Nos cerca de 8 meses que viveu em Macau no ano de 1839, Auguste Borget fez vários desenhos e pinturas do templo de A-Ma (litografia acima), localizado à entrada do Porto Interior e onde o pintor ia praticamente todos os dias. Uma dessas vezes foi a 2 de Maio de 1839. No seu diário escreveu:
É tão difícil descrever objectos chineses em língua europeia, que ainda não me atrevi a falar-vos do grande templo de Macau – a maior maravilha que já vi. Eu seria obrigado a inventar palavras para transmitir uma ideia adequada de objetos aos quais não há nada semelhante na Europa e para os quais, portanto, só posso ter comparações imperfeitas.
Quase diariamente visito este templo - cujo nome chinês, Neang-ma-ko, significa Antigo Templo da Senhora -, seja pela manhã, quando tudo é sombra, ou ao entardecer, quando cada pedra, árvore e telhado reflectem o sol, ou ao meio-dia, quando o calor extremo me obriga a procurar a sua sombra grata. A cada hora, e sob todos os aspectos, a vista do templo é impressionante e, embora longe de ser imponente pela sua magnitude, atrai pela delicadeza das suas proporções e, sobretudo, pelo seu carácter eminentemente chinês.
A cada visita observo sempre cenas interessantes e alguns detalhes novos que antes me haviam escapado. Tenho a certeza de que encontrarei sempre algum ponto de vista atraente e pitoresco, e de facto poderia formar um álbum muito curioso, apenas a partir do recinto do templo e do espaço envolvente. Visto como um objeto de arte chinesa, tudo na disposição do edificado é admirável; a sua disposição, a sua situação pitoresca entre rochas e árvores, bem como os numerosos ornamentos que o enriquecem. É certamente o objecto de estudo mais interessante que um europeu poderia escolher. Estou certo de que em nenhum outro lugar da China se pode ver um edifício mais notável, e estou muito certo disso já que é tão superior a tudo o que já vi em outros lugares."
Sem comentários:
Enviar um comentário