Fernando de Lara Reis nasceu em Leiria a 28 de Dezembro de 1892. Frequentou o liceu da cidade de 1902 a 1904 e entrou de seguida no Colégio Militar, acabando por seguir carreira das armas. Ingressando depois na aviação militar portuguesa, o que lhe permitiu muito cedo viajar, atingiu ali o posto de capitão. No entanto, devido a um acidente aéreo quando se encontrava em França, durante a 1ª Grande Guerra, viu-se obrigado a mudar de carreira e cedo se reformou. Foi com o desafio de Telo de Azevedo Gomes que rumou a Macau, onde foi nomeado professor efectivo do Liceu de Macau, cargo que exerceu até ao fim da sua vida. Muito estimado e considerado em Macau, desempenhou ali as funções de presidente da Agência de Macau dos Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918, tendo dado grande impulso a este organismo a que muito se dedicou.
Colaborou em diversos jornais e revistas, visitou os países estrangeiros, percorrendo todos os continentes, e passando praticamente todas as suas férias em viagem. Das viagens que fez por todo o mundo, mas sobretudo pelo Oriente, deixou extensa memória em volumosos manuscritos que transmitem as suas impressões dos locais e motivos que visitou, desde 1915 a 1949, e que intitulou “Diário de Viagens”, em 26 volumes inéditos. Deixou, também, dois volumes manuscritos intitulados “A minha vida” que testemunham a sua actividade pessoal e o ambiente cultural e social da Macau portuguesa da primeira metade do século XX.
Faleceu em Macau no dia 14 de Janeiro de 1950, com 57 anos. Foi o então tenente médico Dr. Moreira de Figueiredo que, regressando de Macau em finais de 1951, trouxe para Leiria o legado de Fernando de Lara Reis.
A importância do legado
O fundo actualmente à guarda do Arquivo Distrital de Leiria é considerável, assumindo especial relevo os 26 volumes manuscritos e profusamente ilustrados e documentados do seu “Diário de Viagens” e ainda os dois volumes manuscritos biográficos “A minha vida”. Naquele “Diário”, Lara Reis regista com minúcia de jornalista todos os pormenores da sua estadia por todo o mundo e documenta-os com materiais diversos, desde os simples bilhetes dos transportes às ementas do restaurante ou programas de espectáculos, para além de fotografias de circunstância ou bilhetes postais alusivos e recortes de jornal dos locais e da época.Está por fazer a análise detalhada deste monumental registo de viagens, pelo menos com o pormenor que requer. No entanto, uma observação atenta permite desde logo perceber que os registos de Lara Reis são autênticas “reportagens” dos locais visitados e dos episódios associados, o que, de par com a enorme colecção de fotografias ali inseridas ou guardadas em álbuns, deixa aos eventuais leitores um fresco vivo dos mais conhecidos ou insólitos pontos do globo.São realmente importantes os cerca de duas dezenas de caixas e volumosos álbuns de fotografias e de bilhetes postais ilustrados que fez e/ou coleccionou durante as suas viagens ou durante a sua vida académica e sócio-cultural em Macau. A primeira metade do século XX, em Macau e nos mais diversos recantos do Oriente, encontra nestes álbuns autênticos testemunhos do mundo num tempo não muito distante, em termos cronológicos, mas que terá sofrido transformações drásticas de então para cá, podendo encontrar-se ali documentos únicos.Vários livros constituem também este fundo, especialmente com desenhos e gravuras chinesas, alguns com pinturas originais de inegável valor iconográfico. Dois outros livros registam uma excepcional colecção de carimbos orientais, presumivelmente da China.
Correspondência pessoal, inúmeros recortes de imprensa ou mesmo jornais completos da época, sobretudo de Macau, e alguns objectos pessoais, completam este fundo de inegável importância que espera uma oportunidade para uma divulgação à altura do seu conteúdo, não obstante os importantes estudos que Orlando Cardoso e Acácio de Sousa já lhe dedicaram.
Artigo do jornal Região de Leiria de 11 de Agosto de 2006
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