terça-feira, 14 de setembro de 2021

Igreja e Seminário Nossa Sra. do Amparo

A igreja e seminário de Nossa Senhora do Amparo foi construída por volta de 1633 "para instrução de catecúmenos e conversão de chineses". É das menos conhecidas da história de Macau já que acabaria destruída e não foi reconstruída. O nome do edifício remete ainda para a Rua, Calçada e Pátio do Amparo.
Calçada do Amparo
Segundo o Padre Manuel Teixeira esta rua "começa na Rua da Tercena, próximo do Pátio das Calhandras e acaba na Rua dos Mercadores, onde entronca, juntamente com a Rua dos Ervanários. Com a designação de Amparo existem, ainda, uma Calçada e um Pátio. A Calçada do Amparo parte da Rua de S. Paulo e termina na de Nossa Senhora do Amparo. O Pátio situa-se junto à calçada. Tal como a Rua da Tercena, a de Nossa Senhora do Amparo era marginal e só tinha casas do lado do Monte. Neste local existiu a Igreja de Nossa Senhora do Amparo, que foi edificada em 1633."

Consultando outros documentos pode ler-ser: 
"A 29-11-1578, o P. Mateus Lopes, S. J., diz que havia em Macau cinco igrejas, em que se dizia missa diária; a 6-X-1589, o Cap. Diogo Segurado informa que «haviam em Macau oito igrejas e hum spiritual (Hospital). Eram a Catedral, S. António, S. Lourenço, N. Sra. da Visitação da S. Casa da Misericórdia e as dos jesuítas, dos franciscanos, dos agostinhos e dos dominicanos. Em 1622 os Agostinhos levantaram a ermida da Penha; em 1634, o P. André Palmeiro, S. J., a igreja de N. Sra. do Amparo para a conversão dos chineses."
Numa outra fonte fica-se a saber que "em 1747, vieram os mandarins a Macau a arrasar a igreja de N. Sra. do Amparo, destinada aos novos cristãos chineses; o Senado consentiu; mas o bispo, seguido pelos jesuítas, opôs-se tenazmente e a igreja não foi destruída..." O bispo referido era D. Fr. Hilário de St.ª Rosa.
Junto a esta igreja (que ardeu) ficava o páteo da Mina que mais não seria do que um túnel que permitia o acesso fácil e rápido dos clérigos ao Porto Interior em caso de fuga. Em chinês a rua designa-se por "rua por trás da alfândega".
A igreja ficaria ao nível da praia, com a frente na rua de N. Srª do Amparo e as traseiras, ou parte delas, encostadas ao talude de rocha (onde, a nível superior, se desenvolve a rua de Santo António). Nesta rocha e por trás da igreja foi aberto um túnel que dava acesso ao colégio de S. Paulo e que permitiria a fuga dos padres em caso de emergência ou necessidade. Desapareceu a igreja, ficando a mina e restam ainda o nome da rua e o do páteo.
Posteriormente a área foi assoreando e ali foi construído o chamado hopu grande, na praia pequena, isto é, a alfândega, tendo ficado avançada em relação à rua do Amparo, razão porque o nome em chinês desta artéria significa "rua atrás da alfândega".
Voltando aos primórdios...
Desde o princípio do estabelecimento dos portugueses em Macau, os jesuítas tentaram estabelecer Missões no interior da China e catequizar os chineses, aprendendo antes, evidentemente, a língua deles. Os Pes. Barreto, Vilela, Ribeira, Peres e Teixeira nada conseguiram, apesar de chegarem até Cantão, onde pregaram, algum tempo, o Evangelho.
Em Junho de 1579, o Pe. Miguel Ruggieri, funda, no ângulo formado, hoje, pela Travessa e pela Rua do Amparo, o catecumenado e capela de S. Martinho de Tours, obras que o Pe. André Palmeiro desenvolveu, erguendo, em 1634, para os chineses a igreja de Nossa Senhora do Amparo ou da Protecção. O cura desta igreja chamava-se "Pai dos Cristãos" e gozava de grande prestígio entre as autoridades portuguesas e chinesas.
Em Abril de 1747, porém, os manchús atiçaram os mandarins limítrofes de Macau a encerrar e demolir a igreja que, ao que parece, tirava o "fung sôi" (風水) ao edifício do mandarinato, situado nas imediações.
 
A partir da segunda metade do século XIX, Macau começou a sofrer importantes alterações da sua fisionomia em todas as frentes. Aterros sucessivos conquistavam o Porto interior fazendo com que o cais avançasse mais 500 metros desde a rua do Amparo até praticamente aos actuais limites.
A Rua do Amparo tem início na Rua da Tercena, próximo do Pátio das Calhandras e acaba na Rua dos Mercadores, onde entronca, juntamente com a Rua dos Ervanários como se pode verificar nesta fotografia (acima) de 1973 da autoria de Karsten Petersen.
Em baixo um poço na Rua de N. Sra.do Amparo.

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