O quadro de Marciano António Baptista, "A Lorcha" foi doado a Macau pelo bisneto do artista, Filomeno, numa sessão organizada pelo Instituto Internacional de Macau, no dia 4 de Dezembro último, no Centro de Actividades Turísticas, durante o Encontro das Comunidades Macaenses 2013.
A entidade que acolheu a pintura é a Associação dos Treze Hongs para a Promoção da Cultura e do Comércio de Macau cujo presidente, William Ho, obteve o concurso de peritos do Museu do Palácio Imperial de Pequim, para apoiar uma equipa na recuperação e renovação do quadro do século XIX. A referida associação foi criada na RAEM para dar a conhecer a histórica reputação de Macau de séculos no relacionamento com povos estrangeiros.
O quadro a óleo com mais de 150 anos é uma peça de inegável valor patrimonial que vai ficar em exibição permanente num museu que está a ser criado em Macau por entidades privadas na zona do Patane, em cujos cais, nos tempos remotos, atracavam os barcos de comércio que iam e vinham de Cantão, transportando os familiares daqueles que negociavam com os comerciantes (“hongs”) que, durante o período de 1757 a 1852, detinham o exclusivo privilégio de trabalhar com as feitorias estrangeiras.
A pintura (60 x 45 cm) foi feita em homenagem ao seu pai que comandava a lorcha que está retratatada e faz parte da memória colectiva da família, tendo figurado tradicionalmente, através de sucessivas gerações, na sala de jantar dos descendentes de Baptista: herdado por Marciano Jr., passou pela casa de Marciano III (conhecido por Naneli) estando ultimamente na posse de Filomeno Marciano Baptista, bisneto do pintor. De acordo com Filomeno, o quadro teria de “ir para Macau, local de nascimento de Marciano Baptista, ou para Portugal”, para “uma instituição que pudesse cuidar devidamente dele e exibi-lo”.
Marciano António Baptista (1826-1896), considerado o melhor pintor de Macau do século XIX, aprendeu as técnicas da pintura europeia com o pintor irlandês, George Chinnery, tornando-se seu discípulo, quando este se estabeleceu em Macau, fugido dos credores. Dizia-se que pintava as cores, em aguarela ou em óleo, sobre os esboços que Chinnery lhe entregava, quando este cumpria os trabalhos encomendados da Companhia das Índias Orientais Inglesas que usava Macau como base dos seus lucrativos negócios com a China. Em finais de 1840, juntando-se ao maciço êxodo de macaenses para Hong Kong, Marciano Baptista mudou-se com a família para colónia britânica, onde foi professor no St. Saviour’s College e na Victoria Boys’ School.
As suas pinturas iniciais assemelhavam-se no estilo às do seu mestre mas, com o passar dos tempos, ele desenvolveu técnicas e feições próprias. Marciano gostava de pintar o Templo de A-Ma e existem quadros de diferentes perspectivas sobre o tema que, no parecer de peritos de arte, são as pinturas mais apreciadas. O Museu de Hong Kong conta na sua colecção um quadro sobre esta construção histórica de Macau. Existem também outros quadros de cenas de rua e da vida marítima da Costa do Sul da China, feitos cerca de 1850, que fazem parte da colecção do Museu de Arte de Macau. Marciano Baptista pintou também o tecto e o altar das igrejas de Santo António e de São Lourenço.
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