"Terras onde se fala português: Portugal - Madeira - Açores - Cabo Verde - Guiné - São Tomé e Príncipe - Angola - Moçambique - Estado da Índia - Macau - Timor - Brasil." Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil, Rio de Janeiro, 1957 (imagem ao lado)
A autora, Maria Archer, nasceu em Portugal, viveu em Moçambique, Guiné e Angola, tendo em Luanda iniciada a carreira de escritora.
A autora, Maria Archer, nasceu em Portugal, viveu em Moçambique, Guiné e Angola, tendo em Luanda iniciada a carreira de escritora.
De regresso a Portugal, em 1945, aderiu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), grupo de oposição ao regime salazarista e as suas obras passaram a ser censuradas.
O romance Casa Sem Pão (1947) foi apreendido. Refugiou-se no Brasil a partir de 1955 onde continuou a escrever e a colaborar com diversas publicações.
Regressou a Portugal em 1979 tendo morrido três anos depois, em 1982. Escreveu ainda "Roteiro do Mundo Português", "Herança Lusíada", "África sem Luz", "Os Últimos dias do Fascismo Português".
Na época de "Terras onde se fala português" estava a viver no Brasil. Maria Archer classifica Macau como “Uma cidade famosa no Oriente". Excerto:
"Macau, hoje em dia, é uma cidade famosa no Oriente, e tão alegre, tão luxuosa, tão urbanizada, como as cidades portuguesas ou brasileiras de primeira categoria.
As suas ruas e avenidas são largas, de bom pavimento de asfalto ou cimento, perfeitamente sinalizadas e de circulação regulamentada. Possui parques arrelvados, jardins floridos, e profusa arborização. É uma cidade policroma, elegante e moderna, que se impõe ao primeiro olhar. Os forasteiros gabam os hotéis de Macau, luxuosos, cômodos, e adaptados, uns à vida européia, outros à vida chinesa.
Cabo submarino, que a liga, na profundidade dos mares, a toda a Terra, estação de Rádio, com que comunica, pelos ares, com Portugal e o mundo civilizado, rede de telefones automáticos, instalada um ano antes da de Lisboa, ascensores nos edifícios, iluminação elétrica, indústrias movidas a eletricidade, água canalizada, esgotos, serviços de autocarros, camionagem e automóveis, estabelecimentos comerciais dignos de Paris, bancos, fábricas, hospitais, asilos, escolas, tribunais, cinemas, clubes, edifícios magníficos, uma intensa vida elegante, um forte movimento comercial — eis o expoente da beleza, do conforto e da riqueza da Leal Cidade.
Imagem da edição brasileira |
A população é enorme, comprimida na pequena área. Orçava, antes da guerra, por uns 200 mil indivíduos, dos quais 4 mil portugueses, 500 de nacionalidades diversas, e chineses os restantes. Agora tem uma enorme população de refugiados chineses, grande parte vivendo em cima de barcos ancorados no porto interior.
As comunicações são mantidas por carreiras marítimas regulares, sendo o maior movimento de passageiros dirigido para Hong-Kong, grande porto duma antiga concessão estrangeira instalada nas proximidades de Macau. Não há carreiras marítimas, diretas, entre a colônia e Lisboa, fazendo-se o movimento do comércio e passageiros por intermédio dos navios ou aviões ingleses. O correio chega, geralmente, por terra, atravessando a Ásia nos trens dos comunistas chineses e russos.
Macau deve grande parte da sua prosperidade à circunstância de ser porto livre, isto é, um porto sem alfândega, o que o valoriza como centro de reexportação. Certos artigos pagam, porém, ao entrar na cidade, um pequeno imposto de consumo, o que se dá com o álcool, as bebidas alcoólicas, o café, o cimento, os fósforos, a gasolina, o petróleo, e os tijolos, etc.
Quanto às sedas, os perfumes, as louças preciosas, os esmaltes lindíssimos, os marfins rendilhados, os sândalos de maravilha, o charões fascinantes, enfim, todas as coisas belas do Oriente, essas podem passar por Macau sem pagar direitos aduaneiros ou outros quaisquer, bem como os luxuosos artigos europeus que se vendem na colônia, aos brancos e amarelos.
Como porto de pesca Macau é importantíssimo, sendo o mais frequentado e movimentado de todo o Extremo Oriente, em competência com os portos de pesca do Japão.
Industriosa, inteligente, ativa, a sua população exerce vários misteres. Os europeus ocupam lugares preponderantes, na indústria, no comércio, e na administração, mas há também chineses ricos que se dedicam ao comércio em grande escala, e outros industriais, donos de fábricas com larga produção.
As principais indústrias de Macau foram as fábricas de artigos de malha, que exportavam, geralmente, para a índia e América do Sul, as de conservas, - de frutas, marisco, e peixe, - de cal das ostras, de estalos chineses, fogos de artifício, de fósforos, de inseticidas, de tabacos, de tijolos, de calçado europeu e chinês, de gelo, de perfumes, de vidros, de vinho chinês, de artigos de cobre. Todo este comércio e indústria, porém, foi perturbado pela guerra e o comunismo chinês. Porque Macau existe à beira da grande China Comunista. Não se sabe por que milagre esse nacionalismo absorvente tem respeitado a colônia portuguesa.
Os estaleiros locais trabalham em construções navais chinesas, a que chamam ali juncos e lorchas. As oficinas litográficas de Macau, célebres na China, executam obras de extrema perfeição, recebendo encomendas não só da cidade como doutros pontos do país. Os seus cartazes são maravilhosos, dum desenho arrojado, dum colorido seguro, dum gosto de bom quilate, e demonstram o nível artístico que ali atingiu a arte litográfica. (...)
Industriosa, inteligente, ativa, a sua população exerce vários misteres. Os europeus ocupam lugares preponderantes, na indústria, no comércio, e na administração, mas há também chineses ricos que se dedicam ao comércio em grande escala, e outros industriais, donos de fábricas com larga produção.
As principais indústrias de Macau foram as fábricas de artigos de malha, que exportavam, geralmente, para a índia e América do Sul, as de conservas, - de frutas, marisco, e peixe, - de cal das ostras, de estalos chineses, fogos de artifício, de fósforos, de inseticidas, de tabacos, de tijolos, de calçado europeu e chinês, de gelo, de perfumes, de vidros, de vinho chinês, de artigos de cobre. Todo este comércio e indústria, porém, foi perturbado pela guerra e o comunismo chinês. Porque Macau existe à beira da grande China Comunista. Não se sabe por que milagre esse nacionalismo absorvente tem respeitado a colônia portuguesa.
Os estaleiros locais trabalham em construções navais chinesas, a que chamam ali juncos e lorchas. As oficinas litográficas de Macau, célebres na China, executam obras de extrema perfeição, recebendo encomendas não só da cidade como doutros pontos do país. Os seus cartazes são maravilhosos, dum desenho arrojado, dum colorido seguro, dum gosto de bom quilate, e demonstram o nível artístico que ali atingiu a arte litográfica. (...)
Edição feita no Brasil em 1962. 280pp |
Sugestão de leitura para saber mais sobre a vida e obra de Maria Archer: "Acerca de Maria Archer", de Guilherme Bordeira. Edições Vieira da Silva. Lisboa. 2014
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