sexta-feira, 7 de abril de 2023

Oriental Hotel destruído pelo fogo em 1869

Uma notícia do London and China Telegraph de 18 de Outubro de 1869 informa sobre a destruição do Oriental Hotel localizado na Praia do Manduco (Porto Interior) a 18 de Agosto desse ano.
"The Oriental Hotel, situated on the Praya Manduco, close to the wharf at which the Macao steamers discharge their cargoes and land passengers has been completely destroyed by fire. It broke out on the night of the 18th Aug at about half past ten o'clock in an upper story of the house several people being inside to establishment at the time. Four or five gentlemen who were in the billiard room describe the rapidity with which the flames spread as something unprecedented."
"O Hotel Oriental, situado na Praia do Manduco, perto do cais onde os vapores de Macau descarregam as suas cargas e passageiros foi completamente destruído por um incêndio. Começou na noite de 18 de Agosto por volta dez e meia num andar superior do edifício com várias pessoas dentro do estabelecimento. Quatro ou cinco senhores que estavam na sala de bilhar descrevem a rapidez com que as chamas se espalharam como algo sem precedentes."

Jornais da época publicados em Macau referem que o hotel - chegou a ser propriedade do inglês Frederick Duddel e já existia na década de 1850 - ficava na Praça de Ponte e Horta (ainda existe esta praça). Houve um outro hotel com o mesmo nome, ainda no século 19, na Praia Grande.
Veja-se o relato do incêndio no Oriental Hotel publicado no Boletim da Província de Macau e Timor de 23 de Agosto de 1869, escrito pelo próprio responsável do combate aos incêndios.
"Hontem ás 114 horas da noute manifestou se incendio n uma casa sita na Praça de Ponte e Horta, onde é Oriental Hotel, e tendo acudido ao lugar do incendio empreguei todos os meios de que podia dispor para debellar o mesmo incendio o que se conseguio ardendo apenas a casa e tecto d uma casa visinha e a varanda d outras duas casas contiguas. Apraz-me muito dar aqui um testemunho da boa ordem, dedicação e efficacia com que o batalhão de linha, corpo dos marinheiros da canhoneira e escuna de guerra Principe Carlos, o corpo da policia, os paisanos e que estiveram presente se dos seus respectivos deveres e é dos bem empregados esforços e deligencias se deve o salvarem-se as casas visinhas.
Cumpre-me outro sim fazer honrosa menção do capitão do corpo da Polícia Frederico Guilherme Freire Corte Real, do tenente da armada real Vicente da Silveira Maciel, do ajudante do capitão do porto Augusto Ludgero Vichi, do tenente H. A. Dias de Carvalho*, do guarda-marinha Justino da Costa Lima, do sargento da 2 companhia A. J. d'Azevedo, do soldado Bento d'Azevedo, nº 373 1 da companhia do batalhão de linha e paisanos Clodomiro de Noronha, Fermino Machado, Francisco Esteves e Luiz E da Silva os quaes mais se distinguiram nos seus desvelados esforços em o incendio.
Por isso faltaria ao meu dever se deixasse de recommendal os á favoravel consideração de S. Exa. o Governador. Eu faltaria á justiça se deixasse de mencionar aqui os importantes serviços prestados nesta occasião pelo neto do china naturalisado portuguez Appon, que acudio ao lugar do incendio com a sua bomba e trabalhou com dedicado esforço em extinguir o mesmo incendio. A bomba da canhoneira Camões foi a primeira que chegou ao lugar do incendio e foi aos esforços empregados pelo corpo de marinheiros que se deve mui particularmente o salvar se a casa de penhor que era visinha a casa aonde teve começo o incendio.
Repartição dos Incendios, Macau 19 de agosto de 1869. B. de S. Fernandes, major-inspector dos incendios."
* É curioso notar que em 1890 a publicação O Occidente refere este contributo do então major Henrique Augusto Dias de Carvalho, embora refira que foi no Hotel Oriente, mencionando ter sido elogiado pelo governador.
Detalhe de um mapa do sinal do século 18 onde assinalei as várias baías no Porto Interior

Esta zona foi alvo de sucessivos aterros desde o início do século 19. Estes aterros acabariam por eliminar as várias baías/praias que existiam ao longo do Porto Interior. Era uma área vocacionada para o transporte marítimo. Desses tempos restam na toponímia nomes como Rua da Praia do Manduco ou o Pátio do Godão (do inglês godown), referência aos múltiplos armazéns que ali existiam.
No final do século 19 as referidas baías foram praticamente todas eliminadas com os aterros a regularizar de forma uniforme todo o Porto Interior onde foram surgindo dezenas de pontes-cais.

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