A propósito de notícias desta semana publicadas em Macau relativas ao Pátio do Amparo e às pesquisas arqueológicas levadas a cabo nos últimos 3 anos para tentar encontrar vestígios de uma antiga alfândega chinesa naquela local...
Importa clarificar que ao contrário do que tem sido escrito na imprensa local (não só por este dias mas também em 2021 quando se noticiou as escavações arqueológicas), a extinção da alfândega não ocorreu em 1844 a mando do gov. Ferreira do Amaral pois nesse ano ele não era sequer governador do território.
Após a nomeação, Ferreira do Amaral partiu de Lisboa rumo a Macau em Janeiro de 1846 tendo chegado em Abril desse ano.
Tendo por base um decreto publicado em Portugal em 1845 que visava tornar Macau num porto franco (para fazer face ao que já acontecia em Hong Kong), Ferreira do Amaral ordenou a abolição/encerramento das alfândegas chinesas (denominadas hopu) existentes no Porto Interior em Fevereiro e Março de 1849.
Em vários mapas do final do século 18 e início do século 19 -reprodução parcial de dois neste post - surgem designados nas legendas como "costum house", ou seja, postos alfandegários.
Nos "Subsídios para a história de Macau", de Bento da França, publicado em 1888, refere-se: "a alfandega china achava-se situada no meio do bazar - vasta área da cidade onde ficava o Pátio do Amparo, habitada maioritarimente por chineses onde dedicavam-se sobretudo ao comércio - onde se incluía e não era facil aos negociantes subtrahirem-se á continua espionagem d'aquella casa fiscal sem que incorressem no desagrado e revindicta dos mandarins. Analysadas as difficuldades que se antolhavam compulsou o governador as circumstancias e sem desanimar de levar a cabo a sua empreza foi pouco a pouco empecendo os meios de acção ao celebre ho pu, isolou-o, isto sempre no intento de encontrar occasião azada para lhe vibrar golpe mortal. Tão efficazes foram as diligencias de Amaral que a breve trecho o ho pu só se conservava para não abandonar o campo tendo seu chefe de dar-se por vencido. (...) A despeito de tudo o ho pu continuava de pé ostentando todas as insignias d'aquella ordem de estabelecimentos na China o pau da bandeira ainda se erguia altivo o casarão enfeitava se com bandeirolas taboletas galbardetes e mais signaes distinctivos de auctoridade no celeste imperio. Esta resistencia passiva irritava sobremaneira o governador que a 13 (de Março de 1849) ordenou ao primeiro interprete da colonia o distincto sinologo João Rodrigues Gonçalves que procedesse à definitiva expulsão da alfandega china. Em cumprimento d'esta determinação e chegado ao local do ho pu intimou o referido funccionario aos chins que ali encontrou a ordem de que era portador estes entrouxaram a roupa e abandonaram sem resistencia a casa fiscal. Em seguida á debandada dos chinas do ho pu participou Gonçalves ao governador o que era succedido não lhe occultando a existencia do mastro da bandeira e mais insignias. A tal participação respondeu Amaral por escripto as seguintes palavras: 'deite abaixo'. A ordem foi immediatamente posta em pratica por quatro negros da extincta alfandega portugueza de Macau os quaes de machado em punho derrubaram o mastro e depois se foram ao barracão."
Diversas fontes indicam que para além dos postos alfandegários existiam também edifícios que serviam de residência ao mandarim que supervisionava esta actividade, numa vasta área na zona dos Pátio da Mina, Pátio do Amparo e Rua de N. Sra. do Amparo - 關前後街, que em documentos dos finais do século 19 é designada Tai-kuan-háu-cae 大關後街 Da Guan Hou Jie, ou seja, "Rua das traseiras da Grande Alfândega".
Detalhe de um mapa de 1792: "Custom House" é a legenda do nº 30 |
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