No número especial da Revista Militar dedicado à presença Portuguesa no Oriente (Lisboa, Janeiro de 1999), o Pe. Manuel Teixeira, num artigo intitulado “Destacados Militares e o dia mais glorioso da História de Macau”, resumiu a vida destas duas personalidades de Macau de meados do século XIX. As suas estátuas fora construídas em Portugal pela mesma pessoa e colocadas em Macau no mesmo ano (1940). Devido aos eventos de 1966 a do Coronel Mesquita foi retirada e em 1986 enviada para Portugal, sendo que muito em breve estará pronta (estava muito danificada) para ser vista publicamente. A estátua de Ferreira do Amaral veio de Macau em 1992, esteve quase 10 anos encaixotada e em 1999 foi colocada no topo de uma rua no Bairro da Encarnação (Lisboa). Às duas faltam os enormes pedestais.
Governador João Maria Ferreira do Amaral
Foi o Governador mártir. O marinheiro que ocupa o lugar cimeiro na história de Macau. O maior e o mais trágico em vida e após a morte! O único que mereceu ter uma estátua em Macau! Mas como essa estátua ainda fazia tremer os chineses, foi removida antes que eles o executassem segunda vez.
Foto de António Cambeta. Macau 1965 |
Tomou parte, como guarda marinha, no assalto a Itaparica, no Brasil, em 24 de Fevereiro de 1824. Ferido, tiveram que lhe cortar o braço, sem anestésicos, a sangue frio. Quando viu cair o braço levantou-se da cadeira, lançou-o ao ar e exclamou: “Viva Portugal!”.
Fez parte da expedição do Mindelo, comandando um dos navios da esquadra.
Sendo conselheiro e capitão-de-mar-e-guerra, foi nomeado governador de Macau, de que tomou posse em 21 de Abril de 1846. Nesse mesmo ano, organizou o Batalhão Provisório de Macau, que ficou aquartelado no extinto Convento de S. Domingos.
Tomou posse da ilha da Taipa, construindo ali uma fortaleza e arvorando sobre ela a bandeira portuguesa, a 9 de Setembro de 1849. Gizou o projecto o tenente da marinha, Pedro José da Silva Loureiro, natural de S. Miguel, Açores.
Hoje Macau é a cidade do jogo. Mas Amaral ordenou, a 1 de Fevereiro de 1849, a aplicação duma multa de dois taéis a todo aquele que fosse encontrado a jogar. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança, todo o mundo é feito de mudança, tomando sempre novas qualidades. Já vai longe o tempo de Amaral… E hoje nem a sua sombra querem ver em Macau!
Foi ele o libertador desta terra que gemia havia 300 anos sob a administração chinesa. No dia seguinte, ordenou à força pública que fizesse desaparecer todos os sinais da mesma.
A 18 de Março, proibiu que os mandarins entrassem aqui ao som de bátegas, como era costume. Em 22 de Agosto de 1849, a sua cabeça rolou perto da Porta do Cerco pelas mãos de sicários chineses.”
Coronel Vicente Nicolau de Mesquita
“Foi o único que ousou enfrentar as forças chinesas. Após o assassinato de Amaral, 2000 soldados chineses, instalados no forte de Pac-sá-lan (Passaleão), começaram a bombardear Macau. As nossas forças, postadas na Porta do Cêrco, conservaram-se inactivas. Foi então que o Tenente Vicente Nicolau de Mesquita avançou com 32 homens contra esse forte, desbaratando a guarnição e implantando a bandeira portuguesa. Com este feito tornou-se o maior herói macaense. Foi este o único encontro significativo entre a China do Sul e Macau nos quase cinco séculos da sua existência. Não se pode chamar guerra, pois não houve guerra nenhuma, mas um simples recontro, em que ninguém morreu. O primeiro a saltar os muros do forte foi um landim. Os chineses, ao ver um preto, gritam: ‘Hak kwai, hak kwai’ (diabo preto, diabo preto) e desataram a fugir com medo do diabo!!! Mesquita regressou triunfante a Macau .
Foi-lhe levantada uma estátua de bronze da autoria do escultor Maximiliano Alves com esta legenda: “Homenagem da Colónia ao Herói Macaense, Coronel Vicente Nicolau de Mesquita, 25 de Agosto de 1849”. Foi ainda baptizada uma via pública com o nome de Avenida do Coronel Mesquita. A estátua de Mesquita, no Largo do Senado, foi arrancada pelos desordeiros chineses nos dias 1,2 e 3 de Dezembro de 1966. Hoje restam apenas o busto do herói à entrada do Cemitério S. Miguel e a Av. Coronel Mesquita. A própria casa, onde ele viveu na Rua do Lilau, foi demolida e substituída por outra. Este herói teve um fim trágico: assassinou a família e morreu lançando-se ao poço da sua casa. Por isso, não teve enterro eclesiástico nem sepultura em terreno sagrado. Foi reabilitado em 1910.
A lápide funerária no Cemitério da S. Miguel diz: Tomou Passaleão em 25-8-1849. Faleceu em 20-3-1880. Foi trasladado em 28-8-1910; teve nesse dia honras militares e eclesiásticas.
A sua campa foi reconstruída pelo Leal Senado em Junho de 1947”.
Ambas da autoria do escultor Maximiano Alves, as estátuas em bronze, foram inauguradas no dia 24 de Junho de 1940, por ocasião das comemorações do duplo centenário (da fundação e da restauração) de Portugal. Nos tumultos de 3 de Dezembro de 1966, inspirados pela revolução cultural chinesa, a estátua do Coronel Mesquita foi violentamente retirada do pedestal, no Largo do Senado, ficando depois armazenada nas Oficinas Navais até à sua transferência para Portugal por iniciativa da Associação dos Comandos, em 1986.
A base, em pedra, tinha a seguinte inscrição, na íntegra:
Homenagem da Colónia ao herói macaense Vicente Nicolau de Mesquita. 25 de Agosto de 1849. Monumento eregido por subscrição pública e auxílio do Governo da Colónia. Foi inaugurado por ocasião das festas comemorativas do Duplo Dentenário da Fundação e Restauração de Portugal. 24 de junho de 1940. Oferta do Leal Senado
Na estátua equestre do Governador Ferreira do Amaral a inscrição era bastante idêntica, mas aposta em duas lápides, no alto pedestal situado no centro da rotunda onde estão agora o Hotel Lisboa e o edifício do Banco da China:
Homenagem da Colónia ao Governador João Maria Ferreira do Amaral. 22 de Agosto de 1849. Este monumento foi eregido por subscrição pública e auxílio do Governo da Colónia. Foi inaugurado em 24 de Junho de 1940 por ocasião das Festas do Duplo Centenário da Fundação e Restauração de Portugal. Oferta do Leal Senado.
Concluídas as negociações luso-chinesas sobre o futuro de Macau e assinada a Declaração Conjunta em 1987, as autoridades portuguesas aceitaram as “sugestões” reiteradas da parte chinesa e decidiram transferir a estátua de Ferreira do Amaral para Lisboa (Removida em Outubro de 1992), ficando colocada, em 1999, no Bairro da Encarnação (Olivais Norte), em local pouco visitado e sobre uma base demasiado baixa para a dignidade do monumento, fazendo um contraste evidente com a posição que tinha em Macau.
O nome de Ferreira do Amaral permanece em Macau numa rua, numa rotunda (onde se erguia, altiva, a estátua) e no istmo que conduz à Porta do Cerco, cujo arco, que também foi preservado, fora erguido em sua memória, em 1871.
Já a estátua de Nicolau de Mesquita depois de ter andado por Macau de armazém em armazén, aos tombos, no início da década de 1980 estava nos armazéns das Oficinas Navais. Em 1986 terá sido enviada para Portugal com a colaboração da Associação de Comandos passando a ficar localizada no Porto.
Bairro da Encarnação, Lisboa - 2008
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