À procura do reconhecimento internacional é o título deste artigo da autoria de Harald Bruning publicado na Revista Macau em 2009.
A classificação internacional do patuá pela UNESCO como património cultural intangível* permitiria fortalecer a identidade de Macau e elevar ainda mais o estatuto da Região Administrativa Especial de Macau no palco da cultura mundial
"O Homem age como se fosse o modelador e o dono da língua, mas na verdade é a língua que continua a ser dona do homem." Martin Heidegger (1889-1976)
No seguimento da classificação internacional do “Centro Histórico” de Macau como património mundial tangível, em Julho de 2005, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), parecem ganhar consistência os esforços para a obtenção do reconhecimento de Património Intangível para o patuá, o crioulo luso-asiático de Macau que se encontra em situação crítica.
O patuá é a língua materna híbrida, e agora quase extinta, da minoria euro-asiática habitualmente conhecida como “Macaenses”. A comunidade abrange oito mil residentes em Macau, ou 1,5 por cento da população da região administrativa especial, e cerca de 20.000 emigrantes e respectivos descendentes espalhados pelo mundo, nomeadamente em Hong Kong, Califórnia, Canadá, Brasil, Austrália e Portugal.
Por exemplo, o patuá de Macau tem semelhanças flagrantes com o crioulo de Cabo Verde no oceano Atlântico e com o papiamento luso-afro-holandês nas Caraíbas. “Con tai bai?” significa “Como está?” em papiamento e “Mi ta bon” significa “Estou bem”.
Sem os crioulos humanidade seria mais pobre
À sua maneira, as línguas crioulas têm contribuído para os fenómenos extremamente positivos do multiculturalismo, do entendimento internacional e da tolerância racial. A formação de línguas crioulas é a prova evidente de que povos com passados diferentes a nível cultural, religioso e étnico são perfeitamente capazes de construir novas formas híbridas de coexistência pacífica. É por isso que os crioulos devem ser conservados e protegidos como manifestações bem vindas do património mundial intangível. Não há dúvida de que sem os crioulos a humanidade seria mais pobre em termos de desenvolvimento cultural.
Se sabemos que o português-padrão é a língua oficial de 225 milhões de pessoas em oito países de quatro continentes, dos quais 185 milhões no Brasil, o número de falantes de crioulo português fica por adivinhar. Alguns académicos estimam que, a nível mundial, haja dois milhões de pessoas que falam crioulos portugueses, nomeadamente em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Caraíbas.
O termo português patuá deriva do francês “patois”, o qual, segundo o New Oxford Dictionary of English, significava originalmente “falar rude”. Hoje em dia, tanto em inglês como nas outras línguas europeias, “patois” designa o dialecto do cidadão comum de uma região específica, diferindo em vários aspectos da língua-padrão do resto desse dado país. Por outro lado, definiu-se dialecto como uma forma específica de uma língua “nacional”, falada num dado país ou região, como o cantonês no sul da China ou o alemão suíço, em partes da Suiça.
O patuá é conhecido entre os linguistas por diferentes designações, tais como “macaísta chapado” (“puro macaense”), “crioulo de Macau”, “macaense”, “papia cristam di Macau” (“língua cristã de Macau”) e “doci papiaçam”. Em patuá, “papia” significa “conversar”. O verbo “papia” é também usado no português de Malaca e no crioulo de Cabo Verde. O nome papiamento, falado por cerca de 330 mil pessoas nas Caraíbas, deriva, claro, de “papia”.
O patuá integra a vasta família dos crioulos portugueses constituída por: crioulos luso-africanos; crioulos luso-asiáticos que compreendem os crioulos luso-indiano (abrangendo as cidades de Goa, Damão e Diu) e luso-malaicos (nomeadamente Malaca); e os crioulos luso-americanos, falados nas Antilhas e no Suriname, incluindo o papiamento.
Os crioulos portugueses podem ser classificados por ordem geográfica (Malaca, Cabo Verde, Macau, Sri Lanka, etc.) e por línguas “substrato”, como por exemplo as línguas locais que estiveram em contacto com o português.
A origem dos crioulos portugueses remonta à época dos Descobrimentos, século XVI, quando a língua portuguesa entrou em contacto com as línguas locais na Ásia, nas Américas e em África. Como já foi referido, estes contactos linguísticos foram gradualmente formando pidgins estilo-português. Ao longo de mais de dois séculos, estes pidgins portugueses foram usados como línguas francas em certas partes da Ásia e de África.
Os linguistas descrevem pidgin (o termo deriva, aparentemente, de uma alteração chinesa à palavra inglesa business) como uma forma de linguagem gramaticalmente simplificada, com um vocabulário limitado, parte do qual oriundo das línguas “indígenas” locais, e que é utilizada na comunicação entre pessoas que não partilhem uma mesma língua. O chamado “pidgin inglês” é falado, por exemplo, na Papua Nova Guiné (“Tok Pisin”).
Os pidgins portugueses evoluíram gradualmente, ao nível da gramática e do vocabulário, para línguas nativas completas – os crioulos. Enquanto todos os crioulos portugueses têm, com alguma lógica, o vocabulário português como a sua principal fonte de palavras, as suas estruturas gramaticais já são bastante diferentes da língua portuguesa.
O patuá de Macau começou a desenvolver-se após o estabelecimento de portugueses no lado sul da península, por volta de 1557. O estabelecimento de portugueses em Malaca começou em 1511, quase meio século antes do de Macau. Em Malaca, os homens portugueses cedo começaram a casar-se com mulheres malaias, resultando isso na criação de um crioulo local, malaio-português, normalmente conhecido por “papia kristang” (“língua cristã”), que se acredita ainda ser falada por cerca de mil pessoas na Malásia, em Singapura e na Austrália (sobretudo Perth). O papia kristang é muito próximo ao malaio em termos gramaticais, mas o vocabulário deriva sobretudo do Português.
Língua ameaçada
Embora os holandeses tenham conquistado Malaca aos portugueses em 1641, o papia kristang sobreviveu enquanto língua materna activamente falada naquela região. O crioulo malaio-português teve uma forte influência no desenvolvimento do patuá de Macau no século XVII, especialmente no que toca ao seu riquíssimo vocabulário malaio. A partir dos finais do século XVI, colonos euroasiáticos portugueses oriundos de Malaca “transplantaram” o seu crioulo para Macau.
Ao contrário da sua irmã mais velha de Malaca, o patuá é, actualmente, falado por escassas dezenas de pessoas, sobretudo mulheres com idades superiores a oitenta anos, em Macau e Hong Kong, e talvez alguns milhares (ou centenas, dependendo das estimativas) entre a diáspora macaense espalhada pelo mundo, mas sobretudo na da Califórnia. O patuá é, sem dúvida, uma língua criticamente ameaçada. Alguns descrevem-na, com dramatismo, como uma “língua que está a morrer” ou como “língua moribunda.”
O estabelecimento de portugueses em Malaca, incluindo o seu crioulo malaio-português, serviu de base avançada para o subsequente estabelecimento de portugueses em Macau na segunda metade do século XVII. É por isso que o patuá tem uma forte influência do malaio, além de influências mais ou menos significativas do cantonês, de várias línguas indianas, do inglês, do japonês, espanhol e de várias outras línguas europeias e asiáticas. Num certo sentido, o patuá é um “cocktail” linguístico de línguas europeias e asiáticas que de uma forma ou de outra tiveram impacto no desenvolvimento social e comercial de Macau entre os séculos XVI e XIX.
Múltiplas influências
O patuá conheceu o seu auge como principal língua de comunicação entre os residentes euro-asiáticos de Macau entre os séculos XVII e XIX. No entanto, mesmo durante esse período, o número total de falantes era relativamente pequeno, provavelmente nunca passando de poucos milhares de pessoas em qualquer altura.
A forte influência do malaio no patuá também se deve ao facto de os primeiros colonos portugueses de Macau terem procurado mulheres primeiro em Malaca, além da Índia e do Japão, e não na China continental. Entre as palavras malaias adoptadas pelo patuá encontram-se “sapeca” (moeda) e “copo-copo” (borboleta). O vocabulário do patuá absorvido de línguas indianas inclui “fula” (flor) e “lacassa” (vermicelli).
A ocupação britânica de Hong Kong a partir de meados do século XIX resultou na inclusão de vocabulário inglês no patuá, como por exemplo “adap” (“hard-up”, ter muito pouco dinheiro) “afet” (“fat”, gordo).
Ao longo dos séculos, da mesma forma que qualquer outra língua ou dialecto, o patuá passou por mudanças ao nível da expressividade, da gramática, da sintaxe e do vocabulário. O cantonês influenciou de sobremaneira o patuá desde os finais do século XIX, à medida que mais e mais macaenses iam casando com mulheres chinesas de Macau e da região do Delta do Rio das Pérolas. Entre as palavras do patuá derivadas do cantonês encontram-se “amui” (rapariga) e “laissi” (presente pecuniário).
É pouca a investigação científica feita sobre a gramática do patuá, nomeadamente no que concerne às suas diferentes fases de desenvolvimento entre os séculos XVI e XX. Um dado assente é que a sua estrutura gramatical incorpora elementos europeus e asiáticos. Tal como acontece em outras línguas asiáticas, não existem artigos definidos e a utilização de pronomes e adjectivos possessivos é peculiar. A palavra “io” significa “eu” e “meu”. A palavra “olitro-sua” significa “deles”. O patuá, por outro lado, não utiliza a inflexão verbal do português. “Io sam”, por exemplo, significa “eu sou”, e “ele sam” significa “ele/ela é.” A “língua doce” de Macau também contém partículas específicas para demonstrar acções em progresso (“ta”) e acções terminadas (“ja”). Há nomes plurais (“casa-casa”= casas) adjectivos plurais (“china-china” = várias pessoas chinesas ou coisas chinesas), e advérbios plurais (“cedo-cedo” = muito cedo).
Nos finais do século XIX e início do século XX, o patuá ainda era falado como língua materna por alguns milhares de pessoas em Macau, Hong Kong e outros locais. Nessa altura, o patuá era conscientemente diferenciado do português “metropolitano” pelos seus falantes. No princípio do século XX, o patuá também era utilizado de forma muito frequente com intuitos “satíricos”, nomeadamente em manifestações de humor visando figuras da autoridade, por exemplo escarnecendo de funcionários públicos originários de Portugal.
A determinação das autoridades portuguesas, sobretudo na recta final do século XIX, em ensinar aos macaenses o português “correcto” terá sido – talvez inadvertidamente – a sentença de morte ao futuro do patuá enquanto língua comunitária activamente falada. Gradualmente, a alta sociedade macaense foi abandonando o patuá no início do século XX, dado que começaram a entendê-lo como a língua “da classe baixa” e “português primitivo”. O triste é que o patuá, que tem uma sonoridade melódica e doce, nunca atingiu o estatuto de uma língua cabal na sua vertente escrita, apesar de alguns escritores, como o já desaparecido – e muito amado – José (Adé) dos Santos Ferreira, terem escrito lindos poemas na “língua doce”. Mesmo hoje, o patuá não tem uma ortografia completamente definida. Para além disso, também nunca gozou de estatuto oficial – ao contrário do seu congénere caraibenho papiamento.
Um poema em patuá
Nhonha na jinela – A moça na janela
Co fula mogarim – Com uma flor de jasmim
Sua mae tancarera – Sua mãe é uma chinesa pescadora
Seu pai canarim – Seu pai é um Indiano Português
Apesar de ter uma história de cinco séculos, e de ser certamente uma das línguas híbridas mais interessantes do mundo, o patuá foi alvo de muito pouca investigação. A excepção mais notável é a já falecida filologista de Macau Graciete Nogueira Batalha, que publicou uma série de estudos sobre o patuá, que ela considerava e descrevia como o “dialecto macaense”. Graciete Batalha faleceu há dez anos. Alan Baxter, um linguista australiano fluente no crioulo português-malaio de Malaca, o papia kristang, está a investigar o patuá no âmbito do seu trabalho com o Departamento de Português da Universidade de Macau. O patuá deve ser um dos crioulos menos investigados do mundo.
O patuá nunca foi ensinado como disciplina ou cadeira em nenhum estabelecimento de ensino de Macau. Os macaenses aprendiam-no com os pais, principalmente a mãe. Numa abordagem literal, pode dizer-se que o patuá funcionou genuinamente como a língua materna da comunidade macaense. Por outras palavras, ao longo da sua longa história o patuá sempre foi uma língua sobretudo familiar, que nunca foi alvo de um reconhecimento oficial por parte das autoridades coloniais portuguesas. Na verdade, muitos dos professores enviados de Portugal para Macau empenharam-se bastante em “apagar” o patuá, uma vez que o viam como “português mal falado.” Infelizmente, quase conseguiram atingir o seu objectivo.
O patuá atingiu o estatuto crítico de língua ameaçada. É necessário correr contra o tempo para manter viva a “língua doce” de Macau. O patuá é, afinal, parte integrante da alma multicultural de Macau e do seu incomensurável património intangível sino-português. É preciso agir com urgência para parar a maré, caso contrário o patuá desaparecerá em pouquíssimo tempo e juntar-se-á à lista das línguas extintas, que deploravelmente não pára de crescer.
Para além de algumas investigações académicas, na prática pouco tem sido feito para sensibilizar o público para a existência muito frágil e ameaçada do patuá. Uma das louváveis excepções foi a publicação, em 2001, pelo Instituto Internacional de Macau, instituição privada, de um glossário de Patuá-Português. A edição foi orientada por Miguel Senna Fernandes e Alan Baxter.
Miguel Senna Fernandes, advogado macaense e entusiasta do patuá, disse-me uma vez que o patuá “ainda não está morto, mas a sua forma arcaica já morreu”, acrescentando que o patuá “moderno” pode ser considerado “um dialecto derivado do patuá arcaico”. Senna Fernandes sublinhou ainda que o patuá “moderno” foi fortemente influenciado pelo cantonês, especialmente desde o início do século XX, considerando que “é um milagre” que o patuá tenha conseguido sobreviver durante quatro séculos em Macau, uma vez que, lembrou, não podemos ignorar que a “cultura chinesa é muito absorvente.”
“Vamos reavivar uma memória quase perdida”, nota Senna Fernandes sobre o esforço que os fãs do patuá estão a desenvolver para garantir a sobrevivência da “língua doce” de Macau que, nunca é demais dizê-lo, é um dos compoentes da sua riquíssima História. Alguns destes fãs propuseram a criação de um centro de estudos do patuá em Macau. De acordo com a proposta, o centro não só empreenderia investigações linguísticas e antropológicas, como, e isto é o mais importante, ofereceria cursos de língua – a um nível básico – a todas as classes sociais e diferentes gerações de interessados.
O patuá conheceu um regresso triunfante aos palcos no início da década de noventa do século XX, quando o Grupo de Teatro Doci Papiaçam di Macau foi formado e lançado pelos mais entusiastas dos seus defensores. Julie de Senna Fernandes, que morreu em 2005 e esteve, em 1993, entre os pioneiros desta iniciativa de formar um grupo de teatro amador, disse-me uma vez que o “poder do teatro” era a “melhor forma pública” de preservar a “única língua e identidade da nossa comunidade, que muito, muito poucos de nós ainda falam mas que muitos ainda percebem.”
Afinal, língua e identidade são fenómenos intimamente ligados na existência humana.
A boa notícia é que o patuá assume finalmente um carácter de potencial candidato ao título de Património Cultural Intangível da Humanidade, conferido pela UNESCO.
De acordo com a UNESCO, o património cultural imaterial, também muitas vezes referido como o “património cultural vivo”, manifesta-se, inter alia, em tradições orais, expressões e línguas – como o patuá. O património cultural intangível confere a pessoas e comunidades um sentido de identidade e preservação, continuidade. A protecção do património cultural intangível mantém, desenvolve e promove a diversidade cultural e a criatividade humana.
A Convenção para a Protecção do Património Histórico Intangível foi aprovada em Paris em 2003 (ver artigo nesta edição). Entrou em vigor em 2006, quando a Roménia se tornou no trigésimo estado membro da UNESCO a ratificar o documento. A China ratificou-o em Dezembro de 2004.
Tal como ocorreu com a candidatura – coroada de sucesso – de Macau à classificação como Património Mundial da UNESCO do seu espólio histórico arquitectónico, a candidatura do patuá a Património Intangível Mundial tem de ser submetida pelo Governo nacional do país a que pertence – a China. Numa atitude bastante prometedora, sete associações macaenses juntaram forças, em Outubro de 2006, para promover a candidatura do patuá. O Chefe do Executivo da RAEM, Edmund Ho Hau Wah, e representantes do Comissariado dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China assistiram, no afamado restaurante Portas do Sol, à cerimónia que comprometeu as associações com o apoio ao projecto “património intangível’, que inclui o estabelecimento de uma comissão de coordenação dos trabalhos.
Património vivo
A UNESCO descreve o património cultural intangível como um “património vivo” que é a “essência da nossa diversidade cultural, e a sua preservação como a garantia de uma criatividade contínua.”
Não restam dúvidas de que o patuá é uma língua em risco de extinção e que já devia ter sido colocada sob assistência há muitas décadas atrás. Está, agora, no seu leito de morte. Tudo o que possa ser feito deve ser feito para garantir que a nossa “língua doce” seja mantida no património “vivo” do mundo.
De acordo com a UNESCO, mais de metade das seis mil línguas existentes no mundo estão em risco de extinção. E o preocupante é que 96 por cento dessas seis mil línguas são faladas por apenas quatro por cento da população mundial. Segundo a média, a cada semana que passa uma destas línguas desaparece. Qualquer pessoa que ame Macau deve ajudar no esforço que está a ser empreendido para garantir que o patuá não se junte à cada vez maior lista de línguas mortas.
A língua é a maior das criações da mente humana e cada uma delas, individualmente, incluindo crioulos como o patuá, são, à sua maneira, a prova viva da fantástica capacidade linguística da humanidade. Como disse o filósofo alemão Martin Heidegger, e muito correctamente, “a língua é que continua a ser dona do homem”.
Qualquer língua, tanto as faladas por muitos milhões de pessoas como as faladas por alguns milhares ou mesmo apenas centenas, reflecte, de facto, uma perspectiva do mundo, funcionando como o veículo de valores sociais e expressões culturais. O patuá não é excepção.
Macau devia ter um orgulho imenso pelo facto de ter a sua própria língua local, algo que, por exemplo, Hong Kong já não tem. (O pidgin de Hong Kong morreu no início do século XX após uma curta existência). O estatuto de Macau enquanto cidade de cultura e um dos mais antigos pontos de encontro entre o Oriente e o Ocidente clama por uma vigorosa “cultivação” da sua língua macaense: o patuá.
O patuá também merece, claro, ser incluído no livro vermelho da UNESCO referente às línguas em risco de extinção, pois tal seria uma forma de aumentar a consciência pública para a sua existência ameaçada.
Para além de tudo isto, o patuá é também uma das características que fazem de Macau um lugar único. É por isso que todos deveríamos trabalhar para garantir que jamais o patuá seja acrescentado à triste lista de línguas mortas do mundo.
A classificação internacional do patuá pela UNESCO como património cultural intangível permitiria fortalecer a identidade de Macau e elevar ainda mais o estatuto da Região Administrativa Especial de Macau no palco da cultura mundial. É necessário, porém, agir com sentido de urgência para assegurar que o estado de saúde precário do patuá não passe de ameaçado para morto antes da UNESCO receber a respectiva candidatura, algo que poderá demorar anos a finalizar.
N.A. - O meu interesse pelas línguas crioulas baseadas no português surgiu durante os meus estudos universitários, em Munique, na década de setenta. Este artigo é baseado numa série de peças jornalísticas que tenho escrito desde o início dos anos noventa e que já foram publicados em vários jornais e revistas em inglês e chinês.
PS: Parte das ideias expressas no meu artigo foram inspiradas em The Cambridge Encyclopedia Of Language de David Crystal, 2ª edição, 2001.
Reprodução integral do texto. As imagens aqui apresentadas não pertencem ao artigo original.
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