economia de Macau afectado pela partida dos portugueses. Negócios que talvez se tenham de reformular ao gosto local, ou pura e simplesmente deixarão de existir.
* Artigo da autoria da jornalista Clara Gomes publicado na Revista Macau em Dezembro de 1999
Excelente artigo!
ResponderEliminarGostaria de saber mais sobre as toalhas bordadas,
ResponderEliminarserá que poderia me enviar fotos. Faço coleção e tenho várias compradas de leilão, gostaria de ter outras.Favor enviar para tkise@uol.com.br