Yangzhou é uma das cidades mais famosas da China Clássica. Correspondia já a um importante centro urbano na dinastia Han (206 a.C- 220) e manteve, ao longo dos séculos, o estatuto de grande entreposto de comércio e cultura. Situada na província de Jiangsu, logo à entrada da ligação do rio Yangtsé com o Grande Canal - que começou a ser escavado na dinastia Sui a partir do ano de 589 -, Yangzhou transformou-se num importante nó de ligação fluvial entre o sul, o norte e o interior da China, possibilitando-se através do Canal o transporte de cereais, pedra, carvão, gentes e militares. Na dinastia Tang (618-907) era uma cidade cosmopolita, aberta ao mundo, habitada também por dezenas de marcadores persas e transformou-se depois num importante centro de comércio do sal. Ainda hoje existe uma mesquita muçulmana quase no centro da cidade cuja origem está associada aos emigrantes persas.
Ruínas da igreja da Madre de Deus, vulgo S. Paulo. Postal da década de 1950 |
O nosso Fernão Mendes Pinto no capítulo 91 da Peregrinação refere, no ano de 1541, a navegação na enseada de Nanquim, ao avançar “por aquele rio acima”, nas águas do Yangtsé. Creio, pelos dados que dá das suas sucessivas jornadas, que o nosso aventureiro deverá ter chegado a Yangzhou, a que chama Sampitai. Aí, com os seus companheiros de desventuradas viagens, foram “todos pela rua a pedir esmola.” Então:
Encontrou Mendes Pinto
No interior da China
(E em que apuros ele ia)
A velha portuguesa chamada Inês de Leiria
Que de repente rezava:
Padre nosso que estais no Céu…
A velha mais não sabia,
Mas bastava.1
Inês era filha do falecido boticário Tomé Pires (1465-?), natural de Leiria2 que o rei D. Manuel em 1516 enviara desde Cochim como embaixador ao Império do Meio. Inês acolheu os portugueses e contou-lhes a história de seu pai: “o qual deste reino fora como embaixador a el-rei da China e que por um alevantamento que um nosso capitão fizera em Cantão, houveram os chins que ele era espia e não embaixador e o prenderam.
(…) E que a seu pai lhe coubera em sorte ser seu degredo para aquela terra onde se casara com sua mãe e a fizera cristã.”3 Mentira ou verdade de Fernão Mendes, é quase certa a existência de portugueses pelas terras de Yangzhou, em meados do sec. XVI. (...)
(E em que apuros ele ia)
A velha portuguesa chamada Inês de Leiria
Que de repente rezava:
Padre nosso que estais no Céu…
A velha mais não sabia,
Mas bastava.1
Inês era filha do falecido boticário Tomé Pires (1465-?), natural de Leiria2 que o rei D. Manuel em 1516 enviara desde Cochim como embaixador ao Império do Meio. Inês acolheu os portugueses e contou-lhes a história de seu pai: “o qual deste reino fora como embaixador a el-rei da China e que por um alevantamento que um nosso capitão fizera em Cantão, houveram os chins que ele era espia e não embaixador e o prenderam.
(…) E que a seu pai lhe coubera em sorte ser seu degredo para aquela terra onde se casara com sua mãe e a fizera cristã.”3 Mentira ou verdade de Fernão Mendes, é quase certa a existência de portugueses pelas terras de Yangzhou, em meados do sec. XVI. (...)
1 - Afonso Lopes Vieira, Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa, Lisboa, Vega, 1998,pag. 38.
2 - Sobre Tomé Pires, ver por exemplo, Rui Loureiro, Nas Partes da Ásia, Lisboa, CCCMacau, 2009, pags. 75 a 95.
3 - Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, Lisboa, Ed. Afrodite, 1975, pag. 317.
2 - Sobre Tomé Pires, ver por exemplo, Rui Loureiro, Nas Partes da Ásia, Lisboa, CCCMacau, 2009, pags. 75 a 95.
3 - Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, Lisboa, Ed. Afrodite, 1975, pag. 317.
Excerto de um artigo da autoria de António Graça de Abreu publicado no jornal Hoje Macau de 23-3-2012
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