A 30 de Dezembro de 1931 morreu um dos maiores vultos da sociedade macaense da primeira metade do século XX, Manuel da Silva Mendes (MSM). Foi há 82 anos.
Personagem multifacetada que foi (advogado, escritor, filósofo, professor, sinólogo, etc...), fica em jeito de homenagem neste post, apenas uma das suas múltiplas facetas: a paixão pela arte
chinesa.
Foi dos primeiros a coleccionar e a estudar a
arte da província de Guangdong. Ao longo
da vida reúniu um vasto espólio que inclui cerâmicas de Shiwan, uma grande
colecção de pintura chinesa de Cantão, cerâmicas do Palácio do Governo,
desenhos e aguarelas de Chinnery, Wattson, Borget, Lam Qua, entre outros. Por
ocasião da sua morte a sua colecção foi posta à venda. Os jornais de
Macau reclamaram ao governo a necessidade e a importância da aquisição desse
espólio. Foi constituída uma
comissão para a avaliação da colecção que acabou por concluir que o governo
não tinha dinheiro suficiente.Os membros da
comissão sugerem então que sejam recolhidos fundos junto de 'capitalistas'
chineses locais e que a colecção seja doada ao Museu Luís de Camões o que
acabou por acontecer.
Em 1959 o Museu Luís de
Camões foi transferido (só a gestão) para o Leal Senado de Macau que ficou responsável pela
sua conservação e administração, mediante um subsídio anual concedido pelo
governo. O Museu ficava no que é hoje a Casa Garden e encerraria em 1989. Com a construção em 1999 do Centro Cultural
de Macau e do Museu de Arte de Macau (MAM), este herdou todo o espólio do
antigo Museu Luís de Camões, incluindo a colecção de MSM que é hoje uma das exposições permanentes do MAM e que merece uma visita atenta.
A sua preciosa e valiosa colecção acabaria assim por ser a única (embora não integralmente), entre as grandes colecções da sua época - as de Camilo Pessanha e José Vicente Jorge ‘perderam-se’ para sempre - que permaneceu em Macau, a terra onde já na fase final da vida, mesmo muitíssimo doente, quis regressar para terminar os seus dias. Assim aconteceu e a 30 de Dezembro de 1931 partiu para sempre do mundo dos vivos. Tinha 64 anos.
Desse riquíssimo espólio, destaco apenas uma parte das peças de cerâmica: uma colecção
de figuras, algumas em grande escala, de cerâmica de Shiwan (província de Guangdong),
produzidas nos anos 20 do século passado. MSM visitou várias vezes
Shiwan para estudar e escrever sobre a cerâmica local e tornou-se assim o
primeiro coleccionador do mundo a estudar esta forma de arte. MSM foi
ainda coleccionador de peças Ming e Qing. Na década de 1920 MSM
encomendou ainda figuras em larga escala a Pan Yu Shu e a Chen Wei Yan, os mais
famosos mestres de cerâmica de Shiwan naquela época. O advogado convidou Pan Yu
Shu para ir a Macau negociar a encomenda de várias obras e pediu ao artista
para lhe facultar miniaturas das obras encomendadas. Pan esmerou-se nas
miniaturas, antes de as apresentar a uma fábrica de cerâmica em Guangzhou, onde
colaborou com Chen Wei Wan, utilizando as miniaturas para produzir as peças em
escala maior. Algumas dessas miniaturas estão no Museu de
Arte de Macau. (imagens abaixo)
Santo budista, também chamado Luo-Han, que tem o poder de ler o pensamento dos
outros quando está em meditação.
Pan Yu Shu - 58 cm
Pan Yu Shu - 58 cm
Lao Zi, fundador do Tauismo.
Chen Wei Yan
Chen Wei Yan
48
cm
Hua Tuo - Médico famoso do período dos Três Reinos, fundador da cirurgia na China e que era
conhecido como ‘o médico milagreiro’.
Pan Yu Shu
Pan Yu Shu
74
cm
Lu Yu , autor do 'Livro do Chá, era também conhecido como 'O Deus do
Chá.
Pan Yu Shu
91 cmPan Yu Shu
Yang Gui Fei, concubina do Imperador Xuan Zhong da Dinastia Tang.
Pan Yu Shu
36 cm
Pan Yu Shu
36 cm
Li Tie Guai Um dos Oito Imortais do Tauismo.
Huang Bing
67.5 cm
Estou muito sensibilizada com esta notícia e ainda mais por ter sido publicada no dia que faz precisamente 82 anos que o meu bisavô faleceu.
ResponderEliminarObrigada mais uma vez João Botas, aonde quer que ele esteja deve estar radiante, pois graças a si até o seu ultimo desejo vai ser concretizado...
Repousa em paz bisavô e até um dia.