Capitão com bastante experiência, José Luís do Rego nunca antes navegara rumo ao Oriente até que em 1820 - há 204 anos - um contrato fá-lo empreender uma viagem no bergantim Trocador, com destino a Macau. Quem custeou a viagem foram os "caixas do Real contracto do Tabaco e Saboarias", ou seja, as pessoas que naquela época tinham obtido o exclusivo dessa produção e comércio - tabaco e sabão - junto da monarquia.
"Sahi de Lisboa em vinte e quatro de Janeiro de 1820 no Bergantim Trocador de que são Proprietarios os Ill. Srs Contractadores e Caixas do Real Contracto do Tabaco e Saboarias, Domingos Ferreira Pinto, Filhos, e Teixeira, da Cidade do Porto, os quaes me dérão as suas ordens para eu seguir a minha derrota d'aquelle Porto de Lisboa em direitura a Macáo."
No regresso de Macau o capitão José Luiz do Rego publica um pequeno livro de apenas 32 páginas - publicado no Porto em 1822 - dedicado ao Conde de Cêa (Ceia)*, onde relata a viagem de ida e volta - são sobretudo notas de navegação com muitas recomendações para quem viesse a fazer tal viagem no futuro - sem qualquer referência ao tempo que esteve em Macau e ao objectivo da viagem.
Importa referir que o tabaco era uma grande indústria na época em Portugal. Só depois de um regime de exclusividade o sector foi liberalizado surgindo no século 19 duas grandes empresas: a Companhia do Tabaco e Sabão da Boa Vista (Porto) e a Companhia da Fábrica de Tabacos de Xabregas (Lisboa) que se viriam a fundir formando a Companhia Nacional de Tabacos.
Voltando à viagem... José Luiz do Rego partiu de Lisboa no bergantim Trocador a 24 de Janeiro de 1820. Bergantim é uma embarcação do tipo da galé, de um a dois mastros e velas redondas ou vela latinas.
A viagem não podia ter começado da pior maneira já que ao oitavo dia de viagem foi atacado por um navio "corsário Insurgente". Com a ajuda da corveta Princeza Real rumou a Pernambuco (Brasil) para consertar a embarcação. Por ali ficou durante dois meses tendo então chegado de Macau o navio s. Domingos "com 84 dias de viagem" uma "prova de que até alli a Monção era favorável para quem vinha e não para quem hia".
A 11 de Maio de 1820 partiu de Pernambuco tendo demorado um mês até chegar ao Rio de Janeiro retomando depois a viagem. Ao fim de cerca de três meses estava perto de Macau e já na Ilha do Grande-Ladrão recorreu aos serviços de uma lorcha cujo capitão o conduziu até ao "Canal que finda na Ilha Lantam, onde atravessámos para Macáo, e fundiámos em Cáo às 12hr da noute deste mesmo dia 18 de Setembro".
No dia seguinte Rego vai numa "loxa (lorcha) para a terra dar entrada, e fallar ao Patrão Mór, para este me trazer o navio para cima" mas como este estava ocupado com outro navio foi preciso esperar até ao dia 21 para o bergantim Trocador "ancorar defronte da Alfândega" em Macau:
"Alli ficou ancorado o Navio em Cáo por tres dias até que o Patrão Mór o foi buscar no primeiro jazigo que o tempo deo e o veio ancorar defronte da Alfandega no dia 21 do dito mez de Setembro em boa linha d'agoa, boa tensa lama, ou vasa em fundo de 4 braças."
Uma das conclusões do capitão é que "a verdadeira sahida de Lisboa para Macao he no fim de Março para chegar à China em Agosto".
José Luiz do Rego acaba por ficar em Macau cerca de cinco meses. porventura para tratar de negócios e à espera das melhores condições climatéricas para voltar a Portugal. Partiu de Macau no regresso a Lisboa a 7 de Fevereiro de 1821 e dois meses depois, a 7 de Abril, voltava a dobrar o Cabo da boa Esperança. Rumou depois à ilha de Sta. Helena - a meio do oceano Atlântico frente à costa oeste do continente africano - antes de seguir para o destino final, Lisboa.
* título nobiliárquico criado por D. João VI de Portugal a favor de D. António Manuel de Meneses, Par do reino e Capitão de Fragata da Armada Real em 13 de Maio de 1820.
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