"Em Demanda do Cataio. A Viagem de Bento de Goes à China 1603-1607" é um livro da autoria de Eduardo Brazão, publicado pela Agência Geral do Ultramar pela primeira vez em 1954 (cor vermelha) tem tido várias edições posteriormente (a azul a de 1969), inclusive em Macau, pelo ICM.
Conforme o sub-título indica, a obra é sobre a viagem de Bento de Goes à China na altura conhecida pelo Ocidente portugueses de Cataio ou Grão-cataio.
Na introdução Eduardo Brazão escreve assim:
"(...) Se ao Veneziano (Marco Polo) cabe a glória de ter apresentado à Europa medieval o fabuloso mundo do Oriente, foi um português que, nos princípios do século XVII, escreveu o último capítulo das viagens famosas de Polo, identificando o Cataio, que tão miùdamente este descrevera, com a China do Norte. Chamou-se Bento de Goes esse já quase desconhecido que nestas páginas é modestamente lembrado."
Conforme o sub-título indica, a obra é sobre a viagem de Bento de Goes à China na altura conhecida pelo Ocidente portugueses de Cataio ou Grão-cataio.
Na introdução Eduardo Brazão escreve assim:
"(...) Se ao Veneziano (Marco Polo) cabe a glória de ter apresentado à Europa medieval o fabuloso mundo do Oriente, foi um português que, nos princípios do século XVII, escreveu o último capítulo das viagens famosas de Polo, identificando o Cataio, que tão miùdamente este descrevera, com a China do Norte. Chamou-se Bento de Goes esse já quase desconhecido que nestas páginas é modestamente lembrado."
Catai, Cathay ou Cataio é um nome originário da palavra kitai (契丹, Qìdān), nome de um povo nómada que fundou a dinastia Liao, que dominou a maior parte do norte da China de 907 a 1125, e cuja área de 'jurisdição' corresponde ao actual Quirguistão. Os dois termos começaram por ser empregues pelos europeus depois da publicação do livro de Marco Polo que se referia ao sul da China como Manji.
Em baixo, um mapa de 1570, de Abraham Ortelius, onde assinalei a vermelho a expressão já utilizada - Cataio. Noutro mapa mais antigo, de 1450, surge a expressão Chataio.
O frei agostinho espanhol, Martin de Rada, que visitou a China em 1575 escreve na sua "Relacion de las cosas de China que propriamente se lhama taybin": "O país que nós comummente chamanos China era chamado pelo veneziano Marco Polo o reino de Cataio, talvez por que assim era então chamado; pois quando ele ali chegou, que foi cerca de 1312, era governado pelos Tártaros".
O primeiro a identificar o Cataio terá sido o navegador italiano Giovanni da Empoli, ao serviço de Portugal. O facto pode ser comprovado em duas cartas que ele escreveu (1514 e 1515). Em 1524, António Pigafetta informava que as duas cidades principais da "Gran China" eram "Namchin" e "Combatu": Nanquim e Cambalu. Tomé Pires, na Suma Oriental, escrita em 1513-1515, chama à capital da China, Gambara e Gambera.
O primeiro a identificar o Cataio terá sido o navegador italiano Giovanni da Empoli, ao serviço de Portugal. O facto pode ser comprovado em duas cartas que ele escreveu (1514 e 1515). Em 1524, António Pigafetta informava que as duas cidades principais da "Gran China" eram "Namchin" e "Combatu": Nanquim e Cambalu. Tomé Pires, na Suma Oriental, escrita em 1513-1515, chama à capital da China, Gambara e Gambera.
A propósito de nomes, refira-se que nome Pequim figura pela primeira vez numa carta de Cristóvão Vieira, da comitiva de Tomé Pires, escrita em Cantão, em 1520. Mas voltemos ao tema do post...
Em 1590, o Pe. Monserrate afirmava que a antiga região de "Seres" era o Cataio da Idade Média. O Pe. Mateus Ricci, S. J., identificou também a China com o Cataio. Em 13 de Outubro de 1596, escreveu de Nanquim ao Pe. Cláudio Aquaviva (Roma): "Por fim, quero escrever uma curiosidade que, penso, V. P. e outros se regozirarão de ouvir, e é uma conjectura que fiz, que a cidade de Nanquim, aonde fui o ano passado, metrópole e sede real antiga da China, por várias conjecturas penso ser o Cataio de Marco Polo.... e assim o Cataio, segundo a minha opinião, não é outro reino senão o da China"
Acontece que os jesuítas da Índia assim não entenderam, já que suspeitavam que o antigo Cataio fosse uma região para lá do Himalaia, onde se acreditava que habitava populações cristãs, o que não sucedia na China.
Para tirar teimas, o visitador Nicolau Pimenta enviou uma expedição ao Cataio. O rei D. Filipe II, em carta de 24 de Janeiro de 1601, aprovou a expedição e mandou que o vice-rei da Índia, Aires de Saldanha, e o arcebispo de Goa, D. Aleixo de Jesus de Meneses, pusessem à disposição do visitador os meios necessários. Neto de Gois (Goes) foi o escolhido para chefe desta expedição. Bento de Góis. Bento de Góis nascera, em 1562, nos Açores. Sôfrego de aventuras, embarcou para a Índia, onde lutou como soldado, entregando-se ao jogo e aos prazeres. Entrando um dia numa capela de N. Senhora, em Travancor, lançou-se aos pés da imagem da SSma. Virgem, chorando os seus pecados. Em Fevereiro de 1584, ingressou na Companhia de Jesus. Em 1595, fez parte da missão ao Grão-Mogol, chefiada pelo Pe. Jerónimo Xavier, sobrinho de S. Francisco Xavier. Em 1601, o imperador Achar mandou Bento de Góis por seu embaixador a Goa. Em 29 de Outubro de 1602, Góis partiu de Agra com uma caravana e atravessou todo o Industão em direcção ao nordeste, entrou no Afganistão, chegou a Kabul, atravessou a cadeia de Hindu-Kush, atingiu Yarkand, seguiu o antigo Caminho do Ouro-Maralbashi, Aksu, Kustsha, Korla, Karashar, Turfan, Hami- atravessou o deserto de Góbi e chegou à Grande Muralha, que atravessou em Chia-yu-kuan. No Natal de 1605, atingiu Su-chow e ali ficou um ano, à espera de atingir Pequim.
Os comerciantes muçulmanos chamavam a Pequim, "Kambalu", e à China "Cataio". Ricci, então em Pequim, escreveu-lhe várias cartas e uma chegou ao seu destino. Mandou-lhe também um criado cristão para o conduzir à capital. Era um china que falava português. Tinha o nome 'português' de João Fernandes, e o nome chinês de Chung Ming. Chegou em Março de 1607 e Góis morreu pouco depois, a 11 de Abril. Percorreu mais de 6 mil quilómetro em 3 anos...
Num relato feito por Toscano podemos perceber melhor aquele momento:
"Quando o Irmão Bento ouviu pronunciar palavras na língua pátria, abriu os olhos, tomou as cartas que vinham de Pequim, e erguendo as mãos ao Céu recitou todo o Cântico do velho Simeão: "E agora, Senhor, deixai ir o vosso servo em paz". Beijando e lendo as cartas, conservou-as toda a noite sobre o coração, recomendando que se dissesse ao Pe. Ricci que ele não havia encontrado cristãos, e que a ninguém mais se ordenasse a viagem através da Ásia para chegar ao Cataio, que não era outro senão a China."
A título de curiosidade, e a propósito do tema, refira-se que o primeiro europeu a chegar ao Tibete foi o padre António de Andrade, jesuíta português, natural de Oleiros, em 1624. Em Agra, na Corte do Grão Mogol, António de Andrade ouvira a vários viajantes a referência a uma civilização em que julgou reconhecer o Prestes João do Oriente. O relato dessa viagem Em demanda do Grão Cataio ou Reynos de Tibete foi traduzido para onze línguas.
- Viagens na Ásia Central em Demanda do Cataio: Bento de Goes e António de Andrade
- Em Demanda do Grão Cataio, de Beckert d'Assumpção, editado em 1973, com ilustrações de Júlio Gil incluiu o relato da viagem de Bento de Gois da India à China por terra.
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