Quase a completar 71 anos, Beatriz Basto da Silva, tem pronta a reedição da "Cronologia da História de Macau" (edição L.O.) que é apresentada ao público esta semana em Macau. São quatro volumes (1500 páginas) que abordam o período que vai do século XVI ao século XX. A primeira edição era composta por cinco volumes e começou a ser publicada em 1992.
Minha professora de História na década de 1980 em Macau, confidenciou-me por estes dias que esta "é a obra da minha vida" em sintonia com o que já me dissera a propósito da primeira edição numa entrevista publicada no Jornal Tribuna de Macau a 4 de Dezembro de 2009) que esta obra que foi a que mais lhe "tocou". "Cobre desde o séc. XVI ao séc. XX (Período de Transição) e
estende-se por cinco volumes (1656 pp.) que exigiram muito de mim.
Grande parte foi escrita enquanto professora, sem qualquer dispensa de
serviço, sem secretária ou outra ajuda nas buscas. Em boa hora o Governo
reconheceu-lhe a utilidade e suportou as edições, facultando-me também
apoio gráfico e concedendo-me redução de serviço para concluir o
trabalho. Foi muito bem aceite - e ainda hoje é muito procurado – por
alunos, estudiosos e curiosos da História de Macau, porque é de fácil
consulta e um ponto de partida para outros voos."
Excertos da nota introdutória desta reedição:
(...) O tempo julgará a entrega, o empenho desinteressado com que fiz esta reedição. Que a obra sirva dois propósitos: – Permitir aos Portugueses, através de Macau, serem mais Portugueses – Sensibilizar a China para a memó- ria-herança humana e cultural que Macau representa, quer num passado secular de convergência, quer no futuro de generosas perspectivas que se abrem, à escala mundial. (...)
Os Séculos XVI e XVII, em especial, foram iluminados pelas recentes versões, em português, de documentos chineses de que não dispus na primeira edição da Cronologia. Tais achegas permitiram agora uma abordagem mais esclarecedora, assim o desejo. O Século XVIII revela-se muito mais documentado do que os anteriores. Os Jesuítas da Corte de Pequim recebem as maiores distinções e cargos, são íntimos do Imperador que os admira. A Missão prospera, conforme relatam nas Cartas Ânuas. Traduzem, publicam e divulgam a Filosofia e Cultura Chinesas, até aí desconhecidas no exterior. A abertura e circulação de informes nos dois sentidos é franca e influencia a Europa das Luzes: Multiplicam-se encomendas de porcelanas armoreadas e não só. Copiam-se em todos os suportes artísticos os motivos chineses (chinoiserie). Correm a organizar-se viagens e embaixadas. Os relatos e pinturas dessas viagens são verdadeiros quadros vivos da época. Macau, porto europeu na China, torna-se centro de paragem/ descanso, muito retratado. O Marquês de Pombal, a meio do século, atinge os jesuítas e, com eles, a Missão da China, já afectada pela Questão dos Ritos. O Ensino em Macau é abalado. Sofrendo as ondas de choque políticas e económicas do século precedente, o entreposto português vive em aperto. Mesmo assim é chamado a prover diplomática e monetariamente as embaixadas que vêm do Reino à China e deverão apresentar-se ao Imperador, pomposas e luzidas. Adensa-se o tráfego Goa-Macau-Timor. A Santa Casa soma ao seu papel social-assistencial a vertente económico-financeira. Assiste-se à pressão dos mandarins do sul e à diplomacia fronteiriça. Estes aspectos têm sido objecto de estudo aturado. A correspondência entre as partes é publicada. As traduções dos respectivos originais e seu cotejo explicam e exibem mais convergência do que poderia pensar-se.
O Século XIX é iluminado pela proximidade ao nosso tempo. Quase todas as notícias têm algum relevo histórico, retratando o seu quotidiano, tão próximo e tão distante dos hábitos de hoje, tão curioso, porque cenário dos nossos antepassados recentes. Há jornais e outras publicações . Enfim, cada pessoa gostará de encontrar factos de que ouviu falar, apreciará apoiar a sua imaginação em documentos e gestos que desencadearam as mil e uma facetas que herdámos e conhecemos, mais ou menos desvanecidas pelo tempo. Fiquei perplexa no tratamento a dar à imprensa periódica. (...) Por força dos motivos indicados, e de alguns mais que adiantarei, a Cronologia do Séc. XIX tem um volume muito maior do que os antecedentes. Basta lembrar que à imprensa de comunicação, que desabrochou aquando do Liberalismo, se juntou toda a literatura referente aos Tratados e Missões Diplomáticas entre Potências Europeias e a China; depois, a existência – a partir de 1841 – de Hong Kong, a que a História de Macau e sua gente está tão intimamente ligada, a multiplicação de feitorias no Sul da Grande Nação vizinha, e, por causa delas, o movimento, em Macau, de pessoas, embarcações e mercadorias que os documentos registam, alargando o cosmopolitismo que os portugueses no Oriente sempre acarinharam.
O Século XIX é iluminado pela proximidade ao nosso tempo. Quase todas as notícias têm algum relevo histórico, retratando o seu quotidiano, tão próximo e tão distante dos hábitos de hoje, tão curioso, porque cenário dos nossos antepassados recentes. Há jornais e outras publicações . Enfim, cada pessoa gostará de encontrar factos de que ouviu falar, apreciará apoiar a sua imaginação em documentos e gestos que desencadearam as mil e uma facetas que herdámos e conhecemos, mais ou menos desvanecidas pelo tempo. Fiquei perplexa no tratamento a dar à imprensa periódica. (...) Por força dos motivos indicados, e de alguns mais que adiantarei, a Cronologia do Séc. XIX tem um volume muito maior do que os antecedentes. Basta lembrar que à imprensa de comunicação, que desabrochou aquando do Liberalismo, se juntou toda a literatura referente aos Tratados e Missões Diplomáticas entre Potências Europeias e a China; depois, a existência – a partir de 1841 – de Hong Kong, a que a História de Macau e sua gente está tão intimamente ligada, a multiplicação de feitorias no Sul da Grande Nação vizinha, e, por causa delas, o movimento, em Macau, de pessoas, embarcações e mercadorias que os documentos registam, alargando o cosmopolitismo que os portugueses no Oriente sempre acarinharam.
É no Séc. XIX que se desenvolve o tráfego de cules, que também aqui registo, se bem que, em livro indicado na Bibliografia, o desenvolva mais por extenso. Há ainda que contar com a Administração, acrescentada à da Península de Macau, das Ilhas da Taipa e Coloane, onde tudo estava por fazer; há que juntar todos os circunstancialismos que a Macau cabia atender a propósito de Timor, suas riquezas, necessidades, quer materiais, quer espirituais. Os piratas viviam em redor de Macau uma época de força. O Senado da Câmara atinge um ponto alto, na luta contra estes fora-da-lei, o que, somado a outras razões, lhe vale por parte de D. João VI o título de Leal. A organização político-administrativa em Portugal tem no enclave os seus ecos, uns mais radicais, outros, pela própria determinação régia, adaptados aos costumes e regras de viver orientais. É a época das Associações e Clubes, dos Estatutos por que se pautam, dos Regulamentos que regem as novas Escolas, da nova organização do funcionalismo, dos novos Códigos e Leis, com suas revisões cada vez mais precisas e objectivas. Se a passagem breve por todas estas alíneas poderá falar da extensão deste volume, cabe-me ainda focar outro aspecto: de início, só tive acesso, com raras excepções em que consegui tradução, a obras escritas em línguas ocidentais, visto não dominar o chinês escrito, muito menos o chinês antigo, e de japonês não dominar a língua escrita nem falada. (...)
A elaboração da Cronologia do Século XX foi tão penosa como gratificante, tantos eram os dados e novos filões informativos que ganhavam lugar imperativo na lista de fontes a consultar. A meio do século há como que uma divisória sugerida pelas convulsões da II Guerra Mundial e seus ecos. No panorama oriental, observa-se, além do mais, o enquadramento na nova ordem, decorrente da implantação da República Popular da China.(...) O Século XX foi também o último século de Administração Portuguesa do Território de Macau. Na edição anterior tracei como limite da Cronologia a Assinatura da Declaração Conjunta Luso-Chinesa, por estar muito envolvida a nível pessoal e político no “Período de Transição” e considerar que a falta de perspectiva não é boa conselheira. Em nada... e muito mais num trabalho histórico. Quase duas décadas depois, considero que o meu ponto de observação é livre e isento para avançar até 19 de Dezembro de 1999. Não obstante, ainda acolhi no trabalho anterior aquilo a que chamei “Apêndice Cronológico – 1988- 1996. Modernização e Internacionalização de Macau: Figuras e Factos”, um anúncio breve mas que reputei como essencial enunciar, pensando um dia desdobrar a riqueza que continha. E esse dia chegou com a presente edição da Cronologia".
A elaboração da Cronologia do Século XX foi tão penosa como gratificante, tantos eram os dados e novos filões informativos que ganhavam lugar imperativo na lista de fontes a consultar. A meio do século há como que uma divisória sugerida pelas convulsões da II Guerra Mundial e seus ecos. No panorama oriental, observa-se, além do mais, o enquadramento na nova ordem, decorrente da implantação da República Popular da China.(...) O Século XX foi também o último século de Administração Portuguesa do Território de Macau. Na edição anterior tracei como limite da Cronologia a Assinatura da Declaração Conjunta Luso-Chinesa, por estar muito envolvida a nível pessoal e político no “Período de Transição” e considerar que a falta de perspectiva não é boa conselheira. Em nada... e muito mais num trabalho histórico. Quase duas décadas depois, considero que o meu ponto de observação é livre e isento para avançar até 19 de Dezembro de 1999. Não obstante, ainda acolhi no trabalho anterior aquilo a que chamei “Apêndice Cronológico – 1988- 1996. Modernização e Internacionalização de Macau: Figuras e Factos”, um anúncio breve mas que reputei como essencial enunciar, pensando um dia desdobrar a riqueza que continha. E esse dia chegou com a presente edição da Cronologia".
1º Vol. séculos XVI, XVII e XVIII; 2º Vol. séc. XIX; 3º Vol. séc. XX; 4º Vol. inclui relações dos Papas do século XV ao século XX, reis de Portugal a partir da II Dinastia, presidentes da República Portuguesa, capitães-gerais e governadores de Macau, secretários-adjuntos pós-25 de Abril, imperadores e presidentes da China, bispos e governadores do Bispado de Macau, reitores do Colégio de S. Paulo (1564-1762), vice-reis e governadores da Índia Portuguesa (1505-1961), governadores de Timor; procuradores do Leal Senado, presidentes do Leal Senado, autoridades que estiveram à frente das Ilhas, capitães dos Portos de Macau, Comandantes Militares; inclui ainda os índices remissivos onomástico e temático.
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