Em 1939, com o apoio do jornal A Noite e da Empresa Nacional de Publicidade, o escritor Ferreira de Castro e a mulher viajam pelo mundo. Desta viagem resulta a obra A volta ao mundo, publicada originalmente em fascículos entre 1940 e 1944, e de que já antes abordei aqui no blogue.
Em vésperas da Segunda Guerra Mundial, o escritor Ferreira de Castro e Elena Muriel, sua mulher, iniciam uma volta ao mundo (1939) e, fruto das circunstâncias, vão ver in loco o que pouco tempo depois seria bem diferente, em virtude da guerra. Viaja em vinte navios diferentes, sem guias nem hora certa de embarque, faz o relato da viagem em diários - incluindo a sua passagem por Macau no fascículo 13 - e à chegada a Portugal seriam editados em fascículos coleccionáveis. Para além da mestria do texto destaque para a abundante iconografia, das fotografias às ilustrações. Roberto Nobre assina as gravuras a duas cores, Júlio Amorim e Jorge Barradas as tricromias dos extratextos com artefactos e costumes regionais aguarelados. Roberto Nobre (1903-1969) foi crítico de cinema e um dos maiores ilustradores portugueses do seu tempo.
Em vésperas da Segunda Guerra Mundial, o escritor Ferreira de Castro e Elena Muriel, sua mulher, iniciam uma volta ao mundo (1939) e, fruto das circunstâncias, vão ver in loco o que pouco tempo depois seria bem diferente, em virtude da guerra. Viaja em vinte navios diferentes, sem guias nem hora certa de embarque, faz o relato da viagem em diários - incluindo a sua passagem por Macau no fascículo 13 - e à chegada a Portugal seriam editados em fascículos coleccionáveis. Para além da mestria do texto destaque para a abundante iconografia, das fotografias às ilustrações. Roberto Nobre assina as gravuras a duas cores, Júlio Amorim e Jorge Barradas as tricromias dos extratextos com artefactos e costumes regionais aguarelados. Roberto Nobre (1903-1969) foi crítico de cinema e um dos maiores ilustradores portugueses do seu tempo.
Excerto do livro publicado originalmente em fascículos entre 1940 e 1944 num total de 17 tomos.
"Concertaram-se, na nossa época, várias formas de se dar a volta ao Mundo. Em anos de remansosa paz, um navio americano abala de Nova York e, de casco branco, mastros festonados de gaivotas, ladeia Américas e Áfricas, detém-se, aqui, ali, em três ou quatro cidades, e corta, depois, o Índico. Mas da grande Índia mostra somente Bombaim e Ceilão; da longa península de Malaca não se verá mais do que Singapura e da China imensa apenas a minúscula ilha de Hong-Kong. Outrora, ainda ele se aventurava até outras plagas. De ano para ano foi minguando, porém, as milhas da sua rota, que assim, passagens mais baratas, ajuntaria maior número de clientes. Não se cura de revelar ao Mundo os passageiros e sim de lhes permitir dizer aos amigos que eles deram a volta ao Mundo. Viagem de bom conforto, nas cidades visitadas esperam guias e automóveis, que levam os curiosos aos monumentos principais e, depois, os reconduzem a bordo, para que se lavem da poeira do Oriente, jantem bem e bailem até de madrugada, enquanto o talhamar vai singrando em direitura a outro porto. De Hong-Kong, o navio, que, até ali, só fundeou nas extremidades dos continentes, despede, a toda a brida, para algumas ilhas do Pacífico, ansioso de transpor o Panamá e em Nova York lançar a âncora, férreo ponto final em superficial capítulo.
Assim e «A volta ao Mundo colectiva», cruzeiro de luxo por mares distantes. Há, também, «A volta individual ao Mundo». Companhias de navegação, para o efeito ajustadas, acordaram vender trânsito marítimo, com diminuídos preços, aos que pretendem rodear a esfera terrestre e volver ao ponto de partida. Viagem menos cómoda do que a outra, quem a realiza torna-se servo não do muito ou pouco interesse do sítio visitado, mas da entrada e saída dos navios em que o seu bilhete lhe permite embarcar. Sujeito está a quedar-se dois dias onde desejaria demorar-se duas semanas e duas semanas onde lhe bastaria ficar dois dias apenas. E a menos que possa seu tempo perder, este viajante solitário verá, enervado, partir o único navio de sua conveniência, que não é, geralmente, o navio que ele tem direito a tomar."
Assim e «A volta ao Mundo colectiva», cruzeiro de luxo por mares distantes. Há, também, «A volta individual ao Mundo». Companhias de navegação, para o efeito ajustadas, acordaram vender trânsito marítimo, com diminuídos preços, aos que pretendem rodear a esfera terrestre e volver ao ponto de partida. Viagem menos cómoda do que a outra, quem a realiza torna-se servo não do muito ou pouco interesse do sítio visitado, mas da entrada e saída dos navios em que o seu bilhete lhe permite embarcar. Sujeito está a quedar-se dois dias onde desejaria demorar-se duas semanas e duas semanas onde lhe bastaria ficar dois dias apenas. E a menos que possa seu tempo perder, este viajante solitário verá, enervado, partir o único navio de sua conveniência, que não é, geralmente, o navio que ele tem direito a tomar."
No próximo post darei conta das fotografias e ilustrações de Macau
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