terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Carnaval: dos “assaltos” aos bailes de mascarados

Aqui Bobo! Canção de Carnaval de Ádé (José dos Santos Ferreira)
Letra extraída de uma gravação original gentilmente cedida por Adé, para o programa na Rádio, “Macau ao Vivo” emitida a 1 de Março de 1987

Refrão
Aqui bôbo, olá bôbo
tá passá na basso di janéla
aqui bôbo olá bôbo
tirá máscara para nos olá

Nhónha jóvi nhónha vella
qui capaz vai junto pandegá
bôbo tudo san igual
qui murchado qui donzela
vida san unga carnaval


1.

Cára limpo cára sujo
Triste bôbo tudo iscondê
Xáxa vella logo olá
Qui podi jovi parecê

Dómino quelora é sujo
Nina nina san abusá
Mas qui sesa carnaval
Nónhóna nunca san igual

(Refrão)

Genti póbri genti rico
visti bôbo para divirti
Xáxa certo sábi olá
Qui vos tá vem pa xicuri

Tio Xai Xai com Tico Tico

olá saia manta coçá
mas qui sesa carnaval
homi homi nunca san igual

(Refrão)

Esta foi uma das muitas composições musicais em patuá, que eternizaram, o Carnaval de Macau, que como não podia deixar de ser, marcava uma das mais alegres festividades, da comunidade cristã, após o Natal e o “Reveillon”!
Eram dias de grande azáfama, para as famílias mais endinheiradas ou com grandes casarões senhoriais, pois estas iriam de certeza ser “assaltadas” pelas muitas tunas musicais e também por imensos mascarados que as seguiam, pela noite fora, onde o patuá era língua oficial e onde a cozinha macaense imperava nas mesas bem recheadas!
Como tão bem nos relata, o escritor de Macau, Henrique de Senna Fernandes, dá-nos conta de que nos longínquos anos da guerra do Pacífico as festas serviam para desanuviar e esquecer o intenso clima de tensão que se vivia no dia-a-dia. Por cá havia um mundo de milhares de refugiados e de muita miséria e fome á mistura, com os japoneses a ocuparem e a chacinarem, na vizinha colónia Britânica de Hong Kong e por toda a China continental.
Havia nesses anos, da guerra, várias agremiações em Macau, as quais não testemunhei a existência, tais como o Clube Melco ou o Negro Rubro, mas ainda participei, muitos anos mais tarde, em festas de carnaval com baile de máscaras bem animados, nos Clubes Macau e Militar, na Messe dos Sargentos, nos ginásios do Liceu e da Escola Comercial, festas que aos poucos foram passando de moda ou ficaram para o album das recordações nada mais!
Em anos mais recentes ainda foram tentados, alguns com algum êxito, bailes de mascarados com prémios para as fatiotas, mais bem conseguidas, mas os desfiles das tunas musicais pelas ruas (as “batalhas” de flores e musicais!) a grande animação que estas proporcionavam, desafiando-se umas ás outras, essas são mesmo coisa do passado, uma tradição carnavalesca, completamente perdida, que sinceramente não cremos (mas temos muita pena!) que se vá conseguir recuperar, sem que um esforço muito grande de todos o torne de novo possível, para as reanimar e reactivar!
Mas a esperança é sempre a última a morrer...!
Quem sabe, um dia ainda voltemos a ver e a ouvir, grupos de pândegos foliões de violas, guitarras, bandolins, violinos, tambores, reco-recos e de toda a espécie de instrumentos, de cordas e precursão a “esgrimirem” temas tão populares e tão esquecidos pelos jovens macaenses da actualidade, tais como o que tão bem cantava e animava plateias, o poeta e escritor, símbolo do Patuá – Adé: “Aqui Bobo”!
Texto de Luís Machado, Secretário-Geral do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Macaenses, publicado no Jornal Tribuna de Macau

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